Folha do Meio Ambiente

Em janeiro, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), voluntários de comunidades quilombolas do Rio Trombetas e empresas parceiras no Programa Quelônios do Rio Trombetas (PQT) realizaram evento de soltura de seis mil filhotes de tartarugas-da-amazônia (Podocnemis expansa), tracajás (Podocnemis unifilis) e pitiús (Podocnemis sextuberculata), nascidos na temporada reprodutiva de 2024/2025 na Reserva Biológica do Rio Trombetas, em Oriximiná/PA. 

O evento realizado no tabuleiro do Farias celebra os esforços dos voluntários das comunidades quilombolas, colaboradores e servidores, sob coordenação do Instituto, para a conservação das espécies de quelônios do Rio Trombetas. As solturas em eventos reunindo a população da região são importantes como atividades de educação ambiental e para o fortalecimento dos laços entre os parceiros do PQT e as pessoas que vivem no território da unidade de conservação. 

Além dos voluntários e colaboradores no Programa, participaram da soltura dos filhotes a gerente da Gerência Regional Norte (GR1) do ICMBio, Tatiana Leite, representantes da MRN, VIBRA Energia, Funtec e público externo, somando cerca de 170 pessoas no evento.

Foto: João Marins/NGI Trombetas

O PQT objetiva a recuperação das populações das três espécies de quelônios mais pressionadas na região do Rio Trombetas, envolvendo moradores dos Territórios Quilombolas Alto Trombetas 1 e 2, que atuam como voluntários na conservação e manejo dos quelônios, os quais tem grande importância na cultura desses povos tradicionais. O Programa foi iniciado na década de 1980 como Programa Quelônios da Amazônia (PQA), sob o comando do IBDF à época.

A área dos tabuleiros no Rio Trombetas foi um dos principais locais de reprodução da tartaruga-da-amazônia, que subiam às praias para desovar às centenas, mas a partir dos anos 1980 foi notada a tendência de redução da população da espécie, que procura os tabuleiros para desovar durante a estação seca. Possivelmente essa redução tem como causas as alterações no meio biótico ocasionadas pela navegação de navios de grande porte no Rio Trombetas, contribuindo também a caça dos animais para comercialização.

Na última década, com os esforços empreendidos pelo PQT em colaboração com as comunidades tradicionais na proteção e manejo de ninhos, a população de Podocnemis expansa vem lentamente se recuperando. Neste período reprodutivo, foram monitorados ou manejados 643 ninhos da espécie nos tabuleiros do Rio Trombetas, que resultaram no nascimento de 20.763 filhotes, soltos em seu habitat.

Foto: João Marins/NGI Trombetas

O PQT também tem atividades em colaboração com voluntários quilombolas no Lago Erepecu, na Rebio do Rio Trombetas, com foco nas espécies tracajá e pitiú, que registraram, respectivamente, 18.912 e 1.407 filhotes na temporada.

A chefe do NGI Trombetas, Maria Carolina Gonçalves Pontes conta que a temporada anterior, de 2023, “registrou a segunda menor taxa de filhotes nascidos em 20 anos nos tabuleiros do Trombetas, pouco mais de 7.000 filhotes. A seca histórica castigou a Amazônia e sua biodiversidade única. No caso das tartarugas-da-amazônia, os esforços para protegê-la não foram suficientes diante do evento climático devastador. Hoje, um ano depois, e sob condição climática mais amena, registramos mais de 20.000 filhotes nascidos, um excelente sinal da capacidade de recuperação da espécie. Os esforços para protegê-las foram intensificados, um trabalho realizado por centenas de mãos que alcançaram um resultado gigante!  Certamente o resultado é animador para continuar essa linda missão, de preservar esse pedaço de Amazônia”.

Na temporada que se encerrou com o evento de soltura, participaram das atividades de manejo dos quelônios, além dos servidores e agentes ambientais do Núcleo de Gestão Integrada (NGI) ICMBio Trombetas, 77 voluntários de comunidades quilombolas e 6 voluntários externos, por meio do Programa de Voluntariado do ICMBio.