A ORDEM DO SOL NASCENTE

Eliseu Roberto de Andrade Alves

1 de agosto de 2024

Nas Olimpíadas da vida, Eliseu Alves recebeu a Medalha de Ouro.

Silvestre Gorgulho

O final do mês de julho foi marcado por três eventos singulares. O primeiro deles foi a cerimônia da Abertura dos Jogos Olímpicos em Paris, com muitos prós e contras, mas onde sobressaíram os shows de luzes da Torre Eiffel, o desfile das 205 delegações pelas águas do rio Sena e a voz, a música e o podium onde a deusa Céline Dion operou o milagre de emocionar o mundo. O segundo evento foi o título de Patrimônio Natural da Humanidade concedido pela UNESCO ao Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses – Lugar de ver Deus pelas dunas e lagoas de Barreirinhas e Atins, no Maranhão. Mas eu considero um terceiro evento e, para a minha aldeia, muito mais importante. Sim, de minha aldeia, em Brasília, vejo o universo e sinto como um brasileiro iluminou o mundo, proporcionando ao Brasil uma revolução pacífica e fundamental para gerar riquezas e alimentar os habitantes da Terra. O terceiro evento é nada menos do que a maior homenagem que o Japão presta a um Herói: a ORDEM DO SOL NASCENTE concedida ao cientista mineiro Eliseu Roberto de Andrade Alves, um dos fundadores da EMBRAPA.

 

QUEM É ELISEU ALVES e SEU LEGADO.

Eliseu Roberto de Andrade Alves é daqueles brasileiros que tem uma obra muito mais conhecida do que a si próprio. Sua obra mais conhecida é ter concebido e participado da criação da EMBRAPA, onde realizou o sonho de qualquer instituição de pesquisa: formar seus recursos humanos.

Na década de 1970, Eliseu mandou para as melhores universidades do mundo cerca de 2.500 jovens agrônomos, economistas rurais e veterinários recém-formados aqui no Brasil e trazendo-os de volta com títulos de Mestrado e P.h.D. Este foi o segredo de sucesso da Embrapa.

ELISEU ALVES, 93 anos, recebeu uma homenagem do Imperador do Japão. O embaixador Teiji Hayashi fez questão de ir à sua residência para entregar a ORDEM DO SOL NASCENTE, honraria prestada pelo Japão a quem contribuiu com a Ciência, a Cultura, a Arte e prestou serviços importantes à Humanidade.

 

A REVOLUÇÃO VERDE TROPICAL

Existem dois nomes no Brasil responsáveis pela Revolução Verde e pelo desenvolvimento de tecnologias agropecuárias para ocupação do Cerrado e outras terras tropicais: o ex-ministro Alysson Paolinelli e seu parceiro de fé e trabalho, Eliseu Alves, fundador, diretor e ex-presidente da Embrapa.

Mas Eliseu Alves deixa outros legados: ele criou o conceito do distrito de irrigação, pelo qual os projetos públicos passaram a ser administrados pelos irrigantes. Como presidente da Codevasf (Governo José Sarney) concebeu e implantou o programa de produção e exportação de frutas em Petrolina/Juazeiro e negociou empréstimos no exterior que permitiram uma expansão de mais de um milhão de hectares de área irrigada.

Em 1985, recebeu o título de ‘Doctor Honoris Causa’, conferido pela Universidade de Purdue (EUA) onde fizera o doutorado.

Em maio de 2017, a Universidade de Viçosa lhe conferiu o mesmo título.

O embaixador Teiji Hayashi entrega a comenda ao ex-presidente da Embrapa, Eliseu Alves.

 

FRASES DO ELISEU ALVES

 

– “A Ciência liberta o homem da ignorância, da pobreza, da doença e da dor”.

 

– “Cercear o progresso do conhecimento é um erro lamentável, além de pouco prático: sempre haverá algum país onde a liberdade do cientista é respeitada, e esse país vai pular à frente dos demais na produção de riqueza e do bem-estar de seu povo”.

 

– “O país que não investe em Ciência, condena seu povo a sobreviver com o suor de seu rosto. A Ciência democratiza e a tecnologia liberta”.

 

– “A Revolução Verde brasileira, na década de setenta, sustenta até hoje o crescimento econômico do Brasil e coloca o País na rota dos grandes exportadores mundiais de grãos”.

