THERESE VON BEHR

ADEUS THERESE VON BEHR, ANJO DA NATUREZA

1 de março de 2025

A vida se esvai entre os dedos. E as pessoas especiais também se vão. Hoje acordei com a triste notícia da passagem de uma baronesa especial: Therese von Behr. Therese von Behr veio de um caminhar distante. Ela nasceu numa fazenda de trigais dourados, em Vilna, na Lituânia, em 1930. Desde a infância, ainda na região báltica, começou a pintar temas da natureza por influência de sua mãe. Tinha no DNA a arte da consagrada aquarelista polonesa, Anna Romer. Chegou ao Brasil em 1950… mas aí é uma outra história. Aliás, um conto de fadas.

Silvestre Gorgulho

Desde a infância, Therese von Behr começou a pintar temas da natureza por influência de sua mãe. Tinha no DNA a arte da consagrada aquarelista polonesa, Anna Romer

 

A vida não é como se pinta: a Segunda Guerra Mundial deu uma reviravolta na família que abandonou a fazenda de trigais dourados e se mandou para a Alemanha e depois para o Canadá. Lá Therese conheceu Anatol Baron von Behr, um jovem nascido na Estônia, por quem se apaixonou.

Mas… sempre tem um ‘mas’ para quem foge das guerras. Um dia o rapaz lhe trouxe uma notícia triste: “Gostei de você, mas estou me mudando do Canadá. Vou fazer minha vida nas fazendas do novo Eldorado chamado Brasil”.

Anatol viajou e acabou em Diamantino, Mato Grosso. Durante dois anos se corresponderam por carta. Cartas que chegavam para Therese cheias de poeira. Ela não tinha ideia de onde Anatol estava. Mas foi à luta. Contactou, no Canadá, os pais de seu namorado, conversou com sua família e recebeu o consentimento de casamento. Acertou sua vinda para o Brasil.

Therese pegou um navio argentino em Nova York – apenas ela e sete baús – e desceu em Santos. O próprio comandante do navio temia por aquela loirinha linda, de apenas 20 anos, que tinha os olhos de cor esmeralda. Por isso, fez questão de descer com ela e seus nove baús até o cais. Ainda bem que a novela teve um final feliz: Anatol a esperava no porto.

Moraram numa fazenda, perto de Diamantino até o ano de 1968. Chegaram em Brasília no ano de 1976. Therese von Behr sempre produziu muito para a natureza. Além de seus três filhos (Nicholas, poeta e escritor, Miguel, escritor e biólogo, e Henrique, ilustrador, todos ambientalistas) a baronesa gerou as mais lindas aquarelas para bendizer a beleza da flora e da fauna do Brasil Central.

Do Cerrado captou as mais vivas cores para seus desenhos. Das flores do Centro-Oeste, brotou o livro “Flora do Planalto Central do Brasil”, com 80 gravuras.

Onde há flor, há árvore. Onde há árvore há fruto e onde há fruto há pássaros. E aí a sequência foi inevitável. Veio a segunda produção artística de Therese von Behr: “As Aves do Cerrado”. Com um detalhe importante: todas as aves foram pintadas em seu habitat. Bem assim: o sabiá-laranjeira ao lado da embaúba; o maracanã-de-cara-amarela num pé de buriti, o beija-flor-de-canto no pau santo, o bico-de-lacre na orquídea… São ao todo 65 aquarelas.

Therese é ou não é uma baronesa especial? Especial e riquíssima. Therese von Behr fez de seus sete baús, que trouxe do Canadá, um mundo de sonhos e de realidade tropical. Viveu 95 anos entre joias. E joias que ela mesma garimpou, lapidou e teve o grato prazer de dar a cada brasileiro como um presente dos mais significativos.

“As aves são as verdadeiras joias da natureza”, costumava dizer o ornitólogo Johan Dalgas Frisch. São essas joias que Therese von Behr teve, tem e terá sempre a altura de suas mãos e que hoje apascenta nosso olhar. Therese von Behr soube usar a natureza para seu deleite, como bem mandava seu coração de nobreza e de artista.

OBRIGADO, baronesa Therese von Behr. Você é um Anjo da Natureza.