Mata Atlântica

De forma inédita, trigêmeos de onça-parda são registrados na Reserva Biológica de Sooretama (ES)

11 de outubro de 2025

Flagrante raro indica boas condições ambientais para a espécie e reforça a importância da conservação da Mata Atlântica

Comunicação ICMBio

Armadilhas fotográficas instaladas na Reserva Biológica (Rebio) de Sooretama, no norte do Espírito Santo, registraram imagens inéditas de uma fêmea de onça-parda acompanhada de três filhotes. O flagrante, feito em agosto, revela um evento raro na natureza e representa um importante indicativo para a conservação da espécie na Mata Atlântica. 

Embora as onças-pardas (Puma concolor) possam ter mais de um filhote por gestação, o mais comum é o nascimento de dois indivíduos. A ocorrência de trigêmeos em ambiente natural é considerada incomum. Em cativeiro, já houve registro de ninhadas com até seis filhotes, mas, na vida livre, este número reforça as boas condições fisiológicas da mãe e a disponibilidade de território e alimento na unidade de conservação. 

“Esse registro representa a renovação da população de onça-parda na Reserva Biológica de Sooretama e renova também a nossa esperança na recuperação da espécie, que sofre diversas ameaças no Espírito Santo e em todo o bioma Mata Atlântica”, explica Ana Carolina Srbek, fundadora e coordenadora do Projeto Felinos, responsável pelo monitoramento da espécie desde 2005. 

Condições ambientais favoráveis 

As onças-pardas são predadoras de grande porte e dependem de áreas extensas e da presença de presas de médio e grande porte para sobreviver. O fato de os filhotes já apresentarem cerca de três meses no momento do registro indica que a mãe encontrou na reserva condições adequadas para a sua sobrevivência e de seus filhotes. 

Foto: Daniele Longui

A Rebio de Sooretama foi criada em 1982 e abrange 27.858 hectares entre os municípios de Jaguaré, Linhares e Sooretama. A unidade é considerada um dos principais refúgios da fauna da Mata Atlântica no Espírito Santo, abrigando espécies endêmicas e desempenhando papel essencial para a conservação da biodiversidade. 

Apesar disso, os filhotes enfrentarão desafios à medida que se tornarem independentes. “A disputa por território e alimento é um processo natural entre os felinos, mas a redução e fragmentação do habitat intensificam esses obstáculos. Por isso, é fundamental preservar áreas naturais e manter a integridade das unidades de conservação”, destaca Srbek. 

A perda de habitat, a caça de presas naturais e os atropelamentos em rodovias estão entre as principais ameaças às populações de grandes felinos, como a onça-parda e a onça-pintada, ambas ameaçadas de extinção na Mata Atlântica. 

Próximos passos 

O Projeto Felinos seguirá acompanhando o desenvolvimento dos filhotes por meio das câmeras instaladas na reserva, com o objetivo de verificar sua sobrevivência até a idade adulta. Em uma perspectiva mais ampla, a iniciativa busca promover a convivência harmoniosa entre comunidades rurais e felinos silvestres no Espírito Santo, por meio de ações de educação ambiental, proteção dos habitats e incentivo a práticas que evitem conflitos com animais domésticos e criações. 

“O nascimento desses trigêmeos é um presente da natureza, mas também um alerta sobre a importância de mantermos os ecossistemas protegidos. Só assim será possível garantir a sobrevivência dos grandes felinos e de toda a biodiversidade associada à Mata Atlântica”, conclui Ana Carolina.