 

– “Fazer ciência é apenas mais uma maneira de exercitar a fé. Nunca vi na ciência qualquer possibilidade de negação da fé. Entendo que investigar os fenômenos físicos e sociais nada mais é que conhecer e revelar os mistérios do fazer de Deus”.

A família Alves reunida: Nobuyuki Kimura, representante da JICA, Eloísa Moreira Alves com os bisnetos Maria Rita e Antônio. O comendador Eliseu está ao lado do embaixador Teiji Hayashi. Depois, Renata Gerhein e Noeli Moreira da Andrade.

MENSAGEM DO PROFESSOR JOSÉ PASTORE A

O professor JOSÉ PASTORE, 89 anos, é Doutor Honoris Causa em Ciência e Ph. D. em sociologia pela University of Wisconsin (EUA). Professor titular da Faculdade de Economia e Administração e da Fundação Instituto de Administração, ambas da Universidade de São Paulo, Pastore é pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas e consultor em relações do trabalho e recursos humanos. Professor Emérito “Guerreiro da Educação” do Centro Integração Empresa Escola e jornal O Estado de S. Paulo, José Pastor recebeu a “Ordem do Mérito do Trabalho”, “Ordem do Mérito da Justiça do Trabalho” e “Ordem do Rio Branco”.

A MENSAGEM DE JOSÉ PASTORE

ELISEU ALVES:

Fiquei muito feliz com a linda e merecida homenagem do Governo do Japão a você. Gosto muito do Japão. É um país sério na educação, na ética, na tecnologia e tantas outras áreas. E, é claro, gosto muito de você que, igualmente, tem uma educação primorosa, uma ética maravilhosa e é um inovador de mão cheia nas áreas de tecnologia e instituições.

Vi as fotos e o vídeo. É uma medalha belíssima e raríssima. Que orgulho de ser seu amigo há mais de 60 anos! Você e a Eloisa sempre me encantaram pela sua religiosidade que está acima das suas diferenças. E até hoje me encantam por isso.

Tendo passado por um dos maiores sofrimentos dos seres humanos, quando os pais perdem um filho, a sua fé não se abalou. Ao contrário, ficou mais forte. Maravilhoso! Não sei se você teve oportunidade de dizer ao embaixador do Japão que os nossos sonhos para uma modernização tecnológica da agricultura brasileira começaram em 1970-1971 com a leitura de textos brilhantes de um grande japonês: Yujiro Hayami que, juntamente com Vernon Ruttan, desenvolveram a “Teoria da Inovação Induzida”.

Quando o livro foi lançado em 1971 (“Agricultural Development: an International Perspective”), já tínhamos lidos vários ‘papers’ deles. O modelo se baseava na ideia central de que as inovações tecnológicas e institucionais eram endógenas como respostas às mudanças dos preços relativos dos fatores de produção.

Quem diria que dessa simples ideia, nasceria uma EMBRAPA, que transformou a agricultura brasileira e tornou o Brasil um grande exportador de alimentos. Mas, lembro bem que você, caro Eliseu, foi a mente que melhor entendeu aquela teoria e que melhor explicou a todos nós.

Muitos amigos ajudaram a tocar a EMBRAPA – Irineu Cabral, Gastal, Almiro Brumenchein – mas, ninguém, exceto você, tinha em mente, de modo claro, o norte que era dado por aquela teoria. Com a sua lógica sempre rigorosa, você foi o nosso líder.

Depois, na Diretoria e na Presidência da EMBRAPA, apesar de toda a complexidade administrativa que isso envolveu, você nunca perdeu o rumo teórico e sempre trabalhou dia e noite para manter o projeto na trilha certa. Poucos notaram isso.

O Brasil deve a você o vigor atual da nossa economia, tendo o agro como carro-chefe. É impressionante a diferença que você fez quando veio a este mundo. Foi um dos melhores presentes que Deus deu a nós brasileiros.

É devido ao alto nível de educação e de conduta ética que o governo do Japão percebeu tudo isso e decidiu lhe prestar essa merecidíssima homenagem.

O governo do Brasil ainda lhe deve uma homenagem igual ou maior, e espero, sinceramente, que nossos governantes reconheçam que você foi um administrador diferente porque com inteligência, competência e liderança formou gerações que por sua vez transformaram o Brasil e o colocaram na posição de líder mundial que tem hoje.