Câmara Brasil-Alemanha Anuncia Vencedores do Prêmio von Martius
3 de dezembro de 2003A Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha acaba de anunciar os vencedores da edição 2003. Foram três projetos selecionados nas categorias: humanidade, natureza e tecnologia. “Selecionamos nove projetos para os três primeiros lugares de cada categoria e três menções honrosas, uma em cada categoria. A tarefa não foi fácil, pois recebemos 112 projetos de todo… Ver artigo
A Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha acaba de anunciar os vencedores da edição 2003. Foram três projetos selecionados nas categorias: humanidade, natureza e tecnologia.
“Selecionamos nove projetos para os três primeiros lugares de cada categoria e três menções honrosas, uma em cada categoria. A tarefa não foi fácil, pois recebemos 112 projetos de todo país”, comenta Ricardo Rose, diretor do departamento de Meio Ambiente da Câmara Brasil-Alemanha.
O júri foi composto por Klaus Hermann Behrens, Presidente do Conselho da Henkel e Presidente do júri, Hayrton Rodrigues do Prado Filho, Diretor da Editora EPSE, Julio Tocalino Neto, Diretor da Revista do Meio Ambiente, Graças Lara, Diretora da Ambiente Global, Nanci Vieira, Diretora do Jornal Terramérica / Agência Envolverde, Newton Pereira, Gerente Executivo da Carl Duisberg Brasil, Silvestre Gorgulho, Diretor Geral da Folha do Meio Ambiente, Vilmar Berna, Editor do Jornal do Meio Ambiente, Claus Hoppen, Presidente do Conselho da Mahle Metal Leve S.A., Hermann Wever, Presidente do Conselho da Siemens Ltda e Marcelo Donnini Freire, Auditor da PricewaterhouseCoopers Auditores Independentes.
Conheça os projetos vencedores:
– HUMANIDADE: Projeto Terra
O projeto premiado com o primeiro lugar na Categoria Humanidade – o Projeto Terra – se insere num dos aspectos mais delicados do modelo de desenvolvimento econômico atual: o consumo responsável. Seus autores foram mais longe ainda, ao criarem a primeira loja do Brasil a propor o consumo responsável e solidário como forma de garantir a geração de renda para comunidades excluídas do mercado formal de trabalho e de mercado e, com isso, promover desenvolvimento eco-eco, isto é, econômico e ecológico.
Ricardo Pedroso e Marcos Nisti, autores do projeto, enfrentaram resistências quando, em meados de 2001 começaram a pesquisar produtos brasileiros com origem social e ecológica que levassem em conta a qualidade, a infra-estrutura dos fornecedores e suas necessidades, para vender em uma loja especializada. Os produtores – ONGs, entidades filantrópicas, artesãos, comunidades carentes ou indústrias que trabalham com matérias-primas de origem ecológica – recebiam de Ricardo e Marcos o preço pedido (sem negociações que asfixiassem o produtor) e a promessa de um lugar digno para expor o produto na loja Projeto Terra – desde que, como contrapartida, se comprometessem com a melhora ou ao menos a manutenção da qualidade dos produtos oferecidos, incluindo aí aspectos de design. É claro que fatores como falta de crédito, elevado risco de não entrega da mercadoria e possibilidade de simples desaparecimento dos fornecedores, geralmente eliminatórios na cartilha de um analista de compras de uma loja convencional, tiveram que ser revistos.
Ricardo e Marcos tinham experiência de convivência com normas certificadoras de qualidade e origem ambiental, adquirida ao trabalharem em uma empresa que fabricava móveis certificados pelo FSC – Forest Stewardship Council. Em maio de 2002, depois de ampla pesquisa em âmbito nacional, o Projeto Terra abriu as portas no Shopping Center Vila Lobos de São Paulo com 15 fornecedores aprovados – que se transformariam em 85 em outubro de 2003. Desde o início as qualidades eco-eco permeavam tudo, desde o espaço físico (a loja em si é toda construída com materiais certificados), os produtos, o perfil de negociação e a própria concepção do negócio.
Para manter o conceito proposto pelo Projeto Terra foi necessário estabelecer outros tipos de parcerias que vão além da relação de compra e venda entre duas partes. Assim, desde o início têm sido parceiros do projeto não só os fabricantes, mas também organizações que atuam como capacitadores destes fabricantes, como o SEBRAE, o Programa Artesanato Solidário, órgãos do governo estadual e designers, com programas executados por organizações como Grupo Primavera, Aldeia do Futuro, Coopa-Roca, Monte Azul, Mensageiro dos Ventos, Oficina Gente de Fibra e ADERE. Atuam ainda como certificadores e divulgadores de valores ecológicos, entidades como WWF-Brasil, Imaflora e Amigos da Terra.
Com toda mobilização obtida, o Projeto Terra cresceu e responde satisfatoriamente ao business-plan de seus autores, que prevêem a abertura de 10 lojas entre 2004 e 2005 em regime de franquia. Em menos de um ano recebeu dois prêmios – o Planeta Casa, da Editora Abril e o de Responsabilidade Social no Varejo, da Fundação Getulio Vargas, sendo apresentado como caso de sucesso em fóruns especializados.
