Brasília

Pioneiro no Brasil, Hospital da Fauna Silvestre do DF já prestou mais de 500 atendimentos

12 de agosto de 2024

Unidade, que também funciona como centro de reabilitação, foi inaugurada em março deste ano; atualmente, cerca de 30 animais, entre eles um filhote de veado-catingueiro e uma pequena onça-parda, são tratados no local

Por Jak Spies, da Agência Brasília | Edição: Chico Neto

O Distrito Federal conta com um modelo único de atendimento a animais silvestres, um dos primeiros no Brasil. É o Hospital e Centro de Reabilitação da Fauna Silvestre (Hfaus) do DF, que já prestou mais de 500 atendimentos desde que foi inaugurado, em março deste ano. A unidade fica em Taguatinga.

Filhote de onça-parda é um dos pacientes do hospital, referência em nível nacional do segmento | Fotos: Geovana Albuquerque/Agência Brasília

Atualmente, o Hfaus conta com cerca de 30 animais internados, entre eles um filhote de veado-catingueiro, um filhote de onça-parda, um tamanduá- bandeira, um lobo-guará, um mico e dois saruês. Desde março, já passaram por lá 121 mamíferos, 23 répteis e 356 aves de espécies variadas. A unidade é referência no atendimento de animais silvestres e funciona com uma parceria entre o Instituto Brasília Ambiental, mantenedor, e a Sociedade Paulista de Medicina Veterinária (SPMV), que coordena os trabalhos.

Novos pacientes

Ainda em reabilitação, uma filhote fêmea de veado-catingueiro já está com 3 kg – quase dois quilos a mais do que quando chegou, em 20 de julho, apresentando desidratação e uma lesão por escoriação na cabeça. O animal foi encontrado em Sobradinho, na casa de uma família, que acionou o Batalhão da Polícia Militar Ambiental (BPMA). Outro recém-chegado é um gambá-de-orelha-preta, que chamou atenção por ter uma pelagem mais clara que os saruês mais comuns.

Outro filhote que passa por reabilitação nas dependências do hospital é uma pequena onça-parda resgatada no início do mês. Encontrada em um lote em Formosa (GO), ela estava desidratada e com problemas de crescimento. A equipe do hospital também cuida de um lobo-guará encontrado em Santa Maria em 13 de julho. Vítima de atropelamento, ele já passou por cirurgia ortopédica e está se recuperando. Chegaram ainda à unidade aves que tiveram colisão com vidraça e alguns miquinhos que sofreram choques elétricos.

De acordo com o biólogo responsável pelo Hfaus, Thiago Marques, os animais estão lá por motivos variados, e nem sempre é possível determinar como foram feridos. “Eles passam por uma triagem, e cada um é direcionado a um local para ter a melhor recuperação possível”, relata. “Hoje o Hfaus tem praticamente todos os atendimentos necessários para fazer a reparação de qualquer animal dentro da nossa capacidade”. O hospital conta com recursos como exames laboratoriais (sangue e urina), de oftalmologia, ultrassom e até mesmo raio-X e tomografia.

Bruna Nascimento, responsável pelo setor de nutrição: “Todo animal que passa por aqui é encaminhado por um zootecnista para montar uma dieta baseada nas necessidades nutricionais de como o animal chega, caso esteja muito magrinho ou muito gordinho”

O Hfaus é dividido em alas para separar os animais e evitar a convivência entre predadores e presas, separando também mamíferos, répteis e aves. Cada animal recebe um tratamento diferente, de acordo com sua condição – tanto os que precisam de hidratação, quanto aqueles que sofrem colisões ou alguma fratura. A bióloga responsável pelo setor de nutrição, Bruna Nascimento, explica que são levadas em consideração as características de cada espécie.

“Todo animal que passa por aqui é encaminhado por um zootecnista para montar uma dieta baseada nas necessidades nutricionais de como o animal chega, caso esteja muito magrinho ou muito gordinho”, explica. “E tudo é descrito em um quadro para que todos possam ter acesso, porque é um hospital que funciona 24h. Assim todos são aptos a preparar a alimentação para esse animal.”.

Retorno ao habitat

Responsável pelo hospital, Thiago Marques lembra que é fundamental evitar contato direto entre um humano e um animal silvestre: “Dessa forma, buscamos sempre facilitar na hora de devolvê-lo à natureza”

O objetivo final do hospital é sempre reabilitar os animais para que sejam reinseridos na natureza – parte que é executada pelo Brasília Ambiental por meio do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas). Após o diagnóstico, os animais passam por tratamento e, caso recebam alta e estejam aptos a se reintegrar na fauna, são encaminhados para devolução à natureza. Entre os animais mais emblemáticos que já foram atendidos pelo Hfaus e retornaram ao habitat natural estão diversos macacos, um tamanduá-bandeira, um lobo-guará, tucanos, araras e outras aves recuperadas.

“É por isso que muitas vezes os animais estão cobertos ou em ambientes fechadinhos e tapados, para que a gente evite contato com os humanos e que não se acostumem com a gente – inclusive a gente sempre recomenda para o cidadão não tentar fazer contenção caso encontre um animal silvestre, seja qual for o estado, mas acionar o BPMA ou o órgão ambiental local que fará a destinação correta”, aponta Thiago Marques. “Dessa forma, buscamos sempre facilitar na hora de devolvê-lo à natureza.”

Técnica administrativa do Hfaus, a bióloga Vilma dos Reis reforça que os animais chegam apenas por meio do Batalhão Ambiental da Polícia Militar ou do Corpo de Bombeiros, lembrando que a unidade não atende demandas diretas dos civis, apenas órgãos estaduais e distritais.

Até um filhote de saruê faz parte da “população flutuante” do hospital

“O BPMA entra em contato conosco, a gente dá o sinal positivo e eles trazem o animal para cá”, detalha. “Fazemos o registro no sistema, onde ele [o animal] recebe uma numeração, e o biólogo faz a identificação dele com o microchip para monitoração ou para identificá-lo caso ele volte ou aconteça alguma coisa com ele nesse trajeto. Depois de ser avaliado pela veterinária e começar o tratamento, é determinado se ele será enviado ao Cetas para soltura após o documento de alta.”

Resgate

Ao se deparar com algum animal da fauna silvestre ferido ou bichos silvestres que precisam de cuidados neonatais – os filhotes -, o melhor a fazer é entrar em contato com o Batalhão de Polícia Militar Ambiental do DF, pelo telefone 190. Os animais silvestres que não apresentam ferimentos também podem ser recolhidos pelo batalhão ambiental, direcionados a órgãos diferentes que fazem a identificação do bicho e a soltura.