Meio Ambiente

Áreas Protegidas da Amazônia abrigam mais de seis mil onças-pintadas, aponta estudo

26 de abril de 2025

Durante 15 anos (de 2005 a 2020), os pesquisadores monitoraram onças-pintadas em unidades de conservação do Brasil, Peru, Colômbia e Equador

Comunicação ICMBio

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Onça-pintada (Panthera onca) – Foto: Emiliano Ramalho – Instituto Mamirauá

Um estudo inédito publicado na revista Biological Conservation revelou que 22 áreas protegidas e terras indígenas na Amazônia abrigam uma população estimada de 6.389 onças-pintadas (Panthera onca), destacando o papel desses territórios para a conservação da espécie. A pesquisa, que contou com a colaboração de cientistas de mais de 20 instituições, incluindo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), usou armadilhas fotográficas e modelos estatísticos avançados para mapear a densidade populacional do maior felino das Américas na Amazônia.

De 2005 a 2020, os pesquisadores monitoraram onças-pintadas em unidades de conservação do Brasil, Peru, Colômbia e Equador. Os resultados mostraram que, em média, há três onças a cada 100 km² na Amazônia. Mas essa média varia a depender do lugar: na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (AM), área inundada por rios de água barrenta e cheia de nutrientes, foram registradas quase dez onças no mesmo espaço, enquanto na Reserva Biológica do Cuieiras (AM), região de florestas alagadas por rios de água escura e solos mais pobres, havia menos de 1 onça por 100 km². 

Essa diferença ocorre porque ambientes como as várzeas — com solos férteis e cheios de peixes, capivaras e outros animais — funcionam como um “supermercado natural” para as onças, garantindo alimento abundante. Já os igapós, com solos ácidos e poucos nutrientes, sustentam menos presas e, por isso, abrigam populações menores do felino. 

A pesquisa também identificou que machos são detectados com mais frequência que fêmeas, possivelmente por percorrerem territórios maiores em busca de acasalamento e defesa de território. Além disso, estradas e trilhas não pavimentadas aumentam as chances de registro desses animais, que as utilizam como rotas de deslocamento. Por outro lado, a pressão humana — medida pelo Índice de Pegada Humana — mostrou-se um fator crítico: em áreas degradadas ou próximas a fronteiras de desmatamento, as onças precisam de territórios até 30% maiores para sobreviver, indicando escassez de recursos.

Ameaças e Alertas

Apesar do cenário relativamente positivo, o estudo soa um alarme. Quase 10% da floresta amazônica foi desmatada entre 2001 e 2021, e incêndios recordes em 2024 agravaram a pressão sobre a biodiversidade. Somente no Brasil, estima-se que 1.500 onças foram deslocadas ou mortas nos últimos quatro anos devido à perda de habitat. A caça ilegal de presas (como queixadas e capivaras) e o comércio de partes de onças — reportado em países como Bolívia e Suriname — também preocupam.

Caminhos para a Conservação

Os pesquisadores defendem a expansão de programas de monitoramento contínuo, integrando tecnologia e conhecimento tradicional de povos indígenas. Também recomendam priorizar a proteção de regiões como a interface Andes-Amazônia e as várzeas do Rio Amazonas, ameaçadas por mineração ilegal e ocupação desordenada. “Garantir recursos financeiros, equipes técnicas e políticas antifogo é urgente para que essas áreas continuem sendo fortalezas da onça-pintada”, destaca o estudo.

Para o ICMBio, os dados reforçam a importância do Plano de Ação Nacional para a Conservação da Onça-Pintada, que prevê o monitoramento populacional da espécie, combate a crimes ambientais e a promoção de turismo de base comunitária em unidades de conservação, aponta Ricardo Sampaio, coator do estudo e coordenador substituto do ICMBio/CENAP. 

Artigo – Jaguar (Panthera onca) density and population size across protected areas and indigenous lands in the Amazon biome, its largest stronghold – Biological Conservation. 2025

Foto: Brian Dennis
Foto: Brian Dennis
Foto: Emiliano Ramalho - Instituto Mamirauá
Foto: Emiliano Ramalho – Instituto Mamirauá
Foto: Emiliano Ramalho - Instituto Mamirauá
Foto: Emiliano Ramalho – Instituto Mamirauá
Foto: Emiliano Ramalho - Instituto Mamirauá
Foto: Emiliano Ramalho – Instituto Mamirauá