Folha do Meio HÁ 14 ANOS

12 de dezembro de 2003

Ministro da Cultura: Meio Ambiente também é CulturaPara o ministro da Cultura, José Aparecido de Oliveira, é da maior importância que o Ministério e as secretarias de Cultura de todos os estados assumam também a responsabilidade das questões ambientais, inclusive da cultura indígena. Acrescentou José Aparecido: “Todos devem estar atentos aos problemas ambientais, porque as… Ver artigo

Ministro da Cultura: Meio Ambiente também é Cultura
Para o ministro da Cultura, José Aparecido de Oliveira, é da maior importância que o Ministério e as secretarias de Cultura de todos os estados assumam também a responsabilidade das questões ambientais, inclusive da cultura indígena. Acrescentou José Aparecido: “Todos devem estar atentos aos problemas ambientais, porque as diferentes culturas são, em grande parte, reflexo do ambiente em que se desenvolvem”.


“Não é possível ocultar o aspecto anticultural da depredação da natureza, quando temos queimadas criminosas, rios poluídos, fauna dizimada e a flora exposta a procedimentos verdadeiramente criminosos. A modificação constante da paisagem natural, sendo substituída pelo avanço tecnológico desequilibrado, tem produzido graves desastres ecológicos”, lembrou José Aparecido de Oliveira.


Paulo Nogueira quer fundo gerenciado pela ONU
Criar um fundo internacional, constituído por parte da dívida externa, com recursos da ordem de 1 a 2 bilhões de dólares por ano, gerenciado pela ONU, foi a proposta apresentada por Paulo Nogueira Neto, professor da USP e primeiro secretário Nacional do Meio Ambiente. Para Paulo Nogueira Neto, esse é o caminho mais rápido para se obter divisas para atacar os problemas ambientais do mundo.


Esse fundo integraria os países desenvolvidos e em desenvolvimento, com quotas distintas, onde os juros seriam utilizados para fins ambientais, saúde e educação.
“O mundo precisa de idéias práticas que não onerem apenas um lado, enquanto um outro lado se beneficia”, argumenta Paulo Nogueira Neto e acrescenta: “A Amazônia é o caso mais urgente, tanto para o Brasil, quanto para o mundo”.


Para a região norte, o ambientalista e professor da USP entende que o Brasil deve trabalhar em três frentes prioritárias: a primeira é o ordenamento territorial ou zooneamento ecológico econômico. O segundo diz respeito à ocupação da área, levando em conta a experiência frustrada. E o terceiro, é um estudo dos impactos climáticos, já que as mudanças nesse setor podem ser bastante rápidas.


Negociação da dívida é boa opção
E mea-culpa da Petrobrás
Para o cientista Paulo de Tarso Alvin, “num país em desenvolvimento como o nosso, não vejo necessidade de pedir dinheiro emprestado para a preservação. É preciso, isso sim, negociar a dívida conseguindo ajuda para melhor utilização dos recursos naturais, através do incentivo à pesquisa e do avanço da tecnologia”.


Philip Fearnside, pesquisador do INPA, condenou o mau uso do solo amazônico, com desgaste sem controle de recursos naturais e a implantação de projetos agropecuários e construção de obras faraônicas sem nenhuma projeção para o alto custo ambiental.


Nélio Paes de Barros, da Divisão de Engenharia e Segurança em Meio Ambiente da Petrobrás, fez um “mea-culpa” da sua empresa, afirmando que nas primeiras prospecções em solo amazônico “não cuidamos do meio ambiente como deveria”. Mas acabou revelando que pelo menos no campo das intenções já existe, na Petrobrás, projetos visando a um melhor gerenciamento dos recursos naturais.

Folha do Meio HÁ 14 ANOS

Entrevista LUIZ SIMÕES LOPES

8 de dezembro de 2003

Mais atual, difícil. Mais oportuno, nunca. Quando vemos hoje a ONU e outras entidades propondo estratégias para se obter um desenvolvimento sustentável, recomendando maneiras e ajudando a definir noções comuns relativas a questões ambientais, não podemos imaginar que, neste mesmo Brasil, tão alvo de agressões do exterior, há 59 anos, precisamente em março de 1930,… Ver artigo

