A injusta medição de água em condomínios

13 de fevereiro de 2004

Uma foto vale por mil palavras. Lembro-me de uma foto em uma revista mostrando uma imagem de uma cozinha coletiva em uma cidade da Ásia. No pequeno apartamento moravam quatro famílias, e, na ausência de um banheiro era utilizado um “pinico” coletivo. Este, pela manhã, era levado para uma fossa pública na rua. O argumento… Ver artigo

Uma foto vale por mil palavras.


Lembro-me de uma foto em uma revista mostrando uma imagem de uma cozinha coletiva em uma cidade da Ásia. No pequeno apartamento moravam quatro famílias, e, na ausência de um banheiro era utilizado um “pinico” coletivo. Este, pela manhã, era levado para uma fossa pública na rua. O argumento para não modernizar as instalações sanitárias era de que o bairro era muito populoso e o processo de demolição e construção/reconstrução de novas residências seria muito complicado. A situação atual não era agradável, mas era suportável.


A foto mostrava algo que não era comentado na reportagem: uma pia coletiva na cozinha e, detalhe importante, quatro torneiras. Uma para cada família. Por que torneiras separadas, se o “pinico ou ourinol” era coletivo? Uma das prováveis razões (não haviam comentários no texto da matéria), deveria ser o alto custo da água. Não poderia ser utilizada e controlada coletivamente, como era o caso de uma lâmpada no teto da peça. Mais uma vez funcionou a velha lei econômica: se o bem é escasso e imprescindível, é caro.


O que se pode aproveitar desta reportagem para a nossa vida cotidiana?


Que aquelas pessoas, apesar dos problemas sanitários, já estavam exercitando um direito em que nós, que residimos em condomínios com instalações modernas, estamos atrasados: o direito de pagar somente pelo que consumimos. Ninguém admite pagar a conta da energia elétrica consumida nas habitações, num condomínio de apartamentos, de forma coletiva. No caso do consumo comum este é somado e dividido pela área de cada habitação, como se faz com a energia gasta nos corredores, demais áreas comuns e elevadores. Se o vizinho tem chuveiros de alto consumo, microondas, aquecedores potentes, que pague. Gasta mais, paga mais. Porque pagar pelo que não se consome?


E com a água? Por que alguns tem que pagar pelo que não consomem? Se o vizinho tem mais pessoas no apartamento, máquina de lavar roupa, de lavar louça, toma longos banhos cantando no chuveiro, porque esta água tem que ser repartida coletivamente? Porque a viúva que mora sozinha e consome um mínimo de água, tem que ser economicamente solidária com a família esbanjadora? O critério de dividir o consumo total de água do edifício pela metragem do imóvel é altamente injusto. Quem sabe esta situação não pode valer uma boa discussão judicial…


Esta na hora dos incorporadores imobiliários lançarem prédios equipados com hidrômetros para cada habitação.


Mesmo para edifícios considerados de luxo, nenhum construtor fará a sugestão aos condôminos de ter um único medidor de energia e ratear a conta por habitação. Não venderia nenhum apartamento.


Por que os construtores instalam rede central de gás, mas com medidores independentes? Por que só se aceita pagar pelo que se consome. Por que com a água a medição tem que ser coletiva?


Por que as pessoas devem pagar a água nos moldes atuais, de acordo com a metragem da habitação e não pelo consumo medido por hidrômetros individuais?


Não se afirma a toda hora que a água está escasseando cada vez mais? Que as próximas guerras serão devido a disputas por água?


Vamos exigir que seja feita a justiça social e que as leis econômicas sejam obedecidas. Quem quiser consumir bastante água e, naturalmente, produzir bastante esgoto doméstico, que pague, de acordo com tabelas de custos crescentes.


Vai aumentar o custo da construção do imóvel? Certamente, mas não será relevante em relação ao custo total; cada um pagará pelo seu consumo.


Está na hora da sociedade exigir dos incorporadores imobiliários, das empresas distribuidoras de água (públicas e privadas), dos legisladores, das prefeituras, a implantação de um sistema de medição individual de água em construções de uso coletivo, como em prédios habitacionais ou de salas comerciais.


(*) Roque Tomasini é pesquisador da Embrapa Trigo e operador de ecoturismo rural.
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