biodiversidade

Estudo internacional confirma que UCs oceânicas do ICMBio revelam biodiversidade única

20 de setembro de 2025

Com função ecológica essencial, aves endêmicas encontram proteção em Unidades de Conservação federais, como Noronha, Abrolhos e Atol das Rocas

Comunicação ICMBio

– Foto: Arquivo Agência Brasil

Um novo estudo internacional revelou que as ilhas oceânicas brasileiras são verdadeiros santuários de biodiversidade, com espécies únicas que não existem em nenhum outro lugar do planeta. As Unidades de Conservação (UCs) sob gestão do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) são peças-chave nesse cenário, abrigando ecossistemas frágeis e endemismos extremos — ou seja, organismos encontrados exclusivamente nessas áreas. 

Publicado na revista científica Peer Community Journal, o estudo analisou mais de 7 mil espécies de peixes recifais em 87 ilhas e arquipélagos ao redor do mundo. Entre os locais analisados, destacaram-se formações brasileiras como Fernando de Noronha, Atol das Rocas, Trindade e Martim Vaz, além do remoto arquipélago de São Pedro e São Paulo. A conclusão surpreendeu até os pesquisadores: essas ilhas estão entre as mais importantes do planeta no quesito endemismo marinho. 

Esse levantamento global reforça o que pesquisadores brasileiros já observavam há anos: as UCs oceânicas são áreas de valor incalculável para a conservação marinha. Locais como o Parque Nacional Marinho de Abrolhos, o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha e a Reserva Biológica do Atol das Rocas, todos geridos pelo ICMBio, são hoje considerados refúgios insubstituíveis para espécies endêmicas e ameaçadas de extinção. 

“Esses resultados reforçam a relevância das nossas ilhas oceânicas. Estamos falando de ambientes únicos, que concentram espécies endêmicas e ameaçadas, que precisam de atenção redobrada para garantir sua sobrevivência”, destaca Camila Gomes, coordenadora do PAN Aves Marinhas. 

Entre os principais grupos beneficiados por essas áreas protegidas estão as aves marinhas. Aproximadamente 150 espécies utilizam o litoral e a Zona Econômica Exclusiva do Brasil, sendo que 14 delas estão oficialmente ameaçadas, segundo a Lista Nacional. Essas espécies fazem parte do Plano de Ação Nacional para Conservação das Aves Marinhas (PAN Aves Marinhas), coordenado pelo Instituto Chico Mendes. 

A presença dessas aves vai muito além da beleza cênica: elas desempenham papéis ecológicos fundamentais, como o controle de populações marinhas e o transporte de nutrientes entre oceanos e ambientes terrestres. Também são indicadoras da saúde dos oceanos e têm valor cultural para comunidades pesqueiras, que as utilizam há séculos para localizar cardumes e prever mudanças climáticas. 

Cagarra-de-cabo-verde (Calonectris edwardsii) é uma ave marinha de média dimensão pertencente à família Procellariidae. Foto: Fabio Olmos Gaivina-brancaou tinhosa-branca (Gygis alba) é uma ave caradriiforme da família dos larídeos recorrente em águas equatoriais de ilhas oceânicas do Pacífico, Índico e Atlântico sul. Foto: Camila Gomes

As ilhas protegidas pelas UCs funcionam como verdadeiros berçários reprodutivos. Em Abrolhos, está localizada a principal colônia do rabo-de-palha-de-bico-vermelho, com até mil adultos nidificando. Fernando de Noronha é o único ponto conhecido de reprodução do atobá-de-pé-vermelho no Brasil. Já o arquipélago de Trindade abriga espécies raríssimas e criticamente ameaçadas, como a fragata-pequena e a fragata-grande, ambas endêmicas da região. 

Segundo Camila Gomes, o estudo também representa um alerta para o futuro da conservação marinha. “As UCs oceânicas são a linha de frente da conservação marinha no Brasil. Para manter esse patrimônio vivo, precisamos de investimentos constantes, monitoramento e do engajamento da sociedade na proteção desses ambientes”, reforça. 

Hoje, aves marinhas contempladas pelo PAN estão presentes em 27 UCs federais, da costa do Maranhão ao Rio Grande do Sul. Essas áreas não apenas garantem a reprodução das espécies, mas também sustentam ecossistemas complexos, que estão entre os mais sensíveis às mudanças climáticas e à ação humana. 

Proteger essas ilhas é mais do que conservar a fauna e flora marinhas: é preservar a história evolutiva do planeta e assegurar a resiliência dos oceanos diante de um cenário ambiental cada vez mais desafiador. 

Após quatro anos, ave rara é avistada em Noronha 

Ainda neste mês, setembro, um grupo de pesquisadores e fotógrafos de natureza avistou, na Praia do Sueste, em Fernando de Noronha (PE), uma garça-roxa (Ardea purpurea), espécie rara no Brasil. Este foi o primeiro avistamento da ave nos últimos quatro anos.  

Originária de outros continentes, a espécie tem histórico limitado de ocorrência no país. Desde 1986, ano do primeiro avistamento, foram contabilizados apenas 21 registros na ilha, incluindo aparições em 2021, 2019, 2018 e 2017. A presença da garça-roxa reforça o papel do arquipélago como área estratégica de descanso e alimentação para aves migratórias.