Meio Ambiente

ALCATRAZES

1 de outubro de 2024

‘Refúgio de Vida Silvestre de Alcatrazes” – o arquipélago é uma importante unidade de conservação.

Silvestre Gorgulho

 

O Refúgio de Vida Silvestre (RVS) de Alcatrazes é uma unidade de conservação (UC) criada pelo governo federal, no litoral norte de São Paulo, gerido de forma integrada com a Estação Ecológica (ESEC) de Tupinambás, que também fica na região. Alcatrazes nem sempre foi ilha. Durante o último período glacial, era uma montanha interligada ao continente em meio à Mata Atlântica. Com o derretimento do gelo há cerca de 15 mil anos atrás, o nível do mar subiu e isolou o local, transformando-o no arquipélago que conhecemos hoje.


Conhecida como Galápagos do Brasil, Alcatrazes tem este apelido porque este é um local isolado onde existem diversas espécies endêmicas, ou seja, que só encontradas ali. Os mecanismos de evolução que originaram a fauna exclusiva de Alcatrazes são os mesmos que Darwin observou nas Ilhas Galápagos, em 1835.

O isolamento causado pelo aumento do nível do mar, fez com que as espécies de fauna e flora do local não tivessem mais contato com o continente, isso forçou uma adaptação e até extinção de algumas delas.
Um bom exemplo de adaptação é o da serpente jararaca de alcatraz. Com a extinção de pequenos roedores na ilha, seu principal alimento, elas passaram a comer baratas e lacraias. A queda no consumo de calorias forçou uma redução no tamanho e até a composição do veneno dessas cobras foi alterada.

O refúgio é composto pelas ilhas do arquipélago dos Alcatrazes (com exceção da ilha da Sapata e daquelas já protegidas pela ESEC Tupinambás), além de relevante parte de oceano Atlântico, totalizando uma área de 67.364 hectares, sendo a maior unidade de conservação marinha de proteção integral das regiões Sul e Sudeste do Brasil. Na área do Refúgio é proibida a pesca e qualquer tipo de degradação ambiental.

SANTUÁRIO DE BIODIVERSIDADE

Quando foi criada a UC, em 2016, a ideia inicial era para ser um parque nacional. Mas foi decido pela nomenclatura de Refúgio de Vida Silvestre de Alcatrazes, pois a nova UC foi escolhida para melhor atender às necessidades de conservação do arquipélago, que é um “santuário” de biodiversidade. Alcatraz está repleta de espécies endêmicas (só existem no local), ameaçadas e migratórias, além de ser área de reprodução de aves e de espécies marinhas.

Na época, o ICMBio, pela portaria 90, foi criado o Núcleo de Gestão Integrada (NGI) Alcatrazes, que ficou encarregado de gerir as duas unidades de conservação – a ESEC Tupinambás e o Refúgio de Alcatrazes.

 

 

ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE TUPINAMBÁS

A Estação Ecológica (ESEC) Tupinambás é uma unidade de conservação composta por áreas marinhas e insulares no litoral norte de São Paulo. Foi criada pelo Decreto Federal n° 94.656, em 20 de julho de 1987, com objetivo de proteger importantes patrimônios naturais da região. Suas áreas são destinadas à preservação da natureza e à realização de pesquisas científicas.

 

 

A ESEC possui áreas no arquipélago dos Alcatrazes e no arquipélago da Ilha Anchieta (ilhas de Cabras, Palmas e Ilhote das Palmas). Essa proteção permite condições ideais para abrigo, reprodução, alimentação e crescimento dos organismos marinhos. Alguns desses organismos têm suas larvas e ovos levados pelas correntes, contribuindo para o repovoamento das áreas adjacentes, que são utilizadas pela pesca por exemplo.

 

A ESEC Tupinambás contribui para a conservação de cerca de 120 espécies ameaçadas de extinção como a toninha (Pontoporia blainvillei), que é o golfinho mais ameaçado do planeta, e ocorre nas ilhas de Ubatuba. Nas suas áreas qualquer tipo de pesca e degradação ambiental são proibidas.

 

A Ilha de Alcatrazes, com grandes paredões rochosos, tem o formato de um Y. Seu ponto mais alto, o Pico da Boa Vista, está 316 metros acima do mar. Foto: Kelen Leite

 

DESENVOLVIMENTO DE

PESQUISAS CIENTÍFICAS

A manutenção de áreas naturais com pouca interferência humana, como é o caso das estações ecológicas, que são verdadeiros laboratórios naturais, permite o desenvolvimento de pesquisas científicas de alta qualidade, pois possibilitam um melhor entendimento dos processos ecológicos naturais.

