COP30

Lideranças da América do Norte refletem sobre caminhos para combater mudança do clima em último diálogo do Balanço Ético Global

21 de setembro de 2025

Iniciativa mobilizou sociedade nos seis continentes do mundo para amplificar mutirão global pela ação climática convocado pela COP30

MMA

Último dos seis Diálogos Regionais do Balanço Ético Global ocorreu em Nova York, nos Estados Unidos – Foto: Fernando Donasci/MMA

O Balanço Ético Global (BEG) realizou o último de seus seis Diálogos Regionais nesta sexta-feira (19/9) em Nova York, nos Estados Unidos. As 21 lideranças indígenas, políticas, religiosas e da sociedade civil, cientistas, ativistas e artistas discutiram os caminhos para enfrentar a mudança do clima no continente.

O BEG é uma das principais maneiras pelas quais a sociedade pode se engajar com a COP30, a Conferência do Clima da ONU que ocorre em Belém (PA), em novembro. A partir da ética e da cultura, a iniciativa provoca a reflexão sobre até onde avançamos e as ações que ainda precisamos executar para que o planeta não ultrapasse a marca de 1,5ºC de aquecimento médio em relação aos níveis anteriores à Revolução Industrial, principal meta do Acordo de Paris. Discute, ainda, o motivo de existir uma lacuna entre o que diz a ciência e o que efetivamente fazemos para combater as raízes do aquecimento global.

Diálogo Regional em Nova York reuniu lideranças indígenas, políticas, religiosas e da sociedade civil – Foto: Fernando Donasci/MMA

O processo aconteceu a partir de seis encontros realizados nos seis continentes do mundo ao longo dos últimos meses, conduzidos por lideranças locais que ajudam a mobilizar a sociedade. As ideias compartilhadas em cada um deles serão consolidadas em relatórios regionais que, por sua vez, servirão de base a um relatório-síntese a ser entregue à presidência da COP30, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao secretário-geral da ONU, António Guterres, na Pré-COP, em outubro, em Brasília. A intenção é que seja considerado nas negociações climáticas durante a conferência.

O diálogo realizado em Nova York, que encerrou a série, teve ainda a presença da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva; do conselheiro especial do secretário-geral da ONU para a Ação Climática e Transição Justa, Selwin Hart; do presidente da COP30, André Corrêa do Lago; da primeira-dama e enviada especial para Mulheres da conferência, Janja Lula da Silva; da colíder do Diálogo da América do Norte e fundadora e diretora-executiva do Center for Earth Ethics, Karenna Gore; e do representante permanente do Brasil nas Nações Unidas, Sérgio França Danese.

“Que o Balanço Ético Global contribua para trazermos, dos diferentes lugares do mundo, uma contribuição viva para que a COP30 de fato seja esse grande mutirão pela implementação das decisões já tomadas ao longo de décadas”, destacou a ministra Marina Silva. “Que esse processo nos dê a necessária inspiração para um novo renascimento de paz, resiliência e reconciliação das pessoas umas com as outras, consigo mesmas e com a natureza.”

Ministra Marina Silva durante Diálogo Regional do BEG em Nova York – Foto: Fernando Donasci/MMA

Karenna Gore pontuou que, pela primeira vez, em 2024, vivemos um ano em que a meta de 1,5ºC foi superada, situação identificada pelo observatório climático europeu Copernicus. Ao mesmo tempo, “temos mais dados, informações, tecnologia e caminhos alternativos do que jamais tivemos” para enfrentar essa crise.

“Isso não é suficiente. Precisamos não apenas de informação, mas de sabedoria para invocar e mobilizar isso, o que exige uma mudança cuidadosa de abordagem. Demanda intenção e atenção, e é isso que estamos fazendo aqui”, reforçou. “Somos gratos por este chamado para fazer um balanço de nossos valores, de nossa ética, em quais aspectos e dimensões da experiência humana ainda precisamos mergulhar profundamente para enfrentar a mudança do clima, incluindo nossas tradições culturais”, complementou.

