A BENÇÃO DAS CHUVAS
1 de outubro de 2024Depois de uma seca severa e muitas queimadas, enfim, chega a temporada das chuvas
Neste ano de 2024, o clima seco, os incêndios e os crimes causados pela ação humana contra as florestas chegaram ao ápice: a estatística do crime dos incêndios foi terrível, pois 99% das queimadas são causadas por ação humana. Segundo a secretária de Desenvolvimento Econômico Sustentável do Ministério da Fazenda, Cristina Fróes, a área total queimadas este ano, foi de mais 224 mil quilômetros quadrados, dos quais mais de dois terços no Cerrado e na Amazônia. Levantamento da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) confirmou esses dados assustadores 99% das queimadas são causadas por ação humana, sendo grande parte criminosa. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o número de focos de incêndio no Cerrado cresceu 88%, na Amazônia 95%, na Mata Atlântica 127%, Pantanal 1720%, um aumento vertiginoso.
Ideologia e nem saliva apagam os incêndios florestais.
Além da fumaça, dos transtornos nas rodovias e da destruição de fazendas e florestas, o presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Clezio Marcos de Nardin, disse mais. “As previsões do instituto são de temperaturas de 1ºC a 2ºC acima da média no país inteiro – com exceção do litoral – até o fim do ano. Pior: as chuvas devem ficar abaixo da média”.
POR QUE O TEMPO SECO FOI TÃO INTENSO?
A natureza é complexa e para responder a essa pergunta não há, também, uma resposta tão simples. Conversando com vários meteorologistas e buscando entender suas teorias pode-se chegar a algumas conclusões. Os especialistas levam em consideração alguns aspectos. Vale destacar:
- El Niño: o fenômeno, que aqueceu o Oceano Pacífico, contribuiu para a elevação das temperaturas no país e mudou os padrões de chuva. O El Niño ainda gerou uma seca intensa ao Norte do país, que bateu recordes.
- Bloqueios atmosféricos: A expectativa era que o El Niño acabasse e a seca terminasse em abril deste ano, o que não aconteceu. Isso porque bloqueios atmosféricos impediram que as frentes frias avançassem pelo país, deixando a chuva abaixo da média em quase todo o mapa, com exceção do Rio Grande do Sul.
- Aquecimento do Atlântico Tropical Norte: Nos últimos meses, o Oceano Atlântico Tropical Norte está mais quente do que o normal, o que tem contribuído para as mudanças nos padrões de chuva pelo país, prolongando a seca iniciada em 2023.
Com isso, o Brasil enfrentou neste período a pior seca de sua história recente. Segundo o INMET, de julho a outubro deste ano, mais de um terço do território nacional enfrentou a estiagem na sua pior versão. Foram cerca de 3 milhões de km² de estiagem. Algumas áreas mais e outras áreas um pouco menos. O fenômeno da falta de chuva deixou cidades isoladas na Amazônia, baixou os reservatórios com uma ameaça à oferta de energia e piorou em muito o cenário de queimadas e incêndios florestais.
O QUE É O EL NIÑO
O engenheiro e professor Raymundo Garrido, da UFBA e ex-Secretário de Recursos Hídricos do Ministerio do Meio Ambiente explica que o fenômeno do El Niño Oscilação Sul ocorre na época do Natal. Daí seu nome. Ele resulta do aquecimento acima do normal da superfície das águas do Pacífico oriental, sobretudo no litoral do Equador e Peru. A expressão Oscilação Sul é indicativa da alteração na pressão do ar na superfície entre a Austrália e a Polinésia Francesa.
Quando a pressão está alta nessa distante região, está baixa no Pacífico oriental e vice-versa. Há a constatação de que os dois comportamentos são partes de um mesmo fenômeno, pois durante o El Niño, ou seja, quando as águas da superfície do Pacífico ao lado da costa sulamericana se aquecem, as pressões nessa mesma região se tornam mais baixas, e as pressões sobre a Indonésia e norte australiano se tornam mais elevadas, justamente onde a temperatura da água superficial se reduz. Fora da ocorrência do El Niño, a temperatura das águas superficiais na costa peruana é mais baixa, refletindo sua condição normal, e a temperatura das águas superficiais na Polinésia, e daí até a Austrália, são mais altas, refletindo também a sua condição normal.
EFEITOS DEVASTADORES
São muitos os efeitos quando o fenômeno se manifesta, continua Raymundo Garrido: “Aparecem muitas vezes seus efeitos devastadores: secas na Indonésia, no leste australiano, na Nova Guiné e no Nordeste do Brasil. Ao mesmo tempo, a ocorrência do El Niño faz com que as chuvas sejam torrenciais e acima da média na região Sul-Sudeste do Brasil, durante o verão e o outono, aumentem as tempestades tropicais no Golfo do México, ocorram invernos menos frios no norte dos Estados Unidos e oeste canadense, e se reduza o número de furacões que se formam no Atlântico”.