Tonelada do gás carbônico equivalente na citricultura brasileira é estimada em US$ 7,72
14 de agosto de 2024O valor do indicador para a produção de laranjas estimado pode servir de referência para o mercado voluntário de carbono
Foto: Carlos Ronquim
O preço do carbono na citricultura brasileira foi estimado em U$ 7,72 por tonelada de gás carbônico equivalente (tCO2e). É a primeira vez que se chega a um valor do indicador para a produção de laranjas. Ele pode servir de referência para o mercado voluntário de carbono, além de outras iniciativas voltadas à sustentabilidade, como o pagamento por serviços ambientais. A estimativa é da equipe da Embrapa Territorial (SP), em trabalho apresentado no 62º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (Sober).
A analista da Embrapa Daniela Tatiane de Souza diz que há poucos estudos científicos no Brasil para precificar o carbono na agricultura e ainda não havia nenhum voltado para o setor citrícola, um dos de maior destaque entre as cadeias exportadoras do agronegócio nacional. Também não há um mercado de carbono regulado em operação na agricultura, que permita mensurar valores efetivamente praticados. “O que estamos fazendo é um trabalho pró-ativo para traçar perspectivas e estabelecer referências com base em metodologias adotadas internacionalmente”, explica.
Gás carbônico é a unidade da “régua”
Por ser o gás de efeito estufa (GEE) mais emitido na atmosfera desde o início da industrialização, o gás carbônico tornou-se indicador ambiental. Para efeitos comparativos e uniformização no mercado, a geração de outros GEE e agentes causadores de impacto ambiental são convertidos em toneladas de CO2 equivalente para mensuração e valoração. Ao se estimar o preço do carbono de uma atividade econômica, cria-se um incentivo financeiro para se investir em tecnologias e práticas mais sustentáveis. Por exemplo, a melhoria nas práticas de adubação para diminuir o uso de nitrogênio e a emissão de óxido nitroso – outro importante GEE – para a atmosfera.
“Como a redução das emissões de GEE e a remoção de CO2 da atmosfera têm um custo (social, econômico e ambiental), a precificação é necessária para saber quanto se deve pagar por uma tonelada de CO2 equivalente que deixou de ser emitida ou que foi removida da atmosfera por uma atividade ou projeto. A precificação de carbono serve de referência para quem vai receber e para quem vai pagar por isso. É claro que ela é só uma referência, pois quando já se tem o certificado de emissão reduzida (CER), pode-se negociar valores maiores do que quem ainda vai iniciar um projeto”, detalha o pesquisador da Embrapa Lauro Rodrigues Nogueira Júnior. “Esse valor serve também para programas governamentais de redução de emissões que precisam de referências, assim como para os programas de pagamento por serviços ambientais que vêm sendo implementados no Brasil”, complementa.
O valor estimado está próximo do que se observa para o setor agrícola, no mercado voluntário de carbono internacional. Nos últimos três anos, o valor médio do preço do carbono no mercado voluntário na agricultura mundial, levantado pelo Eurosystem Marketplace, variou de U$ 6,61 a U$ 11,02 por tCO2e. Como não há estimativas no Brasil, para efeito comparativo, a equipe da Embrapa valeu-se de um estudo prévio que forneceu um valor médio para o preço do carbono da agricultura e da pecuária nacionais. Considerando uma atualização monetária, ele seria de U$ 7 por tCO2 e – muito próximo, portanto, aos U$ 7,72 por tCO2e estimados para o setor citrícola.
Fotos: Carlos Ronquim
Como foi feito o cálculo
Os cálculos para a citricultura foram feitos a partir de dados socioeconômicos e ambientais, combinando dois conjuntos de determinantes: o do “custo social do carbono” e do “custo marginal de abatimento”. O primeiro atribui valor monetário para as consequências ambientais e sociais das emissões de gases de efeito estufa e das mudanças climáticas. O segundo inclui o custo tecnológico da redução dessas emissões. “Nós fizemos uma modelagem, uma simulação de quanto poderia ser o preço do carbono na citricultura brasileira em função de um conjunto de determinantes que impactam o preço do carbono na agricultura”, detalha Souza.
Para a estimativa, foram considerados 297 municípios do cinturão citrícola, que compreende o estado de São Paulo e o sudoeste/Triângulo Mineiro. A equipe utilizou, para os cálculos, dados como o Produto Interno Bruto (PIB) municipal e a participação da agricultura nesse indicador, as emissões per capita de CO2, a área dos municípios e a parcela destinada à preservação da vegetação nativa. Quanto maior o PIB de uma localidade, maior o valor do carbono, uma vez que um maior dinamismo da economia tende a gerar maiores emissões de GEE.
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Maior produtor mundial de suco de laranjaO Brasil é responsável por 35% da produção mundial de laranja e por 75% do comércio internacional do suco da fruta. Na última safra, a produção ficou em 307,22 milhões de caixas e a exportação do suco ultrapassou 2,8 milhões de toneladas. São 463 mil hectares de pomares só no cinturão citrícola, a principal região produtora, onde se concentram também as indústrias processadoras de suco e subprodutos. O setor movimenta cerca de U$ 14 bilhões por ano. |
Vivian Chies (MTb 42.643/SP)
Embrapa Territorial
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