A unidade desenvolve projetos de educação ambiental com as escolas de ensino fundamental e médio, além de visitas com objetivos educacionais, nas quais os participantes desenvolvem atividades monitoradas em contato com a natureza.

 

Todas as pessoas podem contribuir para a preservação da ESEC Tupinambás, participando do programa de voluntariado. O objetivo é proporcionar uma interação mais próxima da sociedade com a unidade, de forma que os participantes possam adquirir conhecimento e auxiliar na divulgação e multiplicação de informações sobre a importância da conservação desses ambientes.

 

 

OS NINHAIS DE ALCATRAZES

 

A ilha de Alcatrazes abriga uns dos maiores ninhais do país com nidificação de fragatas (Fregata magnificens), atobás (Sula leucogaster) e gaivotões (Larus dominicanus). Nas áreas do Refúgio Alcatrazes e da ESEC Tupinambás, no arquipélago dos Alcatrazes já foram registradas 91 espécies de aves, sendo que 37 delas são residentes.

 

Filhote de atobá (foto: ICMBio)

Dessas aves, 12 são consideradas ameaçadas de extinção, sendo seis são residentes, ou seja, dependem de Alcatrazes para procriação. Essas aves possuem diferentes hábitos de vida podendo ser oceânicas, insulares costeiras, migrantes de longo percurso (praieiras), aquáticas costeiras, terrestres e florestais. Dentre as migratórias, 35 têm procedência do Brasil.

 

Sete das aves oceânicas têm registro para a Antártica. Algumas dessas espécies dependem do ambiente florestal, e são endêmicas (exclusivas) da Mata Atlântica, como o beija-flor-preto (Florisuga fusca), o beija-flor-de-bico-curvo (Polytmus guainumbi), a maria preta (Knipolegus nigerrimus), o tiê-preto (Tachyphonus coronatus), o saí-canário (Thlypopsis sordida) e o azulão (Cyanoloxia brissonii).

 

Alcatrazes – O paredão granítico de 316 metros de altura no meio do oceano impressiona os navegantes por sua beleza e suas águas com boa visibilidade e grande quantidade de vida marinha fazem um convite ao mergulho contemplativo. Foto: Kelen Leite

 

VEGETAÇÃO DO ARQUIPÉLAGO

 

A vegetação do arquipélago dos Alcatrazes é caracterizada por áreas de mata atlântica e campos rupestres. A ilha de Alcatrazes tem como espécies endêmicas um antúrio (Anthurium alcatrazensis) e uma begônia (Begonia venosa). No estado de São Paulo, as plantas Croton compressus e Manettia fimbriata foram coletados apenas na ilha de Alcatrazes.

A rainha do abismo (Sinningia insularis) é endêmica da ilha de Alcatrazes e do morro do Recife, em São Sebastião. Uma espécie de begônia da ilha (Begonia larorum) foi encontrada uma única vez em 1923, sendo atualmente considerada extinta.

Alcatrazes também é o principal local de abrigo, alimentação e descanso de tartarugas marinhas da costa de São Paulo. Em suas águas também são encontradas cerca de 260 espécies de peixes, que são maiores e formam grandes cardumes no arquipélago, sendo considerada a região de fauna recifal mais conservada das regiões Sudeste e Sul do Brasil.

 

PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO

 

Além de exuberante beleza e expressiva biodiversidade, o arquipélago dos Alcatrazes faz parte do patrimônio arqueológico, histórico e cultural da região. Foi citado nos relatos históricos logo após a colonização do Brasil. No local, foram encontradas cerâmicas que indicam o uso da ilha pelos povos que viviam na região antes do descobrimento do Brasil.

 

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MAIS INFORMAÇÕES:

NOME DA UNIDADE: Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes

BIOMA: Marinho

ÁREA: 67.479,29 hectares

DIPLOMA LEGAL DE CRIAÇÃO: Decreto sem número de 02/agosto/2016

ENDEREÇO: Avenida Manoel Hipólito do Rego, nº 1907 – Bairro Arrastão – São Sebastião/SP – CEP: 11.605-136 – TELEFONE: (12) 3892-4427
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