– NATUREZA: Projeto Animalis – Faber Castell
O “Projeto Animalis”, apresentado pela A.W. Faber-Castell e reconhecido pela Comissão Julgadora como Primeiro Lugar na Categoria Natureza, é um exemplo prático e clássico do sucesso de uma teoria – a de que é possível ter desenvolvimento econômico com preservação ambiental.
Para fabricar seus produtos a empresa precisa de madeira, como matéria-prima. Desde 1989, quando iniciou o plantio de pinheiros (pinus caribae) em terras parcialmente degradadas por pastagens na região de cerrado do município de Prata, em Minas Gerais, a Faber-Castell adota uma filosofia de trabalho conservacionista, traduzida em práticas florestais de baixo impacto e adoção de técnicas modernas de utilização dos recursos naturais.
Além do emprego de tecnologias amigáveis, nos parques florestais formados por 6,7 mil hectares de plantio e 2,3 mil hectares de preservação permanente e reserva legal, são realizados pela empresa inúmeros projetos de monitoração, recuperação e proteção de flora e fauna, com destaque para o Projeto Animalis, focado na preservação da fauna silvestre do ecossistema cerrado.
Iniciado em 1991, o projeto partiu de um Convênio de Cooperação Técnica e Científica com a UFSCAR – Universidade Federal de São Carlos que realizou um dos primeiros inventários faunísticos em áreas sob influência de plantios de pinus no Cerrado. Foi registrada a ocorrência de 145 espécies de aves – entre elas o papagaio-galego, então ameaçado de extinção – e 27 espécies de mamíferos – entre as quais o tamanduá-bandeira, a cuíca e o lobo-guará, também presentes nas listas do IBAMA. O lobo-guará foi motivo de estudos especiais, que subsidiaram um estudo de pós-graduação (nível mestrado) sobre a ecologia alimentar deste animal.
Como a conservação da biodiversidade de um ecossistema exige uma visão global, a partir deste trabalho foram implantados vários projetos complementares ou acessórios, como o Projeto Arboris – voltado para o enriquecimento das matas nativas com o plantio de 60.000 mudas de espécies florestais para servirem de alimento para os animais – o Projeto ECOmunidade, que provê programas de educação ambiental para funcionários e comunidades vizinhas, e programas técnicos de conservação do solo (em conjunto com a Universidade de Brasília) e de recursos hídricos.
No ano de 2002, foi realizada a segunda fase do Projeto Animalis, na qual pesquisadores da USP – Universidade de São Paulo realizaram nova pesquisa na área para permitir a comparação com o estudo anterior – realizado há nove anos – além de obterem as primeiras informações técnicas sobre a população de insetos, que além de integrarem a cadeia alimentar, são também indicadores do estado de conservação dos maciços florestais. Um CD e um livro foram produzidos como registro do trabalho. Nesta fase, além dos animais encontrados no primeiro levantamento, foi registrada a ocorrência de outras espécies em risco de extinção, como a onça-parda, o tamanduá-mirim, o tatu-de-rabo-mole, a ema e o mutum-pinima.
Em 2003, o estudo foi estendido a outros seis parques florestais da empresa, pesquisando-se aves e mamíferos em mais 5 mil hectares – a Fase III do Projeto Animalis – comemorando-se 12 anos de investimento em conhecimento científico e atuação decidida para modificar positivamente o ambiente encontrado em 1989.
Pelos resultados práticos apresentados – hoje as áreas protegidas pela empresa são o principal refúgio de animais na região – e pelo envolvimento com a comunidade científica, funcionários, organismos de governo e comunidade, o Projeto Animalis foi finalista em premiações como o Prêmio Super-Ecologia e o Prêmio de Mérito Ambiental do Instituto Brasileiro de Defesa da Natureza e classificado em terceiro lugar na Categoria Natureza da Edição 2002 do Prêmio Ambiental von Martius. Este ano, com a ampliação do projeto para seis novas áreas florestais da empresa, a Comissão Julgadora decidiu outorgar o primeiro lugar ao Projeto Animalis, destacando-o como modelo de atuação empresarial responsável com amplos benefícios para a empresa, a natureza e a comunidade.
– TECNOLOGIA: A garrafa que virou resina – BASF
Tecnologia desenvolvida no Brasil, substituição de matéria-prima virgem não-renovável por reciclada, retirada de 50 milhões de garrafas de PET do lixo, geração de renda para centenas de pessoas, redução em 40% o volume de efluentes no processo industrial e redução de custos de produção e na ponta final – a do consumidor. Foi este processo que deu à BASF o título de Primeiro lugar na Categoria Tecnologia da Edição 2003 do Prêmio Ambiental von Martius, com o projeto “A garrafa que virou resina”.
O processo de desenvolvimento da tecnologia para este projeto consumiu quatro anos e muito investimento: as pesquisas foram iniciadas em 1998, envolveram diretamente 27 profissionais das áreas de pesquisa, suprimentos, produção, segurança, meio ambiente e controle de qualidade da empresa e a formulação chegou à linha de produção, como insumo de tintas (esmaltes e vernizes com as marcas Suvinil e Glasurit) em 2002.
