Artesanato e Promoção Social

A arte nascida da necessidade

24 de março de 2004

      Retrato do caleidoscópio cultural do nosso país, o artesanato é a perfeita tradução do modo de vida simples e criativo do brasileiro. Um povo que, diante das dificuldades, se desdobra para levar o alimento para casa e dar um futuro mais digno aos filhos. A produção artesanal está, principalmente, nos lugares onde o dinheiro… Ver artigo

      Retrato do caleidoscópio cultural do nosso país, o artesanato é a perfeita tradução do modo de vida simples e criativo do brasileiro. Um povo que, diante das dificuldades, se desdobra para levar o alimento para casa e dar um futuro mais digno aos filhos. A produção artesanal está, principalmente, nos lugares onde o dinheiro é pouco e o solo nem sempre mostra sinais de fertilidade.


Segundo a especialista Malba Aguiar, essa é a explicação para a intensa produtividade nordestina. “O artesanato está diretamente ligado à sobrevivência das cidades que não têm indústrias nem uma agricultura desenvolvida. Já que a terra não dá o feijão, não dá o sustento, essas famílias tiram da natureza a matéria-prima necessária para desenvolver as técnicas artesanais. É por isso que quanto mais adiantada a região, menos artesanato você encontra”.


Com experiência de 21 anos neste setor, Malba conhece com detalhes as diferentes características do que é produzido em cada região do país. “Ao olhar uma peça, é possível desvendar o modo de vida daquele artesão, suas crenças e seus valores, em que universo ele está inserido. Com tanta diversidade cultural, o artesanato brasileiro só poderia ser um dos mais ricos do mundo”, diz ela.


Um valor ainda desconhecido


Apesar da importância cultural e econômica, o artesanato brasileiro ainda não é valorizado como deveria. Só nos últimos anos, as instituições públicas e privadas atentaram para o fato de que se fazia sim necessário criar uma política específica para o desenvolvimento do setor. “Até agora, as ações de incentivo à produção artesanal foram isoladas. Muitas vezes, o trabalho desconexo se perdia por falta de integração entre os projetos”, explica Malba.


É essa falha que a Embratur tenta minimizar. Desde o ano passado, o Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT), em parceria com o Sebrae e com o Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf), vem promovendo oficinas para unir esforços em prol do setor. Esses encontros, que já aconteceram em cinco estados (MS, TO, AC, DF e PE), reúnem empresas públicas, privadas e associações de artesãos. O objetivo é criar um plano único que possa alavancar a produção.


A boa receptividade e a participação efetiva nas oficinas é um sinal de uma mudança de pensamento em relação ao ofício do artesão. “É com alegria que eu vejo o PNMT entendendo o seu papel e destinando recursos para o setor. O grande parceiro do artesanato é o turismo. As duas atividades são como irmãs siamesas, precisam andar juntas”, defende. 


Apoio Sebrae


O Sebrae também desenvolve iniciativas voltadas exclusivamente para o artesanato. Em 1998, a instituição criou um programa de incentivo, com aporte financeiro, para a produção. No primeiro ano do programa, cada estado brasileiro tinha uma verba de até R$ 500 mil para investir no setor. 


O local mais fácil para encontrar peças de artesanato é o freqüentando por turistas, já que esses são os que mais valorizam este tipo de trabalho. Ao conhecer uma nova cidade, o visitante sempre sai à procura de objetos que o façam lembrar da viagem. Os roteiros turísticos do Brasil reservam espaços públicos para que o artesão possa mostrar suas criações. Assim é no Mercado Modelo, em Salvador, na Casa da Cultura, em Recife, e em dezenas de outras cidades do país.


O segredo da qualificação


Porém, não é porque os estados destinam um espaço de venda que o apoio ao artesanato se concretiza. Do processo de produção até que a peça seja comercializada, o caminho é longo. Passa pela escolha do material à aplicação da técnica e só então chega a ser oferecido para os compradores. Uma cadeia produtiva que, para ser profissional e rentável, exige planejamento.


O artesão tem que receber cursos de capacitação e noções de como gerenciar um pequeno negócio. Só tratando o trabalho como uma microempresa, sem amadorismos, é que fica possível lucrar com a produção. Com tantas carências a serem supridas, percebe-se a importância de uma política específica para que o setor cresça.


Um produto criativo e bem acabado tem mais valor comercial do que aquele objeto sem qualidade. “Procuro sempre mostrar para os artesãos que a apresentação de uma peça, com assinatura, certificado de origem e uma bonita embalagem, custa mais. E, em geral, as pessoas pagam por isso”, diz Malba. 


Os primeiros passos para expandir o artesanato já foram dados, mas é preciso correr contra o tempo para que a produção brasileira não perca espaço. É que, todos os dias, objetos artesanais de 13 países aportam no Brasil. Um dinheiro que poderia ser revertido para as famílias daqui.


Milhares de pessoas já deixaram de trabalhar com o artesanato e a tradição acaba se perdendo com os antepassados.


Se falta apoio de um lado, um outro problema ajuda a tornar ainda mais complexa a missão de dar fôlego para o setor. Os brasileiros não valorizam os objetos produzidos no próprio país. “É comum as pessoas decorarem a casa com peças importadas. São poucos aqueles que sabem reconhecer a beleza estética e cultural da arte popular e do artesanato brasileiro”, denuncia a especialista.


Mais informações: 
Fone: (61) 325- 3977 / 328-6724


Oportunidade de trocar idéias


As peças artesanais produzidas em todo o país podem ser vistas na III Exposição de Produtos e Serviços dos Municípios Turísticos – Vitrine do Brasil, do dia 08 a 13 de agosto em Brasília. Neste período, a capital vai ser sede do maior evento anual do PNMT. No Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, vão ser realizados quatro eventos. Além da Vitrine, acontece também o VI Encontro Nacional do PNMT, o I Encontro Nacional do Novo Mundo Rural e o II Congresso de Pesca Esportiva para o Desenvolvimento Municipal. 


Em parceria com o Pronaf, a Embratur espera receber 3.500 participantes de todos os estados. O evento do ano passado contou com 2.500 participantes, representando 517 municípios. A presença maciça mostra a importância do acontecimento para as entidades ligadas ao turismo. O encontro propicia a troca de experiências e a possibilidade de mostrar o trabalho desenvolvido pelas coordenações municipais do PNMT.


Mais informações: 
evento: (61) 326-3977 / 328-6724. www.pnmt.embratur.gov.br