BAUNILHA DO CERRADO

1 de junho de 2025

Brasília faz curso e oficinas para produção, polinização e beneficiamento gastronômico da especiaria da região.

Silvestre Gorgulho

Sob a coordenação da Gastróloga e pesquisadora de baunilhas brasileiras Cláudia Nasser, o Instituto de Baunilhas Edmond Albius, criado pela produtora de baunilha, Ângela Almeida, da Quinta do Alecrim, realizou no dia 25 de maio um curso prático sobre o cultivo de baunilhas. A atividade aconteceu em Brasília e reuniu agricultores, gastrônomos, comerciantes, empreendedores do ramo da alimentação e curiosos em conhecer de perto essa orquídea tropical de alto valor gastronômico e comercial.

A pesquisadora Cláudia Nasser explica que o curso busca criar uma rede de produtores capacitados, que compreendam o cultivo da baunilha desde a produção de mudas até o produto para comercialização.

A oficina marcou o início de uma série de capacitações que o Instituto oferecerá ao longo do ano, voltadas à produção e valorização das baunilhas brasileiras, com foco em espécies nativas que crescem em regiões do Cerrado.
Segundo a pesquisadora Cláudia Nasser, “o objetivo é criar uma rede de produtores capacitados, que compreendam o cultivo da baunilha desde a produção de mudas até o produto para comercialização, sejam favas in natura, bem como produtos à base de baunilhas como extratos, pastas, pó, mel, azeites etc., por meio da educação, pesquisa e experiências sensoriais”.

Dessa forma, em parceria com produtores, chefs, pesquisadores e comunidades tradicionais, o projeto busca inserir a baunilha nativa no circuito gastronômico e turístico do Brasil.
O Instituto leva o nome de Edmond Albius, jovem que descobriu, aos 12 anos, a técnica de polinização manual da baunilha na Ilha de Reunião (antiga Bourbon), tornando possível seu cultivo em diversas partes do mundo.

PRÓXIMOS CURSOS E OFICINAS

Após o sucesso da primeira oficina, o Instituto de Baunilhas Edmond Albius prepara novas atividades para os próximos meses. O importante, ressalta Cláudia Nasser, é que todas as atividades mesclam conteúdo técnico com vivências sensoriais, respeitando os saberes tradicionais e promovendo o uso sustentável das espécies nativas.

A programação e o conteúdo das próximas oficinas, incluem:
• Curso de Polinização – Técnica essencial para a produção de frutos fora do ‘habitat’ nativo.
• Curso de Beneficiamento da Baunilha – Etapas de cura e secagem, fundamentais para o desenvolvimento do aroma característico.
• Oficina de Análise Sensorial de Baunilhas – Uma experiência olfativa para identificar as notas e qualidades da especiaria.
• Oficinas Gastronômicas com Baunilhas – Aulas práticas onde os participantes aprendem a utilizar diferentes espécies de baunilha em receitas doces e salgadas, drinks e etc.

COMO PARTICIPAR

Os cursos são presenciais e realizados em pequenos grupos, com foco na prática. As inscrições serão divulgadas no perfil oficial da Quinta do Alecrim @quintadoalecrim, @nasserclaudia, e também por meio de parcerias com associações rurais, sindicatos e instituições de ensino do DF e entorno.

O sucesso e a procura pelo curso levou os organizadores a programarem novas oficinas sobre Baunilha do Cerrado.

QUEM FOI EDMOND ALBIUS

A vida de Edmond Albius não foi fácil. Mas ele deixou um legado eterno para a horticultura mundial de baunilha. Em 1841, Edmond Albius (1829-1880) era apenas um garoto de 12 anos, escravizado e sem educação formal. Mas ele conseguiu algo inédito, resolvendo um enigma que intrigava os principais botânicos da época: desenvolveu uma técnica inovadora para polinizar orquídeas baunilha de forma rápida e lucrativa. A verdade é que sem a sua contribuição, a baunilha não teria alcançado a popularidade que tem hoje.
Na década de 1820, os colonos franceses trouxeram cápsulas de baunilha para a ilha Reunião, onde Albius nasceu em 1829, vindas do México. Logo ficou claro que nenhum inseto na região poderia polinizar as orquídeas baunilha, ao contrário do que ocorria no México, onde as abelhas selvagens faziam esse trabalho.

Na década de 1830, o botânico belga Charles Morten desenvolveu uma técnica manual de polinização, mas era demorada e exigia muita mão de obra.

 

TÉCNICA SIMPLES E EFICAZ

Edmond Albius, aos 12 anos, usou folhas de erva ou pedaços finos de madeira para levantar a tampa da flor e dobrar a parte masculina, permitindo que o pólen entrasse em contato com a parte feminina. Depois, com seu polegar, pressionava levemente, realizando a polinização de forma eficaz. Embora simples, sua técnica revolucionou a indústria, transformando a Ilha Reunião em um dos maiores fornecedores mundiais de baunilha.
As contribuições de Albius para a ciência passaram despercebidas durante sua vida, e ele faleceu na pobreza e no esquecimento. Somente muitos anos após sua morte, que ocorreu em 1880, seu trabalho foi reconhecido e celebrado como um avanço significativo na história da botânica. Até hoje, em Madagascar, a técnica de Albius é utilizada, e o país se destaca como o maior fornecedor de baunilha do mundo.

ILHA DA REUNIÃO

A Ilha da Reunião, uma antiga colônia francesa, que se tornou um departamento ultramarino em 1960, é um pontinho de rocha vulcânica a cerca de 650 quilômetros de Madagascar. Um paraíso natural com enormes cachoeiras e pontos de surfe famosos no mundo todo.

A Ilha da Reunião tem 2.512 km², mas, no centro, o antigo pico vulcânico da Piton des Neiges ultrapassa as nuvens e alcança mais de três mil metros de altitude, criando uma infinidade de microclimas em suas encostas e dividindo a ilha em um lado “úmido” e outro “seco”.

A baunilha do Cerrado, conhecida também como “baunilha banana”, é uma especiaria rara, nativa do bioma Cerrado brasileiro, que se destaca pelo aroma floral e adocicado de sua fava.

________________________________________
Sobre o Instituto de Baunilhas Edmond Albius
O IBEA foi concebido pela produtora Angela de Almeida e tem como coordenadora a gastróloga e mestre em Turismo, Cláudia Nasser Brumano. O Instituto atua na promoção do cultivo e valorização das baunilhas brasileiras por meio da educação, pesquisa e experiências sensoriais. Em parceria com produtores, chefs, pesquisadores e comunidades tradicionais, o projeto busca inserir a baunilha nativa no circuito gastronômico e turístico do Brasil.