Conservação

Família de bugios se prepara para ser reintroduzida na natureza, nas Unidades de Conservação do Boqueirão da Onça

26 de março de 2025

O processo de preparação para o retorno à natureza conta com esforço de diversas instituições para definir o ambiente ideal para a sobrevivência da família

Comunicação ICMBio

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Bugios-pretos (Alouatta caraya) – Foto: Marcus Antonius

No dia 12 de março, foi realizado o transporte de uma família de oito bugios-pretos (Alouatta caraya), para um recinto de ambientação, na Área de Proteção Ambiental (APA) do Boqueirão da Onça, em Campo Formoso, Bahia. A ação foi um marco no esforço para a conversação desta espécie no bioma Caatinga.

A família se formou após a união de uma fêmea e um macho resgatados em 2012 e 2013, respectivamente, e serão reintroduzidos na APA do Boqueirão da Onça que é vizinha ao Parque Nacional (Parna) do Boqueirão da Onça.

A matriarca, carinhosamente chamada de Chica, foi resgatada pela equipe de Fauna durante uma Fiscalização Preventiva Integrada do São Francisco (FPI). Vítima de maus tratos, era mantida num cativeiro em péssimas condições e apresentava sérios ferimentos. 

Foto: Marcus Antonius
Foto: Marcus Antonius

Um ano depois, o macho, apelidado de Negão, foi resgatado no interior da APA do Boqueirão da Onça, pela equipe do IBAMA de Juazeiro, após esta ser acionada pela bióloga Claudia B. Campos que trabalhava na região na ocasião e foi chamada pelos moradores para ver um animal que tinha sido levado para uma casa com ferimentos na cabeça e outras partes do corpo, após ser atacado por cães em uma área de roça no meio da caatinga.

Os dois bugios foram encaminhados para o Centro do Triagem de Animais Silvestres (CETAS) do Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga – CEMAFAUNA da UNIVASF em Petrolina/PE e receberam todos os cuidados necessários e, após sua recuperação, foram colocados no mesmo recinto, formaram um casal e geraram descendentes. 

A família cresceu, e hoje é composta por 13 indivíduos. Destes, quatro (1 fêmea e 3 machos) permaneceram no CETAS por terem sido expulsos do bando já adultos, oito (quatro machos e quatro fêmeas) foram para o recinto de habituação na APA, e o 13º nasceu esta semana no local, saudável e se unindo aos outros para a nova vida. Assim, nove indivíduos estão sendo preparados para uma nova jornada em vida livre.

A chefe do Núcleo de Gestão Integrada de Juazeiro, responsável pela gestão das UCs do Boqueirão da Onça, Claudia B. Campos, conta que esta semana, “após realizar uma visita técnica na área, constatamos que a família está bem e cresceu mais uma vez! No dia 18 de março, Chica se tornou mãe novamente com a chegada de mais um filhote e todos estão bem e saudáveis!”.

Foto: Marcus Antonius
Foto: Marcus Antonius

O processo de preparação para o retorno à natureza é longo e cuidadoso, por isso, num esforço conjunto entre CEMAFAUNA, Ministério Público/BA, Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos INEMA/BA, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade ICMBio Juazeiro/BA, Animallia Ambiental, Centro de Primatas Brasileiros – CPB/ICMBio e o Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental NEMA/UNIVASF; o projeto foi elaborado e ajustado por um bom tempo, até o momento de sua execução, quando outros parceiros se juntaram para sua realização (Polícia Rodoviária Federal – PRF, Centro Regional dos Técnicos Industriais – CRT/BA).

A espécie está classificada como ‘Em Perigo’ de extinção pela SEMA – Secretaria de Meio Ambiente da Bahia.  Existe a suspeita, inclusive, de que haja uma redução de 30% da população de bugios em três gerações devido aos impactos em seu ambiente. 

Para definir uma área da soltura, uma série de requisitos precisa ser cumprida, entre eles, o ambiente precisa ser ideal para a sobrevivência, com oferta de frutos da estação e folhas que possam compor a dieta dos bugios, além de água e condições climáticas ideais para que a espécie se adeque. 

A equipe considerou uma região da APA do Boqueirão da Onça que fica no município de Campo Formoso/BA e que possui as condições necessárias para acomodar a família, com a possibilidade, inclusive, de interações com outros bugios que lá existem, pois é o local de origem de Negão. Somando a área do Parna do Boqueirão da Onça, as unidades de conservação abrangem quase novecentos mil hectares. 

Os animais foram examinados e amostras de sangue foram coletadas para os exames exigidos e os cuidados sanitários necessários, seguindo os protocolos do IBAMA e do INEMA. 

Foto: Marcus Antonius
Foto: Marcus Antonius

Os animais permanecerão num local no meio da caatinga para se acostumarem ao ambiente (habituação), no caso dos filhotes, e para que os pais relembrem como era a vida livre para poderem ensinar seus filhos a sobreviverem. Eles continuarão a receber alimentos até que consigam se alimentar por conta própria – um processo que pode durar até um ano.

Após a habituação, as portas do recinto serão abertas para que eles explorem e iniciem essa nova jornada na natureza, mas possam voltar quando quiserem, até que estejam totalmente adaptados à vida livre. Alguns membros dessa grande família utilizarão colares com rádios transmissores que permitirão o seu monitoramento a qualquer momento do dia e em qualquer local.

“Para as UCs do Boqueirão da Onça, a chegada desta família reforçará o número de indivíduos da espécie na região, aumentando as chances de sobrevivência da espécie no bioma Caatinga!”, comemora a chefe do NGI Juazeiro.