O Brasil consumiu, em 2002, 300.000 toneladas de PET para produzir garrafas plásticas para refrigerantes e alimentos. Deste total, 89.000 (35%) foram recicladas e 65% acabaram nos lixões das cidades. O processo da BASF é hoje responsável pela utilização de 18.000 toneladas/ano de resinas fabricadas com PET reciclado no país (3% do total), o que significa três vezes mais do que todos os programas oficiais de coleta seletiva implantados em 200 municípios brasileiros, juntos. Na seqüência de um processo gradual de substituição, a partir de agosto de 2002, 100% da resina utilizada na produção de tintas da BASF já passou a ser com resinas recicladas, gerando uma economia estimada em torno de R$ 3 milhões por ano.
Mas o processo também apresenta ganhos no campo industrial, uma vez que reduz o consumo de matérias-primas de fontes não renováveis (petróleo) e promove uma redução de 40% de água necessária para a fabricação.
Do ponto de vista social também são importantes os ganhos. O novo processo retirou cerca de 50 milhões de garrafas de PET das ruas em 2002 – contribuindo na diminuição da poluição nas ruas e entupimento de bueiros – e gerou centenas de empregos na coleta seletiva, integrando organizações formais e informais de catadores de lixo reciclável a cadeia de suprimento de uma grande organização.
O projeto “A garrafa que virou resina”, ao lado de outros realizados pela empresa, como o Projeto Crescer, que em 2002 recebeu investimentos da ordem de R$ 860.000,00 no aumento de oportunidades para jovens carentes em todo páis, faz parte do modelo de Desenvolvimento Sustentável que a BASF adota, no Brasil e em todos os países nos quais atua, como norma de ação.
Conheça os outros colocados:
– Categoria Humanidade
2º lugar
Nome do Projeto: Associação dos Catadores de Papel de Francisco Beltrão-PR
Participante: Sr. João Bactista Manfroi
3º lugar
Nome do Projeto: Projeto de Educação Ambiental
Participante: CET Ítalo Bologna / SENAI Mossoro IRN / Sra. Rosalina Fernandes Costa e Sra. Maria de Fátima Oliveira
Menção honrosa
Nome do Projeto: Projeto Robalo
Participante: Instituto Arruda Botelho / Sra. Valesca Magalhães
– Categoria Natureza
2º lugar
Nome do Projeto: Projeto Abelhas Nativas
Participante: Associação Matanhense para a Conservação da Natureza – AMAVIDA / Sr. Murilo Sérgio Drummond
3º lugar
Nome do Projeto: Hospitalidade e responsabilidade sócio-ambiental
Participante: Associação de Hotéis Roteiros de Charme / Sr. Helenio Waddington
Menção honrosa
Nome do Projeto: Mudanças globais na Amazônia e serviços ambientais
Participante: Philip Martin Fearnside
– Categoria Tecnologia
2º lugar
Nome do Projeto: Regeneração de areias de fundição utilizando unidade móvel de tratamento
Participante: IPT S.A. / Sr. Claudio Luiz Mariotto
3º lugar
Nome do Projeto: A ecologia como projeto empresarial
Participante: DaimlerChrysler do Brasil / Sra. Alicia Fernandez e Sr. Guilherme Heinz
Menção Honrosa:
Nome do Projeto: Desenvolvimento sustentável: um caso real e implementado
Participante: Bioland Indústria e Comércio de Composto Orgânico Ltda. / Sra. Kátia Goldschmidt Beltrame
Sobre o Prêmio von Martius
O Prêmio Ambiental von Martius, realizado desde 2000, tem como objetivo reconhecer o mérito de iniciativas de empresas, do poder público, de indivíduos e da sociedade civil que promovam o desenvolvimento econômico com respeito ambiental. Podem concorrer projetos concluídos ou em realização por empresas, instituições públicas ou privadas, indivíduos, ou organizações não governamentais sediadas no Brasil, associadas ou não às Câmaras Brasil-Alemanha.
A principal novidade deste ano ficou por conta da auditoria da PriceWaterhouseCoopers – iniciativa inédita em prêmios ambientais. Outra novidade para esta edição foi a instituição de uma taxa de inscrição para os projetos. Este é o prêmio ambiental mais concorrido do Brasil, desde sua instituição até hoje, mais de 600 trabalhos foram analisados e mais de 20 foram premiados ou receberam menção honrosa.
Como a procura por informações sobre o prêmio é crescente a cada ano, a Câmara Brasil-Alemanha criou um site especial sobre o prêmio que pode ser acessado pelo endereço www.premiovonmartius.com.br.
Os trabalhos foram inscritos em três categorias, de acordo com os seguintes objetivos: Humanidade – desenvolvimento do Ser Humano, como programas de divulgação e educação ambiental; Tecnologia – desenvolvimento de tecnologias ambientalmente positivas como projetos de melhorias no processo produtivo e desenvolvimento de produtos; e Natureza – preservação e conservação do meio natural, como projetos de pesquisa científica e valorização dos princípios de conservação e preservação de fauna e flora.