Mais atual, difícil. Mais oportuno, nunca. Quando vemos hoje a ONU e outras entidades propondo estratégias para se obter um desenvolvimento sustentável, recomendando maneiras e ajudando a definir noções comuns relativas a questões ambientais, não podemos imaginar que, neste mesmo Brasil, tão alvo de agressões do exterior, há 59 anos, precisamente em março de 1930, um brasileiro reformista, inconformado, empreendedor e sonhador já estava lutando pela nossa natureza. É fantástico ver que, este brasileiro, com 86 anos, despachando oito horas por dia em seu gabinete, ainda propõe soluções para o hoje e para o amanhã, com a mesma serenidade, lucidez e competência com que, em julho de 1938, por exemplo, promoveu o divisor de águas da administração pública brasileira com a criação do DASP, ou quando assinou a Exposição de Motivos ao presidente da República, para a criação da Fundação Getúlio Vargas.


O professor Luiz Simões Lopes, gaúcho, agrônomo formado em Belo Horizonte, um dos criadores da FBCN – Fundação Brasileira para Conservação da Natureza, mentor e primeiro diretor geral do Serviço Florestal, lançador de revistas sobre cultura e educação, como a Revista Florestal, de onde foram tiradas estas citações, desde a década de 20, sinalizava, pela primeira vez no País, “que a Terra era uma bola frágil e pequena, dominada não pela ação e pela obra do homem, mas por um conjunto ordenado de nuvens, oceanos, vegetação e solos” (Comissão Brundtland-1988) Simões Lopes vislumbrou, desde então, a grandiosidade desta tarefa. A humanidade precisava agir conforme essa ordenação natural. Há mais de meio século, este brasileiro – único na sua medida do País – deu seu grito de alerta. Viva a vida… Silvestre Gorgulho foi até sua sala na FGV, no Rio, e conversou com o professor. Eis a entrevista publicada na Folha do Meio, em 1989:


FMA – Seu pai, Idelfonso Simões Lopes, foi ministro da Agricultura de Epitácio Pessoa. Este fato influenciou sua formação de agrônomo?
Simões Lopes –
Não, talvez tenha me interessado por agronomia, porque meu irmão mais velho estudou agronomia na Argentina. E, também, porque nós tínhamos fazenda. Formei-me em Belo Horizonte, mais fui aluno da Escola Luiz de Queiroz, em Piracicaba. Lá fui presidente de uma associação de classe, que estava parada e que incluía também professores da escola. Consegui uma coisa muito importante que foi reviver a revista da associação que se chamava “O Solo”. Sou um criador de revistas. Em Niterói, trabalhei na revista “A Rama” e, no Ministério da Agricultura, criei a “Revista Florestal”.


FMA – Todos os movimentos de saúde, de educação, de cultura e de valorizado do patrimônio têm seu apoio. Há 31 anos o senhor criou a FBCN…
Simões Lopes –
Não, eu não fui o criador. Fui um dos que tomou parte naquele movimento. A fundação foi criada por um grupo grande. Nesta época, eu trabalhava com e presidente JK.


FMA – Quando o senhor começou a trabalhar com floresta?
Simões Lopes –
Eu fui, em 1925, oficial do Gabinete do ministro Miguel Calmon. Fui convidado para ser secretário da Comissão, que ele tinha designado para preparar a legislação inicial do Serviço Florestal.


FMA – O senhor também foi o criador de várias revistas.
Simões Lopes –
É que eu já tinha um interesse muito grande pelo assunto. Em 1930, eu já tinha a “Revista Florestal”. Este aqui é um número bonito que consegui fazer (mostrando o exemplar). Eu era o diretor técnico, e o Francisco Rodrigues de Alencar, o gerente. Foi em 1930, era impressa no Rio de Janeiro e à minha custa.


FMA – Como compatibilizar ecologia e desenvolvimento?
Simões Lopes –
Não há incompatibilidade. O território onde está situado Berlim, uma das grandes cidades do mundo, tem 75% de cobertura florestal.


FMA – Como o senhor vê a ocupação da Amazônia?
Simões Lopes –
Considero uma destruição. Ela deveria ser ocupada, mas de maneira racional. A tecnologia tem que ir na frente. Conservando as matas densas, explorando, de maneira racional, as florestas. As nossas florestas, inclusive, são muito ricas até em remédios. Tirar uma floresta nativa e substituí-la por uma floresta produtiva é perfeitamente justificável. É só fazer um manejo. As árvores também têm vida e não vivem para sempre. Há uma certa época em que elas podem ser cortadas.