A emergência climática é uma crise de desigualdade
10 de novembro de 2025Presidente defende transição justa e criação de Conselho Mundial do Clima durante abertura da conferência em Belém
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira (10), na abertura da 30ª Conferência das Partes (COP30), em Belém (PA), que a crise climática é também uma crise de desigualdade. Segundo ele, a governança global precisa promover uma transição justa para economias de baixo carbono e evitar um colapso planetário.
“A emergência climática é uma crise de desigualdade. Ela aprofunda a lógica perversa que define quem é digno de viver e quem deve morrer. Devemos às futuras gerações a chance de sonhar com um planeta possível”, declarou Lula, sob aplausos dos participantes.
A COP30 — realizada pela primeira vez na Amazônia, o bioma com maior biodiversidade do planeta e peça-chave na regulação do clima global — reúne líderes de quase 200 países até o dia 21 de novembro, com o desafio de recolocar o tema das mudanças climáticas no centro das prioridades internacionais.
Desigualdade e responsabilidade global
Lula destacou que uma transição justa deve reduzir as assimetrias históricas entre o Norte e o Sul Global, construídas ao longo de séculos de emissões desproporcionais. Ele também alertou que o aquecimento global ameaça empurrar milhões de pessoas para a fome e a pobreza, revertendo décadas de avanços sociais.
O presidente defendeu que políticas de adaptação considerem os impactos desiguais sobre mulheres, populações negras, migrantes e grupos vulneráveis, e ressaltou o papel fundamental dos povos indígenas e comunidades tradicionais na preservação das florestas.
“Mais de 13% do território brasileiro são terras indígenas demarcadas. Talvez ainda seja pouco”, afirmou.
Durante o discurso, Lula citou o líder indígena Davi Kopenawa para pedir serenidade e clareza nas negociações:
“O xamã yanomami Davi Kopenawa diz que o pensamento na cidade é obscuro, obstruído pelo ruído das máquinas. Espero que a floresta nos inspire a enxergar o que precisa ser feito.”
Críticas aos negacionistas e defesa da ciência
O presidente fez duras críticas aos grupos que disseminam desinformação e negam a ciência climática, classificando esta edição da conferência como a “COP da Verdade”.
“Os obscurantistas controlam algoritmos, espalham medo e ódio, e atacam a ciência. É hora de impor uma nova derrota aos negacionistas”, disse.
“Sem o Acordo de Paris, o mundo estaria caminhando para um aquecimento catastrófico de quase cinco graus. Estamos na direção certa, mas na velocidade errada.”
Acelerar a ação climática
Lula pediu que os países acelerem as medidas de contenção do aquecimento global e voltou a defender um “mapa do caminho” para abandonar gradualmente os combustíveis fósseis, responsáveis por 75% do aquecimento do planeta. Ele sugeriu ainda a criação de um Conselho Mundial do Clima, vinculado à Assembleia Geral da ONU, como forma de fortalecer a governança climática global.
“Precisamos transformar palavras em ações. Avançar exige uma governança mais robusta, com financiamento, tecnologia e capacitação aos países em desenvolvimento.”
Segundo o presidente, os desastres recentes — como o furacão Melissa, que atingiu o Caribe, e o tornado no Paraná — são exemplos de que “a tragédia climática já é presente”. Ele lembrou ainda de incêndios, secas e enchentes em diferentes continentes, que atingem com mais força as populações mais pobres.
No coração da Amazônia
Antes de iniciar o discurso oficial, Lula fez uma fala espontânea para agradecer ao povo paraense pela hospitalidade e destacou o simbolismo de sediar a conferência na Amazônia.
“Trazer a COP para o coração da floresta foi uma tarefa árdua, mas necessária. Quem só vê a Amazônia de cima não compreende o que acontece sob suas árvores”, afirmou.
O presidente aproveitou o momento para elogiar a culinária local — recomendando que os visitantes experimentem a maniçoba — e ironizou os altos gastos militares mundiais:
“Cuidar do clima é mais barato do que fazer guerra”, disse, lembrando que as despesas globais com armamentos superam US$ 2 trilhões, enquanto o financiamento climático precisa alcançar US$ 1,3 trilhão por ano.
