Maio, mês das mães

Tem mãe prá tudo

20 de fevereiro de 2004

      Quando eu entrei na escola, comecei a perceber que tinha mãe para tudo. Algumas, além da minha própria, eu até já conhecia: era a Mãe-de-Deus, a Mãe-Natureza e a Mãe-do-Céu. Outras mães eu fui conhecendo com o tempo. À medida que aumentava minha leitura, ouvia músicas e conhecia gente, mais mães me eram apresentadas…. Ver artigo

      Quando eu entrei na escola, comecei a perceber que tinha mãe para tudo. Algumas, além da minha própria, eu até já conhecia: era a Mãe-de-Deus, a Mãe-Natureza e a Mãe-do-Céu. Outras mães eu fui conhecendo com o tempo. À medida que aumentava minha leitura, ouvia músicas e conhecia gente, mais mães me eram apresentadas. Na rua as pessoas falavam sobre a mãe-joana, nas novelas vi a mãe-de-leite, li sobre a mãe d’água, cantei com a Mãe Menininha, que era uma Mãe-de-Santo, e meus pais falavam que até a professora era uma mãe.


Eram mães para todos os tipos e gostos. 


Mais tarde eu li um livro sobre a Amazônia, que falava da mãe-da-mata. Ela era um duende da floresta que protegia a flora e a fauna. Depois alguém me contou uma história sobre a mãe-da-lua, que cantava todas as noites de lua cheia uma melodia bem monótona e esquisita.


E eu ía crescendo e mais mães entravam na minha vida. Tinha até a história da mãe-do-fogo, que quando pegava fogo na floresta havia um tronco seco que guardava o fogo dentro dele por muitos dias. Ainda agora eu li um livro que tinha a mãe-do-sol, um inseto coleóptero, brilhante, da família dos buprestídeos e que são usados como adornos pelos índios. 


Bem, se eu for pesquisar a literatura brasileira, aí tem mãe que não acaba mais. Exemplos: a mãe-do-rio, que é o leito do rio até o extremo das margens; a mãe-do-ouro que, segundo as lendas, guarda as minas de ouro; a mãe-da-tora, que é um passarinho da família dos formicarídeos, de coloração preta com uma mancha dorsal branca; e até a mãe-benta, que é um bolo muito gostoso de farinha de trigo, côco e ovos, inventado por uma doceira famosa no tempo do Império que se chamava Benta Maria da Conceição Torres.


Mãe-boa é nome de uma planta da família das vitáceas, que tem uma penca de flores bem pequeninas e dá umas frutinhas como se fossem uvas, com propriedades medicinais.


Tem ainda a mãe solteira, que acaba sendo uma mãe-heroína, pois é mãe e pai ao mesmo tempo. E a mãe-de-família? Essa é a verdadeira matriarca. É a verdadeira mãe de todos. Cuida da família, dos agregados e até dos vizinhos. Quase igual à mãe-grande, mais conhecida por vovó, ou grandmère para os franceses e grandmother para os que vivem no idioma inglês.


Chegamos ao Ano 2.001 e mais mães continuam entrando na nossa vida. A engenharia genética chegou onde se achava que era muito difícil chegar: a mãe-de-aluguel. Nasceu, assim, a possibilidade de homossexuais constituírem família e permitiu, também, que uma mulher implante um embrião em seu útero, para que nele se processe a gestação de um filho de outrem.


E como não inventar uma mãe para a era da informática e para as viagens espaciais? Mas é lógico que tem. Quem ainda não ouviu falar na placa-mãe do computador e na nave-mãe dos filmes e das aventuras no espaço?


Como se vê, mãe é o que não falta. Ainda bem. Sem mãe esse mundo não teria a menor graça. Aliás, não teria nem mundo. Isso que é invenção competente. Mãe gera, alimenta, cria, protege. Já pensou não ter um ombro para chorar? Não ter alguém que fique do lado da gente até quando a gente erra? Tem mãe para tudo, porque em tudo há que ter proteção, abundância, carinho, amor, segurança e alegria. 


Se o mundo é movido pela luz do sol e pelos recursos naturais da terra, a vida é movida pela energia mais forte e mais doce que se tem notícia: não há quem não seja movido a mãe.