O HERÓI DE AIMORÉS
1 de junho de 2025Sebastião Salgado: o gênio que mostrou ao mundo o que viu por suas lentes: os contrastes da vida. Salgado deixa legado histórico na fotografia mundial
Uma vida dedicada à Natureza e à Humanidade. Ele era Salgado e Doce. Como seu sobrenome, seu Salgado continua tendo uma explosão de sabores com o legado que deixou. E tão Doce como a região em que nasceu, o Vale do Rio Doce, no município mineiro de Aimorés. Sebastião Salgado era assim: agridoce. Salgado em denunciar as injustiças, a degradação e a destruição. Mas cumpriu, também, uma jornada de prazer e doçura, em cada semente de esperança que plantou e em cada foto que iluminou o mundo para alertar a consciência humana. “Durante mais de cinco décadas, Sebastião Salgado e sua inseparável companheira Lélia Wanick Salgado construíram uma obra fotográfica inigualável, com um conteúdo profundamente humanista e um olhar sensível sobre as populações mais desfavorecidas e os problemas ambientais que ameaçam nosso Planeta”, diz a nota da família sobre o falecimento do fotógrafo, ocorrido em 23 de maio, em Paris, aos 81 anos.
Sebastião Salgado e Lélia fundaram o INSTITUTO TERRA, uma organização de reflorestamento em Aimorés-MG), que já plantou mais de 7 milhões de árvores. Por meio das lentes de sua câmera, Sebastião lutou incansavelmente por um mundo mais justo, mais humano e mais ecológico. Fotógrafo que viajou pelo mundo sem cessar, ele contraiu uma forma particular de malária em 2010, na Indonésia, como parte de seu projeto Gênesis. Quinze anos depois, as complicações dessa doença se transformaram em uma leucemia grave, contou seus filhos Juliano e Rodrigo. Sebastião Salgado, considerado um dos fotógrafos mais importantes e premiados da História, deixa dois netos Flávio e Nara.
MESTRE DA FOTOGRAFIA
DOCUMENTAL E AMBIENTAL
Sebastião Salgado foi um mestre da fotografia. Nasceu Sebastião Ribeiro Salgado Júnior, na Vila de Conceição do Capim, em Aimorés (MG), em 1944. Formado em Economia e com mestrado na Universidade de São Paulo e na Sorbonne, Sebastião Salgado descobriu a fotografia em 1973, transformando-se rapidamente em um dos maiores nomes mundiais da arte documental e ambiental. Suas lentes registraram:
A Serra Pelada, na década de 1980
O projeto “Trabalhadores”, sobre a labuta humana
O ensaio “Êxodos”, que retratou povos migrantes em diversas partes do mundo
Ao longo da carreira, percorreu mais de 120 países, fotografando tanto eventos históricos quanto paisagens naturais e aspectos sociais.
Era imortal da Academia de Belas Artes da França desde 2017. E recebeu os mais importantes prêmios da fotografia mundial. Dentre eles, o Prêmio W. Eugene Smith de Fotografia Humanitária, o World Press Photo, o Hasselblad, o prêmio Jabuti na categoria reportagem e foi o primeiro fotógrafo a receber o Príncipe de Astúrias das Artes, na Espanha.
Recentemente, o concurso Sony World Photography Awards 2024 premiou o fotógrafo brasileiro por sua “destacada contribuição à fotografia”.
“Suas imagens, expostas em importantes instituições culturais e destacadas em publicações de todo o mundo, se transformaram em um símbolo do jornalismo fotográfico contemporâneo”, escreve a Organização Mundial de Fotografia.
No ano passado, o The New York Times incluiu uma foto de Salgado em uma seleção com as “25 fotos que definem a idade moderna”.
SERRA PELADA
A imagem escolhida foi uma das que o fotógrafo fez em Serra Pelada, no Pará, em 1986, quando o local foi descoberto pelo garimpo, atraindo um formigueiro de gente.
“Um dos aspectos mais impressionantes das fotografias de Sebastião Salgado de uma mina de ouro a céu aberto no Brasil é a escala. Milhares de homens — com os corpos curvados e frágeis — são reproduzidos em miniatura contra o pano de fundo de uma enorme mina na terra”, publicou o jornal.
O trabalho em Serra Pelada também lhe rendeu um livro, um dos muitos publicados pelo fotógrafo. Dentre eles Terra, Êxodos, Gênesis, Amazônia, Outras Américas de Da Minha Terra à Terra.
RPPN Fazenda Bulcão – Fotos: Instituto Terra
LEGADO E O INSTITUTO TERRA
Seu falecimento foi capa dos principais jornais do mundo. Muitas profissionais da fotografia, ONGs e artistas e instituições culturais têm prestado homenagens a Sebastião Salgado, reconhecendo sua contribuição incomparável para a fotografia e o meio ambiente.
Segundo o site do Instituto Terra, a região do Rio Doce é o principal foco da atuação da organização criada por Sebastião Salgado e sua esposa Lélia. A ONG utiliza o “conhecimento adquirido com a restauração ecossistêmica para transformar a bacia do Rio Doce” e as ações envolvem a integração da agricultura com a floresta, a recuperação de nascentes e a promoção da educação ambiental para milhares de pessoas.
Em 18 anos, a mudança ambiental e social de uma área degradada.
O Instituto Terra transformou uma antiga fazenda de gado, totalmente degradada, em uma floresta rica, onde as nascentes voltaram a jorrar e os animais conseguem achar abrigo. Sebastião e Lélia mostraram ao mundo que é possível recuperar a Mata Atlântica. Só depende de nós.
Segundo a cofundadora do Instituto Terra, Lélia Wanick Salgado, desde sua criação, o Instituto Terra já plantou mais de sete milhões de mudas, abrangendo mais de 300 espécies nativas e contribuindo para o retorno de 228 espécies à fauna local. Além disso, mais de 2 mil nascentes estão em processo de recuperação e mais de mil hectares foram mobilizados para ações de reflorestamento. “O impacto ambiental e social dessas ações é enorme”, explica Lélia Salgado. No Centro de Educação e Recuperação Ambiental (CERA), mais de 70 mil pessoas (professores, alunos, produtores rurais, técnicos agrícolas, ambientais e florestais) já receberam algum tipo de treinamento do Instituto desde sua fundação. Ao todo, mais de 90 mil pessoas foram impactadas e 237 Agentes de Restauração Ecossistêmica foram formados.
No Centro de Educação e Recuperação Ambiental do Instituto Terra, em Aimorés-MG, Lélia e Sebastião Salgado se abraçam no resgate ambiental e social da região. (fotos: Instituto Terra)
O Instituto Terra informou que continuará seu trabalho de reflorestamento e educação ambiental, mantendo vivo o legado do fotógrafo.