Estudo aponta milhares de plantas brasileiras ainda não descritas e alerta para ausência de proteção legal
15 de julho de 2025A pesquisadora Rafaela Forzza participa desde 2017 do Programa Monitora – Foto: Jessica dos Anjos/ICMBio Um estudo publicado na revista científica PLOS ONE estima que entre 7.343 e 9.595 espécies de plantas com flores (angiospermas) ainda não foram descritas no Brasil. A pesquisa também revela que 80% das áreas com maior potencial de ocorrência dessas espécies estão fora de unidades… Ver artigo

A pesquisadora Rafaela Forzza participa desde 2017 do Programa Monitora – Foto: Jessica dos Anjos/ICMBio
Um estudo publicado na revista científica PLOS ONE estima que entre 7.343 e 9.595 espécies de plantas com flores (angiospermas) ainda não foram descritas no Brasil. A pesquisa também revela que 80% das áreas com maior potencial de ocorrência dessas espécies estão fora de unidades de conservação.
O levantamento analisou dados taxonômicos de 32.900 espécies nativas coletadas ao longo de 267 anos de pesquisas de campo (entre 1753 e 2020), abrangendo todos os biomas brasileiros: Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado, Pampa e Pantanal.
Entre os autores do estudo está a pesquisadora Rafaela Forzza, atualmente vinculada ao Parque Nacional dos Descobrimentos, na Bahia. Oriunda do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Forzza integra o Programa Monitora, do Instituto Chico Mendes, e percorre diversas unidades de conservação no país em missões de coleta e avaliação da biodiversidade.
Para a pesquisadora, o estudo evidencia um problema estrutural: “Espécies que ainda não foram descritas cientificamente estão mais vulneráveis à extinção. Sem o reconhecimento oficial, não é possível incluí-las nas listas de espécies ameaçadas ou desenvolver planos de conservação. É como uma pessoa sem certidão de nascimento — sem existir oficialmente, não recebe políticas públicas”, compara.
Segundo o estudo, o catálogo brasileiro de biodiversidade pode estar incompleto em 19% a 23%, com lacunas concentradas principalmente na Amazônia e na Caatinga. O cruzamento dos dados com áreas protegidas mostra que apenas 1,3% dessas regiões na Caatinga têm proteção legal, enquanto na Amazônia o percentual é de 28%.
Rafaela destaca a importância da integração entre cientistas e gestores ambientais. “Pesquisadores e gestores das UCs trabalham com recursos limitados e alta demanda. Uma maior articulação entre esses grupos pode acelerar a catalogação das espécies”, afirma. Ela aponta ainda o potencial estratégico do ICMBio nesse processo: “O Instituto tem acesso a territórios onde muitos pesquisadores não conseguem chegar. Podemos unir esforços para identificar e proteger a biodiversidade que ocorre nas UCs”.
Terras indígenas
O estudo também chama a atenção para o papel das terras indígenas, que abrigariam metade das possíveis novas espécies. Os dados reforçam a importância do conhecimento tradicional indígena na conservação da diversidade biológica.
O artigo está disponível gratuitamente no site da revista PLOS ONE.