AMAZÔNIA

CAPITAL NATURAL DA AMAZÔNIA

1 de agosto de 2025

Destaque para o capital natural da floresta de Carajás.

Silvestre Gorgulho

Este trabalho de relevante conteúdo estará à disposição de todos os participantes da COP30, em novembro próximo, em Belém do Pará. O livro de 272 páginas tem artigos diversos, abordando todos os aspectos da Floresta Amazônica como a questão social, econômica e biológica. Mostra os benefícios da floresta para o bem-estar humano, bem como as contribuições para conservação e mitigação das mudanças globais. Escrito por 56 cientistas e pesquisadores, o livro descreve a função da flora e da fauna e do solo. O “Capital Natural das Florestas de Carajás” trata da sustentabilidade e da diversidade da mais importante floresta tropical do mundo, a Amazônia. Conversamos com a organizadora da obra, a bióloga e doutora em Ecologia, Tereza Cristina Giannini, para conhecer mais sobre este trabalho.

TEREZA CRISTINA GIANNINI – ENTREVISTA

A bióloga Tereza Cristina, com doutorado em Ecologia, é formada pela Universidade de São Paulo. É paulistana, mas vive em Belém do Pará há dez anos. Trabalha do Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável e é credenciada no Programa de Pós-graduação em Zoologia da Universidade Federal do Pará (UFPA). Tereza Cristina trabalha com interações ecológicas, com ênfase em espécies provedoras de serviços ecossistêmicos, como polinização, dispersão de sementes, além de polinização para agricultura e produção de alimentos, além de estar super envolvida na restauração de interações ecológicas, valoração de serviços ecossistêmicos e o potencial impacto das mudanças climáticas sobre esses serviços.

 

Silvestre Gorgulho – Qual é o conceito de Capital Natural e qual é a aplicação desse conceito?

Tereza CristinaCapital Natural se refere ao estoque dos recursos naturais. Esses recursos englobam toda a diversidade de espécies de plantas e animais que fazem parte da floresta. Mas não só isso; englobam também o solo, água e clima que são responsáveis por manter um ambiente adequado para a ocorrência dessas espécies. O Capital Natural se refere à ideia de ‘valor’, ou seja, ele busca valorar a natureza, o que é um desafio grande, especialmente considerando as florestas tropicais, como a Amazônia, que são muito ricas em termos de biodiversidade e de ocupação histórica. Assim, o projeto ‘Capital Natural das Florestas de Carajás’ teve por objetivo apresentar um método para fazer essa valoração. Destaco que essa foi a primeira vez que algo do tipo foi desenvolvido para uma floresta tropical. Tal pesquisa é importante pois auxilia a tomada de decisão associada à conservação, contribui para o desenho de políticas públicas e aumenta da conscientização sobre a importância de proteger as florestas.

 

O segredo e a riqueza da Amazônia estão na sua floresta úmida tropical. As árvores valem mais em pé do que derrubadas. O valor da Amazônia está nos genes, na sua biodiversidade, e no subsolo devido à riqueza mineral.

Silvestre – Como a riqueza da Amazônia contribui para o bem-estar social e econômico dos mais de 20 milhões de brasileiros que vivem na região?

Tereza Cristina – A Amazônia é uma floresta tropical com elevado número de plantas, animais e microoganismos que vivem em uma complexa rede de interações, criando uma relação de interdependência mútua. Por exemplo, algumas plantas dependem de polinizadores e dispersores sementes para se reproduzir. E alguns animais dependem de plantas para se alimentar ou construir seus ninhos. Essas interações abrangem os povos originários que vivem dentro da floresta há alguns milhares de anos, e vêm manejando a floresta de forma sustentável, ancorados em um rico saber ancestral.

O BioParque de Carajás acolhe os animais da região e é um santuário vivo para visitas, estudos e pesquisas.

O BioParque de Carajás é exemplo de cuidado e sustentabilidade.

