Ecologia & Saúde

Guerra da água

5 de março de 2004

      Se as agressões aos recursos hídricos continuarem no atual toque de caixa, logo haverá o caos na saúde pública, pelo desabastecimento de água até em pequenas cidades. Nas capitais e suas regiões metropolitanas isto já ocorre, infernizando a vida, por exemplo, dos moradores de S. Paulo e do entorno. O pior é que muita… Ver artigo

      Se as agressões aos recursos hídricos continuarem no atual toque de caixa, logo haverá o caos na saúde pública, pelo desabastecimento de água até em pequenas cidades. Nas capitais e suas regiões metropolitanas isto já ocorre, infernizando a vida, por exemplo, dos moradores de S. Paulo e do entorno. O pior é que muita gente com responsabilidade para atacar o problema ainda não caiu na real, como é o caso de alguns editores dos veículos de comunicação, que mostram o problema ao público em notícias ligeiras, quase sempre jogando a culpa pela falta d’água nas costas da seca imprevista. 

É claro que, faltando chuva, acontece a seca. Mas não se pode atribuir apenas à estiagem o colapso no abastecimento de água. Sucede que a água que enche as barragens é de origem fluvial e os rios estão sendo assoreados e secando, porque suas nascentes estão morrendo. E por que isto acontece? Porque o homem fez e continua fazendo queimadas e desmatamentos desenfreados nas cabeceiras e matas ciliares. Então, sem cobertura vegetal para receber a água da chuva e fazê-la infiltrar-se na terra, os veios d’água vão sumindo, inclusive porque são obstruídos pelo deslocamento da terra, areia e pedras, quando apodrecem as raízes das árvores mortas. Também tendo perdido a proteção vegetal, a terra é levada para o leito dos rios, assoreando-os. Ainda mais rasos ficam os rios quando perdem as árvores ribeirinhas, cujas raízes sustentavam os barrancos, que, desprotegidos, desmoronam para entupir a calha fluvial, acabando, também, com a pesca e a navegação. 


Assim, os rios estão recebendo menos água de suas nascentes e, assoreados, ficam mais rasos e largos, o que favorece a infiltração e evaporação. Disto resulta um corte crescente no volume de água que chega aos reservatórios de abastecimento dos moradores das cidades, onde muitos a desperdiçam. E, para complicar ainda mais o problema, a água recebida pelas estações de tratamento está cada vez mais suja, pelo lixo e esgoto nela jogados. Isto vem encarecendo a tal ponto o processamento para torná-la potável que, em breve, nem os ricos terão condições de pagar pelo registrado nos hidrômetros. E olha que estamos falando apenas da água comum, saída das torneiras, porque a de beber, engarrafada, terá preço de remédio. Eis um exemplo: nos Estados Unidos, já custa mais do que a gasolina.


Então, antes que comece a guerra da água, seja entre cidades, estados ou países, por um não quer ceder o líquido para o outro, as autoridades governamentais precisam impedir que continuem as agressões aos recursos hídricos. Devem, inclusive, dizer basta! à desenfreada corrida pela abertura de poços artesianos, que esgotam os lençóis freáticos abastecedores das minas d’água e podem servir de caminho para contaminá-los.


Mal necessário


As agressões ao meio ambiente estão sendo feitas de tantas maneiras e intensidade que não podem ser creditadas apenas à ignorância das pessoas desligadas do fato de estarem acabando com as condições de sobrevivência delas e de seus descendentes no planeta Terra. Dá para suspeitar haver gente infiltrada em órgãos do ramo torcendo pelo pior, para serem valorizadas com uma chuva de verbas as repartições ditas de defesa da natureza onde trabalham. Parecem aqueles caras devotos da filosofia do mal necessário, do tipo defensor da existência da prostituição, desde que não seja implementada por quengas incluindo suas irmãs e filha.


Lixo reciclado


Uma fortuna vai, diariamente, para o lixo, na forma de latas, vidros, plásticos e outras matérias. Isto tudo, se reciclado, dá um lucro enorme para quem o fizer. E a natureza agradecerá, por ver-se livre dos lixões, que contaminam o ar e a terra, inclusive as águas subterrâneas. Em Brasília, os moradores estavam sendo educados a seguirem um calendário de coleta seletiva do lixo, para que, num dia, fosse recolhido o material sólido reciclável e, noutro, o orgânico, para ser processado e virar adubo. Mas, sem maiores explicações, o programa foi abandonado e o lixo voltou a ser coletado de roldão, sendo grande quantidade jogada em lixões a céu aberto. O governo do Distrito Federal precisa rever esta tremenda pisada na bola.


Armação ilimitada (3)


Pararam de sair notícias acusando a água do Parque Nacional de Brasília (PNB) de conter coliformes fecais. Mas continua a armação ilimitada contra o local eleito pelos ecoesportistas desde os primórdios de Brasília para fazer cooper, caminhadas em trilhas na mata e nadar em suas duas piscinas de água cristalina, tanto que o povo chama a área de Parque da Água Mineral. Ano passado, o PNB sofreu uma saraivada de notícias sobre a tal contaminação, espantando boa parte dos freqüentadores, sem que algum tenha pego gastroenterite. A paz veio com análise da Universidade de Brasília, dando como potável a água ali minada. Então, surgiram gangues baguncistas no pedaço, desassossegando a platéia restante. Depois, veio um mês de greve dos funcionários do IBAMA, e, agora, eis que surge o presidente da inoperante Associação dos Amigos da Água Mineral, Gustavo Souto, dizendo por aí que a água está poluída, sim. Será vingança por sentir que não se reelegerá e/ou está no esquema de fechamento do Parque da Água Mineral, para privatizá-lo?