Homenagem

ANITA STUDER

1 de outubro de 2025

ADEUS À ORNITÓLOGA E AMBIENTALISTA

Silvestre Gorgulho

Homenagem à criadora da Reserva Biológica de Pedra Talhada

Aos 36 anos, a ornitóloga suíça, Anita Studer, revolveu conhecer o Brasil para pesquisar o canto de alguns pássaros na região da Serra da Canastra, em Minas Gerais, onde nasce o Rio São Francisco. Anita era apenas uma estudante de pós-graduação quando integrou o grupo de pesquisa ligada à Unicamp – Universidade Estadual de Campinas. Era 1980. Anita Studer, imitando as águas do Velho Chico, voou para o Nordeste brasileiro e fez do Brasil sua segunda morada. A ornitóloga e ambientalista faleceu na madrugada do dia 15 de setembro, aos 81 anos, em Genebra, na Suíça.

Estudos e pesquisas da ornitóloga Anita Studer foram fundamentais no processo de regularização da Reserva Biológica de Pedra Talhada, hoje uma UC federal.

 

RUMO AO NORDESTE

Da Serra da Canastra, a missão científica rumou para o nordeste e chegou à região de Pedra Talhada, na divisa dos estados de Alagoas e Pernambuco. O local é habitat de um pássaro conhecido como Anumará. Anita e seu grupo não gostaram do que viram. A destruição ambiental da região – principalmente por causa da derrubada das matas para a extração de madeira e para o aumento da pecuária e agricultura – ameaçava tanto a floresta quanto o pequeno pássaro que Anita queria estudar. Um sobrevoo, na época, despertou a vontade da pesquisadora de preservar a Mata Atlântica que havia nos arredores da cidade de Quebrangulo para, assim, salvar também os pássaros. A missão parecia impossível. Ninguém tinha a consciência da importância da preservação. O primeiro grande trabalho era a mudança de mentalidade. E Anita Studer iniciou um trabalho com este objetivo. Criou uma ONG, buscou recursos na Suíça e iniciou um trabalho de educação tanto com moradores e fazendeiros como junto às autoridades locais.

 

HISTÓRICO DA CRIAÇÃO DA

RESERVA DE PEDRA TALHADA

A Ornitóloga e ambientalista Anita Suder, que nos deixou dia 15 de setembro, lembra que as primeiras conversas com os moradores da mata, fazendeiros e autoridades sobre a preservação da área, não foi nada fácil. Era consenso entre eles que “a floresta era bonita, mas não tinha muito valor e eles não poderiam assumir qualquer compromisso para a sua preservação. E que o destino da mata era mesmo desaparecer”. O esforço e a determinação de Anita Studer foram fundamentais para mudar a mentalidade. Ela conseguiu organizar reuniões públicas com prefeitos, vereadores, fazendeiros e sindicatos de trabalhadores rurais. O argumento maior que ela usou para a mudança era a importância da mata para sustentabilidade da represa da Carangueja, que fornece água à cidade de Quebrangulo e cinco outros municípios limítrofes. Todas as nascentes estão na área florestal. Só a partir de 1985, a mentalidade de proteção da Reserva começou a ganhar força entre moradores e autoridades locais.

 

Numa área de 50 kmencontram-se 165 nascentes que formam riachos e brejos que abastecem a zona rural adjacente. Nesse maciço foram registradas 22 espécies de aves pertencentes à lista vermelha das 227 espécies de aves brasileiras ameaçadas de extinção no Brasil. (Fotos: ICMBio)

 

RESERVA BIOLÓGICA DE PEDRA TALHADA

Os trabalhos científicos na área começaram com Anita Studer em 1980. Nessa época, a estimativa é que havia cerca três centenas de pássaros na região. Hoje, depois de todo o replantio florestal feito com ajuda dos moradores, a população de aves está na casa dos 3 mil. Localizada no agreste do Nordeste, nos estados de Alagoas e Pernambuco, a Reserva de Pedra Talhada é um dos maiores fragmentos de Mata Atlântica, preservando importantes trechos das Florestas do Interior de Pernambuco.

A Reserva Biológica Federal de Pedra Talhada é uma verdadeira ‘ilha florestal’ de Mata Atlântica que hospeda 10% de todas as aves brasileiras ameaçadas de extinção.

Segundo estudo botânico da Universidade de Genebra – uma ONG suíça patrocinou a pesquisa – hoje a reserva tem uma rica diversidade biológica de plantas, rãs, aves e cogumelos, mostrando que a floresta se recuperou e as árvores retêm água enriquecendo o solo que já conta com 169 nascentes.

O replantio da floresta, a preservação dos mananciais e o trabalho de proteção elevou muito biodiversidade da reserva.