Liderado pelo presidente Lula e pelo secretário-geral António Guterres, o BEG é inspirado no primeiro Balanço Global do Acordo de Paris, concluído na COP28, em Dubai. Parte do princípio de que a humanidade já dispõe das soluções técnicas para realizar a transformação ecológica — o que falta é o compromisso ético para executá-las. O objetivo é apontar caminhos para que isso ocorra, mirando um futuro sustentável e próspero construído a partir da ciência oficial, saberes ancestrais de populações indígenas e povos e comunidades tradicionais e soluções climáticas praticadas por pessoas ao redor do mundo.

A iniciativa fortalece o mutirão global convocado pela Presidência da COP30 para a implementação dos pactos climáticos firmados pelos quase 200 países signatários do Acordo de Paris na última década, desde sua assinatura, em 2015.

O ponto central são as resoluções do Consenso dos Emirados Árabes Unidos, pactuado na COP28 após o primeiro Balanço Global do tratado internacional. Por meio desse acordo, as nações concordaram em triplicar as energias renováveis, duplicar sua eficiência, interromper o desmatamento e traçar o caminho para o fim do uso dos combustíveis fósseis de maneira justa, ordenada e equitativa.

Diálogos serão consilidados em relatórios a serem entregues na Pré-COP, em Outubro – Foto: Fernando Donasci/MMA

Selwin Hart enfatizou que o BEG é um dos modos de abordar o ponto nevrálgico da crise do clima: a necessidade de promoção da justiça climática para que os países e setores da população que menos contribuíram para as emissões históricas de gases de efeito estufa não sejam os principais alvos de seus impactos. “Não desistiremos da esperança e da coragem. Toda voz, toda ação e toda pessoa que você influencia contam”, declarou.

Para o embaixador André Corrêa do Lago, a dimensão ética do debate sobre o enfrentamento à mudança do clima “foi, de alguma forma, perdida em meio a números, estatísticas e custos. É exatamente isso que tenho aprendido em todos esses diálogos regionais, e isso está tendo um impacto muito forte em mim.” De acordo com Lago, agora é necessário discutir como essas reflexões serão levadas à mesa de negociações da COP30.

Janja Lula da Silva afirmou que o BEG é um dos caminhos para que as questões de gênero sejam inseridas de maneira central no processo multilateral da conferência. “Sabemos que a mudança do clima perpetua cada vez mais as desigualdades no território. A justiça climática só pode ser atingida quando houver também justiça de gênero”, defendeu.

Caminho até a COP30

O primeiro encontro do BEG foi realizado em Londres, no Reino Unido, representando a Europa; o segundo, em Bogotá, na Colômbia, representando a América do Sul, Central e o Caribe; o terceiro, em Nova Délhi, na Índia, representando a Ásia; o quarto, em Adis Abeba, na Etiópia, representando a África; e o quinto em Sydney, na Austrália, representando a Oceania.

O papel de colíder nessas regiões foi desempenhado pelas ex-presidentes da Irlanda, Mary Robinson, e do Chile, Michelle Bachelet, pelo ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Kailash Satyarthi, pela diretora-executiva para África e Parcerias Globais da World Resources Institute (WRI), Wanjira Mathai, e pelo ex-presidente de Kiribati, Anote Tong, respectivamente.

Além dos Diálogos Regionais, o BEG inclui Diálogos Autogestionados, promovidos por organizações da sociedade civil e governos nacionais e subnacionais seguindo a mesma metodologia e princípios do processo central. A ideia é que esses encontros contribuam para disseminar a reflexão sobre a necessidade ética de se enfrentar a mudança do clima em um mundo que já sofre seus efeitos.

O encontro em Nova York ocorreu no Museu Americano de História Natural e foi organizado com o apoio do Center of Earth Ethics e da Fundação Moore.

