PARQUE NACIONAL

PARQUE NACIONAL DA SERRA DO CIPÓ

1 de outubro de 2024

Semana de Aniversário do Parque celebra os 40 anos de preservação. Evento conta com diversas atividades, como oficinas, palestras e caminhadas ecológicas

Silvestre Gorgulho

A região é linda: abriga uma variedade de formações rochosas, como calcários, quartzitos e granitos, além de diferentes tipos de solos. E muitas cachoeiras. O Parque Nacional da Serra do Cipó está comemorando 40 anos de história e, para celebrar essa data especial, o Instituto Chico Mendes preparou uma semana repleta de atividades.  Localizada em Minas Gerais, a Serra do Cipó é conhecida por sua rica biodiversidade e geologia, que remonta a 1,7 bilhões de anos. Foi com o objetivo de preservar essa riqueza natural que, em setembro de 1984, o Parque Nacional da Serra do Cipó foi criado, ocupando uma área de 33.800 hectares. Desde então, sua missão tem sido proteger o ecossistema local e promover a visitação de maneira organizada e sustentável.

Cachoeira Grande no Parque Nacional da Serra do Cipó – foto Tom Alves

ANTES SERRA DA VACARIA.

HOJE SERRA DO CIPÓ

Tão grande quanto o município de Belo Horizonte, o Parque Nacional da Serra do Cipó tem 33.800 hectares e está a 100km da capital mineira. Localizado na Serra do Espinhaço, que nasce na região do Vale do Tripuí, em Ouro Preto, estendendo-se até o sertão da Bahia, onde se forma a Chapada Diamantina. De parque estadual, em 1975, foi transformado em parque nacional, em 1984.

O Espinhaço é o divisor de águas das bacias do São Francisco e dos rios Doce, Jequitinhonha e Mucuri. A Serra do Cipó, antes conhecida como Serra da Vacaria, era o caminho natural dos bandeirantes, em busca de ouro e pedras preciosas que, por essas trilhas, aportaram lá para as bandas do Arraial do Tejuco, hoje Diamantina.

SERRA DAS ÁGUAS
O rio Cipó e seus formadores, os ribeirões Mascate, Bocaina, do Peixe e da Bandeirinha, banham a região, juntamente com os inúmeros córregos que formam piscinas naturais, como a Lagoa Comprida, e várias cachoeiras.
As mais conhecidas pelos turistas são a Véu da Noiva, Farofa e Andorinhas, porém, uma das atrações de extraordinária beleza, talvez a mais suntuosa de toda a região, é a Ravina das Bandeirinhas, um vale profundo, formado por um canyon de paredões de rocha bruta, por onde corre o ribeirão da Bandeirinha.

A aventura não poderia faltar neste lugar, onde o papel de Indiana Jones pode ser facilmente interpretado, basta uma boa dose de audácia e coragem. O rol de emoções vai do simples passeio a cavalo, até o trekking, mountain bike aos mais radicais como o rappel e canyoning.

As águas e as sempre-vivas são as forças da natureza da Serra do Cipó e da Serra do Espinhaço. Foto: Felipe Ribeiro/Associação Montanhas do Espinhaço

APA MORRO DA PEDREIRA

Quando se vê no mapa que delineia o Parque Nacional da Serra do Cipó, as linhas que demarcam a área do Morro da Pedreira, ao seu redor, a impressão que se tem é que o Parque está envolvido por um grande abraço. como que bem guardado. As cidades do entorno, hoje, representam as grandes aliadas na luta pela preservação do parque, graças a uma nova filosofia de trabalho de conscientização das pessoas, que passaram a enxergar, nos parques, um importante instrumento para o desenvolvimento da região como um todo.

Criada em janeiro de 1990, através do Decreto Federal n0 98.891, a APA -Morro da Pedreira, surgiu da necessidade de garantir a proteção do Parque Nacional da Serra do Cipó – terceiro parque nacional a ser construído em Minas – e o complexo paisagístico de parte do maciço do Espinhaço.
A preservação do Morro da Pedreira, sítios arqueológicos, a cobertura vegetal, além da fauna silvestre e dos mananciais, fundamental ao ecossistema da região, também estão sob sua proteção.

