Civilização e Cultura

PERGUNTAS COMPLEXAS SOBRE A VIDA

13 de novembro de 2025

MAIOR DESCOBERTA DO SER HUMANO? O MAIS ANTIGO SINAL DE CIVILIZAÇÃO?

Silvestre Gorgulho

Da mesma forma que conceitos de civilização e cultura, muito usados e confundidos, têm significados distintos, também a resposta à pergunta de ‘qual foi a maior descoberta do ser humano’ tem respostas complexas. Segundo pesquisadores e antropólogos não existe uma única “maior descoberta”.  O que se aceita nas pesquisas é que o domínio do fogo (saber acender, apagar e usar) é considerado como fundamental para o desenvolvimento da espécie e da sociedade humana. O que vale destacar é que os conceitos de civilização e cultura têm significados complementares, mas são bem diferentes.

 

O FOGO

O domínio do fogo foi um avanço fantástico. Ao ver os raios cortando os céus e ao dominar esse fenômeno natural o ser humano conseguiu se aquecer, proteger-se dos predadores e ainda cozinhar os alimentos. Como nenhuma outra criatura do Planeta, o ser humano conseguiu usar a seu favor um fenômeno natural para ajudar a vencer as dificuldades diárias.

Além de possibilitar o uso de variados alimentos, sobretudo proteínas, o fogo foi fundamental na conservação e no estoque de alimentos. Mais do que facilitar a busca da alimentação diária, cientistas mostram que a evolução intelectual do ser humano deve ser levado em conta pela melhoria da alimentação. Outras descobertas facilitaram muito a vida do ser humano como a roda, a domesticação de animais e a escrita. Modernamente, novas descobertas também entram nessa relação e são vitais para o progresso civilizatório. Por exemplo, a descoberta a penicilina e de outros antibióticos, a teoria da relatividade, as ondas magnéticas, o rádio, a televisão, a internet e por aí vai.

CIVILIZAÇÃO E CULTURA

Quanto aos conceitos de civilização e cultura, embora meio que confundidos no seu uso, têm significados distintos e complementares.

Quando se fala em civilização, a referência imediata é sobre o estágio avançado de organização social e de desenvolvimento humano. Neste sentido estão as leis, as estruturas de governo e de cidades.

Já a cultura tem outra abrangência como valores, tradições, crenças, costumes, formas de expressão de um povo que, de certa forma, definem sua identidade e modo de viver. São saberes que passa de geração para geração. Pode-se citar, por exemplo, a linguagem, a religião, a arte, a gastronomia e a indumentária.

Sobre cultura, há um dado muito importante por ela ser extremamente dinâmica. A cultura pode ter uma evolução a cada época. As tecnologias, as descobertas e fatores externos e internos – como revoluções, conquistas, migração, globalização – influenciam e evoluem ao longo do tempo. Assim, a cultura tem uma evolução, independente do continente, do país, do estado ou da região.

Cultura é universal. Todos os povos em todos os lugares têm sua cultura.

O PASSO MAIS IMPORTANTE DA CIVILIZAÇÃO

A antropóloga Margaret Mead responde a um estudante qual o sinal mais antigo que ela considera o início de civilização em uma cultura.

 

Existe uma história popular atribuída à antropóloga Margaret Mead sobre o sinal que deu origem à civilização. O professor Gideon Lasco, que leciona antropologia na Universidade das Filipinas, pesquisou a fundo essa história que viralizou na internet e é sempre citada em palestras e conferências. A história é a seguinte:

Em uma conferência, um estudante universitário perguntou à antropóloga Margaret Mead qual o sinal mais antigo que ela considerava início de civilização em uma cultura.

O aluno esperava que Mead falasse sobre lanças, panelas de barro ou pedras de moer. Mas não, a antropóloga Margaret Mead respondeu que o primeiro sinal de civilização numa cultura antiga era um fêmur que tinha sido quebrado e depois curado.

Mead explicou que no reino animal, se você quebrar uma perna, você morre. Você não pode fugir do perigo, ir ao rio beber ou buscar comida. Você é uma presa fácil para predadores e saqueadores.

Nenhum animal sobrevive a uma perna partida o tempo suficiente para o osso curar. Um fêmur quebrado e curado é a prova de que alguém se deu ao trabalho de ficar com quem o quebrou, apertou a ferida, levou-o para um lugar seguro e ajudou a recuperar. Mead disse que ajudar alguém necessitado é onde começa a civilização da nossa espécie.

TESE DO PROFESSOR GIDEON LASCO

Há muitos depoimentos sobre o caso. O professor Gideon Lasco fez uma tese que investiga a tese contada por Mead. Para ele, o próprio conceito de “civilização” ou “sociedade civilizada” na anedota é problemático — e a maioria dos antropólogos contemporâneos não o consideraria garantido sem questioná-lo. “Muitos de nós podemos considerar a bondade altruísta um dos melhores e mais “naturais” atributos da humanidade. É por isso que a citação “Ajudar alguém em meio às dificuldades é onde a civilização começa” estava fadada a viralizar — independentemente de Mead tê-la dito ou não. No entanto, essa afirmação encobre as formas violentas com que o próprio conceito de “Civilização” foi usado pelas potências coloniais para subjugar “selvagens” e “sociedades primitivas”. Além disso, nossa espécie provavelmente causou mais danos ao próprio planeta do que qualquer outra espécie.

Margaret Mead: “Um fêmur quebrado e curado é a prova de que alguém se deu ao trabalho de ficar com quem o quebrou, apertou a ferida, levou-o para um lugar seguro e ajudou a recuperar.”

Para alguns estudiosos, o início da civilização aconteceu quando os seres humanos deixaram de ser nômades e caçadores. Assim passaram a criar assentamentos e moradias permanentes, com o cultivo da terra e a domestificação de animais. Desde então, passaram a criar regras, normas, procedimentos e leis para o convívio social.

Voltando à tese de Margaret Mead, o arcebispo gaúcho Dom Jacinto Bergmann, tem uma conclusão cristã: “ A civilização é resultado de amor-caridade. A civilização é resultado de cuidado-ajuda. Amor-caridade e cuidado-ajuda caminham juntos. Está claro que amor é cuidado: cuida-se de quem se ama; não se cuida de quem não se ama. Por isso, Deus é amor-cuidado por excelência”.