Silvestre – Mas, e as pessoas que vivem nela?

Tereza CristinaSim, a floresta fornece inúmeros benefícios para as pessoas que vivem nela e, também, para as pessoas que estão longe. A floresta armazena carbono que é o principal gás de efeito estufa; regula o clima localmente; protege recursos hídricos; protege as espécies de polinizadores, como as abelhas, que contribuem para a produção de alimentos (frutas e sementes); e oferece recursos alimentares para as pessoas, como é o caso da castanheira do brasil e do açaí, entre muitas outras plantas alimentícias utilizadas. A floresta em pé oferece muitos recursos para a geração de trabalho e de renda, além de servir de pano de fundo para um rico arcabouço cultural e artístico, com sua culinária, festas populares, tradições e arte que lhe são próprias.

Silvestre – Especificamente sobre a Floresta Amazônia…

Tereza Cristina – Bem, especificamente sobre a Floresta Amazônica podemos dizer que além de ser importante regionalmente, a Floresta Amazônica contribui com as chuvas que caem no Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, com os chamados ‘rios voadores’, e têm importante papel na regulação do clima global. Além disso, protegem a rica diversidade de espécies que têm, na floresta, o seu habitat natural. Muitos desses benefícios foram analisados pelo projeto Capital Natural do Instituto Tecnológico Vale, que teve por objetivo compreender o valor da floresta para o bem-estar humano e também compreender quais os elementos da biodiversidade são mais importantes para manter a floresta em pé.

O papel da floresta na proteção dos recursos hídricos.

 

Silvestre – Quem idealizou o projeto?

Tereza Cristina – A ideia nasceu em 2019 com o professor José Siqueira e a professora Lucia Imperatriz. Eles faziam parte do Instituto Tecnológico Vale. Eu assumi a coordenação do projeto em 2020, na gestão do atual diretor, o Dr. Guilherme Oliveira.

Silvestre – Qual foi a motivação para escrever e organizar o livro?

Tereza Cristina – Nossa intenção é espalhar o conhecimento. Para preservar precisa conhecer. O projeto Capital Natural das Florestas de Carajás levantou muitos dados de qualidade. Foram analisados dez componentes associados ao capital natural dessas florestas, que são pertencentes ao bioma Amazônico. Esses dados cobriam desde a riqueza de espécies de plantas, aves, abelhas e borboletas até a importância da floresta para a regulação do clima local e para a proteção de água. Ademais, era nossa intenção divulgar amplamente os resultados. Assim, o livro foi um meio para atingir o objetivo de divulgar os resultados obtidos.

Silvestre – A maior parte das imagens, por sinal belíssimas, é de Manuel Aun. Elas foram feitas exclusivas para o livro?

Tereza Cristina – Sim, foram feitas exclusivamente para o livro. Outros fotógrafos participaram do projeto. Imagens e ilustrações são fundamentais num trabalho como esse.

 

Silvestre – Além do e-book, o livro foi feito também em papel? Como está sendo comercializado?

Tereza Cristina Sim, foram impressos três mil exemplares da versão em português. A distribuição é gratuita. Agora serão impressos mais mil exemplares em inglês para os participantes da COP-30 do Clima, em novembro em Belém.

Silvestre – Os 56 autores dos artigos foram remunerados pelo trabalho?

Tereza Cristina – Os autores são pesquisadores contratados que trabalham no ITV ou nas instituições parceiras, especialmente o Museu Paraense Emílio Goeldi. Não receberam remuneração especificamente pelo livro.

Silvestre – O livro está completo ou há planejamento para uma nova edição?

Tereza Cristina – O livro está completo, sim. Talvez haja nova impressão porque temos poucos exemplares em português, mas não planejamos uma nova edição.

 

 

O livro completo pode ser acessado em  https://www.itv.org/wp-content/uploads/2023/09/Ebook.CapitalNatural.ITV_.2023.pdf