A APA-Morro da Pedreira abrange áreas dos municípios de Santana do Riacho, Conceição do Mato Dentro, Itambé do Mato Dentro, Morro do Pilar, Jaboticatubas, Taquaruçu de Minas, Itabira e José de Melo, no Estado de Minas Gerais, e restringe a realização de atividades que venham causar alterações ambientais, como as atividades industriais potencialmente poluidoras, capazes de afetar mananciais de águas, ou as que podem provocar a erosão das terras ou assoreamento dos rios.

Uma das maiores finalidades da Área de Proteção, que possui, ao todo, 66.200 hectares, é fiscalizar a exploração de mármore nas encostas da serra que se erguem ao longo da cadeia do Espinhaço, além de atividades que possam ameaçar espécies raras de animais e vegetais, ou comprometer as condições ecológicas locais, principalmente na chamada Zona de Vida Silvestre, onde se concentra o conjunto de animais e vegetais da região, exigindo cuidados ainda mais rigorosos. Por isso, os turistas – sobretudo aqueles acidentais, que se cuidem!

PARCERIA E CONSCIÊNCIA COLETIVA

Para os ambientalistas, não adianta ter fiscalização, se não houver uma consciência por parte das pessoas. O objetivo é transformar pessoas da comunidade em guias turísticos, dando, a elas a oportunidade de explorar a própria potencialidade, o que as tornará capazes para prestar todas as informações possíveis ao turista, como a importância dos campos rupestres, alertando sobre as espécies endêmicas e detalhando aspectos da vida animal, dos acidentes geológicos, dos tipos e origens das rochas, enfim, ensinar a maneira como usufruir de um parque com consciência, aprendendo a lidar com a natureza.

Importante é o trabalho desenvolvido em parceria e as comunidades para a escolha das obras de reestruturação, com a abertura do turismo, devidamente controlado, e na medida em que os mesmos passam a ser melhor estruturados. Assim, vão surgindo mais pousadas e atrativos na região, o que acaba gerando investimentos, empregos, renda e aumentando a arrecadação do município.

Combate a incêndio florestal na APA Morro da Pedreira – Parque Nacional da Serra do Cipó, com as brigadas do ICMBio e Brigadas Voluntárias – Foto: PEDRO DAVID

DE HUGO WERNECK A BURLE MARX

A princípio, quando pesquisadores como Hugo Werneck, José Rabelo de Freitas e alguns outros levaram ao então IBDF a idéia da criação de um parque, as reações não foram das melhores, pois dizia-se que nada havia lá no alto, além de pedras e água.
O que poucos supunham, entretanto, é que o lugar guardava a riqueza e variedade das plantas dos campos rupestres, ou campos de altitude – tipo exclusivo de vegetação que floresce no alto de algumas montanhas brasileiras, em altitudes superiores a 900m.

Nos campos rupestres, ecossistemas onde os vegetais vivem em cima das pedras, ocorre a maior diversidade de espécies endêmicas, plantas restritas a uma única área, além de cerrados e matas de galeria, responsáveis, hoje, por uma das floras mais diversificadas do nosso Planeta, capaz de abrigar, em determinados campos de altitude, até mais de 100 espécies diferentes de plantas por metro quadrado.
“A variedade encontrada em um metro quadrado na Serra do Cipó, é maior do que em um quilômetro quadrado da Amazônia”, garantiu Burle Marx, ao explorar o local, na década de 70.

As flores da Serra do Cipó, principalmente as sempre-vivas, são artigos de exportação, com grande demanda nos mercados japonês, norte-americano e europeu. As matas de galeria guardam, também, espécies importantíssimas, como o pau-tombo, a copaíba, o limãozinho, as praíbas, as almecegueiras, os crótons e as samambaiaçus.
Em aproximadamente 150 quilômetros quadrados, concentram-se mais de 1.500 espécies de 106 famílias de angiospermas – ou seja, grupos de plantas floríferas superiores.

A BELEZA DO RIO CIPÓ

O Rio Cipó localizado no coração da Serra do Cipó é a certeza de beleza, passeios e esportes para turistas.

O Rio Cipó, localizado nos limites de Santana do Riacho e de Jaboticatubas, nasce dentro do Parque e se destaca por ser o único afluente localizado no Rio das Velhas que ainda não foi invadido por poluição. A sua formação é feita a partir do encontro do Rio Mascates com o Rio Bocaina ou Palmital. O Rio Cipó como um atrativo tem a sua caracterização marcada por cachoeiras e corredeiras o que é perfeito para a prática de ‘stand up padle’, canoagem ou passeios de caiaque.