O DIA DA AVE
1 de outubro de 2024É o primeiro ano em que a comemoração do Dia da Ave – 5 de outubro – não tem a presença física do autor da proposta: Johan Dalgas Frisch.
Há 56 anos é comemorado, no Brasil, o Dia da Ave. A data foi uma proposta do engenheiro e ornitólogo Johan Dalgas Frisch, em 1968. O empresário e ambientalista mobilizou artistas, jornalistas e autoridades para que a sociedade, sobretudo as escolas, celebrassem e se conscientizassem sobre a importância da avifauna brasileira. Este 2024, é o primeiro ano em que a comemoração do Dia da Ave – 5 de outubro – não terá a presença física do autor da proposta. Dalgas Frisch faleceu em 22 de junho deste ano. Mas o legado de Dalgas Frisch ficou.
Johan Dalgas Frisch gravando os cantos das aves nas florestas brasileiras.
LEGADO E PAIXÃO
Conhecido como o SENHOR DOS PÁSSAROS, Johan Dalgas Frisch foi presidente da Associação de Proteção da Vida Selvagem – APVS, faleceu na manhã do dia 22 de junho, 20 dias antes de completar 94 anos. Dalgas Frisch deixou um legado cultural, ambiental e de paixão pelas aves, pelas florestas e pelo Brasil. Dalgas nasceu em São Paulo em 12 de julho de 1930. Tem ascendência dinamarquesa. Sua paixão pela natureza começou bem na infância. Era encantado pelas aves. Aos sete anos de idade já ajudava seu pai, Svend Frisch – um artista consagrado – a pintar todas as espécies da avifauna brasileira. Deste trabalho nasceu seu primeiro livro: Aves Brasileiras. Em 1962, Dalgas trouxe da selva para as cidades a gravação dos cantos das aves. Gravou um LP que virou sucesso internacional. Em 1963, o disco entrou na Parada de Sucesso das rádios e, por várias semanas consecutivas, figurou na lista dos discos mais vendidos no Brasil.
Dia da Ave – pérolas da natureza. Foto do empresário e ornitólogo Robert Harrop.
CRIAÇÃO DA DATA
Para justificar a criação do Dia da Ave, Dalgas Frisch lembrava que as aves são joias da natureza: “Elas significam muito mais do que a beleza, a liberdade e a renovação. As aves são as grandes plantadeiras de florestas, pois semeiam sementes por onde vivem. Fundamentais para manter o equilíbrio da vida na Terra, as aves protegem e ajudam preservar o bom funcionamento de todo o ecossistema. O Brasil é um país extremamente rico por natureza, e claro, pela abundância de aves”. O Dia da Ave é comemorado no Brasil desde 1968, mas foi só em 2002 que o Dia da Ave se revestiu de um maior significado, porque foi em 2002 que todas as aves brasileiras passaram a ter, simbolicamente, uma única ave para representá-las: o sabiá laranjeira (Turdus rufiventris), nossa Ave Nacional.
Johan Dalgas Frisch lutou para criar o DIA DA AVE, em 5 de outubro. No diploma para as escolas tinha a assinatura do ministro da Educação, Jarbas Passarinho, e de outras autoridades, como os governadores Abreu Sodré, de São Paulo, e Israel Pinheiro, de Minas Gerais. As duas últimas assinatura são do REI PELÉ (Edson Arantes do Nascimento) do próprio Dalgas Frisch.
APRENDI COM O DALGAS
Por que o voo de uma ave é mais importante que seu trinar?
Dalgas e o então ministro do Meio Ambiente José Carlos Carvalho, em outubro de 2002. Neste ano o governo FHC fez do SABIÁ a Ave Nacional. O documento foi assinado, além do Presidente, pelos ministros Paulo Renato, da Educação, pelo Chefe da Secretaria da Presidência, Euclides Scalco, e pelo ministro do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho.
Silvestre Gorgulho
A inspiração, a áurea e o legado de Johan Dalgas Frisch continuam no ar.
Com Dalgas aprendi que a inspiração está na beleza do céu, no verde da natureza, no canto das aves e no seu voo livre pelos céus e floretas.
Aprendi com Dalgas que foi o canto do ruby que inspirou William Shakespeare quando escreveu Romeu e Julieta. Foi o canto do sabiá que inspirou Gonçalves Dias, nostálgico de sua terra natal, e um mundo de poetas, compositores e escritores brasileiros. De Villa-Lobos, Tom Jobim, Caetano Veloso a Jorge Amado e Luiz Gonzaga.
O trinar das aves tem o dom inspirar crianças e adultos. Tem a magia de encantar corações, de elevar a alma e de abrir as mentes para a poesia e para o amor.
O exercício da tolerância começa no quintal de nossas casas, nos parques de nossas cidades e nas matas de nossa terra.
Onde tem aves, tem qualidade de vida. Onde tem aves, tem negócios valorizados. Elas têm a força para conduzir investimentos num condomínio bem planejado ou de conseguir votos para administradores bem-intencionados. Como? Muito simples. Uma cidade com parques, jardins, bela arborização e muita flor vai atrair sabiás, canarinhos, bigodinhos, periquitos, beija-flores, um sem números de pássaros… e votos.
As aves são como crianças: na sua pureza de vida buscam apenas o alimento, o saciar da sede e o voar com liberdade. Como as crianças, elas precisam de bem-feitores, de amigos e de protetores.
Amigo da vida é aquele que ama a natureza, que cuida das aves do lugar onde mora, dando-lhes alimento e abrigo. O voo de uma ave é muito mais importante que seu trinar. Motivo é simples: ao voar elas mostram e ensinam o valor da liberdade, ao passo que o trinar muitas vezes elas podem estar aprisionadas em viveiros e gaiolas.