Lista completa de participantes do Diálogo Regional da América do Norte do BEG:

  • Alixa García, artista multidisciplinar, facilitadora de justiça social e criadora cultural;
  • Angaangaq Angakkorsuaq, ancião esquimó-kalaallit, xamã, curandeiro tradicional, contador de histórias e portador do Qilaut;
  • Angel Kyodo williams, fundadora da Transformative Change e arquiteta do Healing Race Portal, intervenção global para curar o impacto da racialização;
  • Angela Daness, da Missão do Brasil nas Nações Unidas;
  • David Suzuki, geneticista e radialista de Vancouver, no Canadá, recebeu prêmio científico da UNESCO e medalha do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente;
  • Embaixador André Corrêa do Lago, Presidente da COP30;
  • Enrique Leff, sociólogo, filósofo e humanista;
  • Fletcher Harper, diretor executivo da GreenFaith, organização internacional, multirreligiosa e de base comunitária dedicada à justiça climática;
  • Jacqueline Patterson, pesquisadora, professora, organizadora comunitária e ativista. Fundou o Projeto Legado Chisholm: Um Centro de Recursos para Liderança Negra na Linha de Frente da Justiça Climática;
  • James Gustave (Gus) Speth, advogado ambiental e líder de longa trajetória no pensamento e na ação do movimento ambientalista norte-americano;
  • Jamie Margolin, escritora, cineasta, organizadora comunitária, ativista e palestrante colombo-americana. Cofundou o movimento climático juvenil Zero Hour;
  • Janja Lula da Silva, primeira-dama do Brasil e Enviada Especial para Mulheres da COP30;
  • Karenna Gore, colíder do Diálogo Regional da América do Norte e fundadora e diretora executiva do Center for Earth Ethics;
  • Marco Tedesco, pesquisador no Observatório LamontDoherty Earth da Universidade Columbia, membro do Explorers Club, professor associado ao Instituto de Ciência de Dados e integrante do Projeto de Meio Ambiente e Justiça Climática;
  • Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil;
  • Noelle Young, consultora para o Greenpeace UK, já trabalhou em programas de aquicultura sustentável no Caribe e em projetos de prosperidade oceânica nas Bermudas;
  • Patricia Espinosa, diplomata com mais de 40 anos de experiência em negociações multilaterais de alto nível e relações internacionais;
  • Robert Bullard, professor de planejamento urbano e política ambiental e diretor fundador do Centro Bullard para Justiça Ambiental e Climática na Universidade do Sul do Texas;
  • Roberto Múkaro Borrero, kasike (chefe) do povo indígena Guainía Taíno e presidente da Confederação Unida do Povo Taíno;
  • Robin Wall Kimmerer, escritora, poeta, cientista e integrante registrada da Citizen Potawatomi Nation;
  • Selwin Hart, assessor especial do secretário-geral das Nações Unidas para Ação Climática e Transição Justa;
  • Sérgio França Danese, representante Permanente do Brasil nas Nações Unidas;
  • Sophia Powless, educadora climática, artista e ativista da Nação Onondaga (Clã do Lobo), integrante da Confederação Haudenosaunee (também conhecida como iroquesa);
  • Thaddeus Pawlowski, cofundador e diretor executivo do Centro para Cidades e Paisagens Resilientes da Universidade Columbia;
  • Tzeporah Berman, especialista em políticas climáticas e eliminação gradual de combustíveis fósseis, é diretora de Programas Internacionais da Stand.earth e fundadora presidente da Iniciativa do Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis;
  • Veronica Raya, pesquisadora sênior do Center of Earth Ethics, com foco em relações com comunidades locais e trabalho cerimonial;
  • Wes Gillingham, presidente do conselho da Associação de Agricultura Orgânica do Nordeste e copresidente de seu comitê de políticas, atuando em questões agrícolas;
  • Yenny Vega Cárdenas, presidente e cofundadora do Observatório Internacional dos Direitos da Natureza, e membro da rede de especialistas do programa Harmonia com a Natureza das Nações Unidas.