Conservação

Primeira espécie troglóbia descoberta no Rio Grande do Norte acaba de ser descrita, e já pode estar ameaçada de extinção

8 de outubro de 2025

Mais do que uma nova espécie, a Brasilana spelaea representa uma oportunidade única de ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade subterrânea brasileira e reforçar ações de conservação ambiental no semiárido

Comunicação ICMBio

Brasilana spelaea – Foto: Diego M. Bento

As cavernas do Rio Grande do Norte e do Ceará resguardam uma espécie emblemática. A Brasilana spelaea é uma espécie troglóbia (que só ocorrem em habitats subterrâneos) de Cirolanidae (uma família de isópodes aquáticos) e, embora recém-descrita, já pode estar em risco de extinção devido à indústria de calcário, ao turismo desregulado e à exploração das águas subterrâneas na maioria das áreas onde ocorre. As informações fazem parte do artigo “The first Brazilian troglobitic species of Cirolanidae (Isopoda, Cymothoida) – a potentially threatened species”, publicado na revista científica internacional Zootaxa, especializada em zoologia e taxonomia de animais. A nova espécie é tão diferente das outras já conhecidas nesta família que um novo gênero (Brasilana) precisou ser criado. 

“Essa foi a primeira espécie troglóbia descoberta no Rio Grande do Norte, há mais de 20 anos. Trata-se de um relicto oceânico (descende de ancestrais marinhos). Até o momento, no Brasil, só são conhecidos relictos oceânicos nessa região”, coloca Diego Bento, analista ambiental do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (ICMBio/Cecav) e um dos autores do artigo científico em questão. 

O servidor do ICMBio também descreveu que a raridade da descoberta chamou a atenção de pesquisadores, e pode ser considerada o estopim de quase todas as pesquisas bioespeleológicas que hoje destacam o Rio Grande do Norte entre as principais áreas brasileiras em riqueza de espécies troglóbias. 

As influências do paleoclima potiguar na evolução da biodiversidade subterrânea  

As mudanças geológicas e paleoclimáticas que aconteceram ao longo de milhões de anos no Rio Grande do Norte foram essenciais para a origem dessa biodiversidade subterrânea única. Segundo pesquisas realizadas na região, quase metade das espécies atualmente conhecidas de troglóbios aquáticos (16 das 40 já descobertas), os chamados estigóbios, são considerados relictos oceânicos.  

Entre os eventos que originaram essas espécies estão transgressões (avanços) e regressões (recuos) oceânicos. Seus ancestrais viviam no mar e, após uma transgressão oceânica, ou seja, quando o nível do oceano subiu, colonizaram espaços subterrâneos. Depois, quando o mar recuou, ficaram presos nesses ambientes e continuaram a viver ali, adaptando-se às condições subterrâneas. 

Há outras diversas pesquisas que indicam como grandes transformações climáticas e na paisagem ocorreram ao longo do tempo. Algumas delas estão descritas no livro recém-lançado CaveRNas: o carste potiguar. 

Descobertas norteiam ações de conservação 

Além de reiterar o entendimento de que o Brasil é o país com a maior biodiversidade do mundo, a descoberta de novas espécies subterrâneas também é fundamental para balizar ações de conservação e proteção. Iniciativas como o desenvolvimento do turismo sustentável, que não implique em impactos negativos a ambientes sensíveis, como as cavernas; a definição de áreas prioritárias para conservação; avaliação do risco de extinção de espécies; programas de monitoramento e pesquisa científica, entre outras ações, são essenciais para melhor conhecer e conservar essa biodiversidade única.