A caminho da recuperação ambiental de Mariana (MG), Ibama realiza vistoria técnica
28 de março de 2025Para iniciar repactuação do Novo Acordo do Rio Doce, técnicos realizaram uma série de inspeções em áreas impactadas pelo desastre
Equipe do Ibama observam margens da lagoa marginal em Barra Longa – Foto: Divulgação Ibama
Belo Horizonte/MG (26/03/2025) – Nove anos após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), que resultou no maior desastre ambiental da história do Brasil, as ações de reparação ambiental avançam sob nova coordenação. No escopo do Novo Acordo do Rio Doce, técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) iniciaram uma série de vistorias em áreas impactadas pelo desastre, avaliando de perto as condições da bacia e o cumprimento das medidas de recuperação.
Uma jornada pelo Rio Doce
Em fevereiro, 16 analistas ambientais de três diretorias do Ibama — Qualidade Ambiental, Biodiversidade e Florestas, e Licenciamento — além das
Superintendências do Ibama em Minas Gerais e no Espírito Santo, percorreram áreas críticas da bacia, começando pelo Rio Gualaxo do Norte, um dos mais atingidos pelo desastre. Durante a inspeção, os analistas verificaram a situação das margens, nas quais quase 100 quilômetros de mata ciliar foram destruídos e um volume expressivo de sedimentos permanece acumulado.
O desafio agora é conter esse material, evitando que volte a ser levado para a calha do rio. Para isso, o plano prevê obras de contenção, revegetação com gramíneas e replantio de espécies nativas da Mata Atlântica. A equipe identificou pontos estratégicos para a recuperação da vegetação e para a revitalização das nascentes e áreas de recarga hídrica.
Outro ponto crítico analisado foi o reservatório da Usina Hidrelétrica de Risoleta Neves (Candonga), que ainda retém mais de 9 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração. A lama depositada ali pode carregar contaminantes para o restante da bacia do Rio Doce, tornando urgente a avaliação ambiental do impacto que esses rejeitos vêm causando na bacia e análise quanto à sua remoção. Uma operação que exigirá licenciamento ambiental conduzido pelo próprio Ibama.
Além disso, os técnicos iniciaram a avaliação de áreas onde será conduzida a investigação de contaminação do solo, subsolo e sedimentos. A análise busca identificar a presença de metais pesados como ferro, manganês, alumínio, chumbo, cromo, vanádio e cádmio, substâncias que podem comprometer a fauna aquática, o sedimento dos rios e a segurança das populações ribeirinhas.
Medidas e compromissos
A vistoria faz parte das ações previstas no Acordo Judicial para Reparação Integral e Definitiva do desastre, firmado em 2024. O pacto obriga as empresas Samarco, Vale e BHP Billiton a implementar um Plano de Recuperação Ambiental dentro de um prazo de 120 dias, com detalhamento de cronogramas, marcos e metas de execução.
O Ibama, em parceria com auditorias ambientais independentes, acompanhará cada etapa da implementação, garantindo que as metas sejam cumpridas de forma rigorosa.
Entre as ações previstas estão:
- O reflorestamento de 54 mil hectares de áreas degradadas;
- A recuperação de 100 lagoas marginais impactadas pela lama;
- O controle de erosões e uso de bioengenharia para estabilizar margens fragilizadas;
- O monitoramento da qualidade da água e sedimentos por 15 anos;
- A retirada gradual dos rejeitos da UHE Risoleta Neves.
Os custos dessas iniciativas não estão sujeitos a um teto financeiro, o que significa que as empresas responsáveis deverão arcar integralmente com os valores necessários.
Diálogo com a população
Neste mês de março, o Ibama integra a Caravana Interministerial do Rio Doce, uma iniciativa do governo federal que percorre os municípios afetados pelo rompimento da barragem. O objetivo é esclarecer dúvidas da população e garantir transparência no processo de reparação. Além do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), a ação conta com a participação de diversas pastas federais, incluindo a Advocacia-Geral da União (AGU) e os Ministérios de Minas e Energia, da Saúde, da Educação e da Agricultura, entre outros.
O Novo Acordo do Rio Doce prevê um investimento total de R$ 132 bilhões ao longo de 20 anos, sendo R$ 100 bilhões destinados a projetos socioeconômicos e ambientais e R$ 32 bilhões focados diretamente na recuperação das áreas degradadas. Além disso, o MMA planeja criar um Fundo Ambiental para impulsionar projetos voltados para bioeconomia, educação ambiental e combate a crimes ambientais.
A paisagem ao longo da bacia do Rio Doce ainda carrega cicatrizes profundas do desastre de 2015, mas as ações em curso sinalizam um caminho de reconstrução. A recuperação das áreas degradadas e a fiscalização rigorosa são passos essenciais para devolver vida ao rio e garantir que futuras gerações possam conviver com um ecossistema revitalizado.
Assessoria de Comunicação do Ibama