Ecologia & Saúde

Comida no lixo

5 de março de 2004

  Desde que as pessoas começaram a povoar o planeta Terra também partiram para a agressão ao meio ambiente. No início, morando em cavernas, homens, mulheres e seus filhos pouco danificavam a natureza: saiam pela mata colhendo frutas, mel, folhas e algumas raízes. Eram o que gente da modernidade se esforça para imitar, ou seja,… Ver artigo

 

Desde que as pessoas começaram a povoar o planeta Terra também partiram para a agressão ao meio ambiente. No início, morando em cavernas, homens, mulheres e seus filhos pouco danificavam a natureza: saiam pela mata colhendo frutas, mel, folhas e algumas raízes. Eram o que gente da modernidade se esforça para imitar, ou seja, vegetarianos. Mas, depois que nossos ancestrais peludos descobriram maneiras de fazer fogo, renderam-se às delícias da carne cozida ou assada, para azar dos animais. Estes, passaram a ser caçados a pauladas, pedradas, com lanças, flechas, armadilhas e, evoluindo a tecnologia da matança, com armas de fogo.

Mas, naqueles tempos bucólicos, a fauna e flora agredidas pelos trogloditas recompunham-se rápida e facilmente. Acontece que eram poucas as pessoas em busca de alimentos. Além disso, colhiam vegetais na medida do consumo imediato e, mesmo os animais abatidos, eram exemplares velhos e que já haviam deixado descendência, ou deficientes, impedindo-se, assim, que ameaçassem a boa perpetuação genética da espécie. E mais: o mesmo fogo que os transformou em carnívoros gerava a fumaça, que descobriram servir para conservar as carnes, através de defumação.

Quando as cavernas tornaram-se poucas e pequenas para comportar o aumento populacional, aí as pessoas passaram a cortar as árvores, para ter a madeira com que construir suas casas. Então, o meio ambiente começou a ser agredido para valer. Era o início da urbanização, com as matas dando lugar a cidades, sendo a natureza também ferida pela abertura de estradas, derrubadas para o plantio de lavouras e pastagens e, posteriormente, construção de hidrelétricas. Neste último procedimento, inundaram-se definitivamente as terras mais férteis de cada região, justamente as das margens dos rios represados.

A urbanização veio casada com a industrialização e motorização, gerando-se fumaça, lixo e esgoto, para poluir o ar, terra e água, fato que as pessoas começaram a conscientizar-se de que tem de ser revertido com procedimentos antipoluentes. Outra preocupação que deve entrar na ordem do dia dos debates ecológicos é a do aproveitamento integral dos alimentos. Sim, porque a produção agropecuária é hoje o grande fator de agressão ao meio ambiente, seja por tomar cada vez mais o lugar da vegetação nativa e por usar adubação, defensivos e corretivos do solo ecologicamente nada corretos. Então, é preciso gerar melhores tecnologias ecológicas de produção de alimentos, os quais as indústrias do ramo, restaurantes e consumidores devem aproveitar ao máximo, porque comida jogada no lixo significa mais terra virgem tendo de ser cultivada, para atender à demanda gerada pelo aumento populacional.

Reciclagem

A importância ecológica do não-desperdício de alimentos vale também para muitos outros materiais de largo emprego na vida moderna. O papel é certamente o mais importante, porque é feito de celulose quase toda proveniente de árvores derrubadas e processadas com produtos químicos poluentes. No primeiro aspecto, se a celulose for de árvores nativas, comete-se uma agressão irreparável ao meio ambiente, deixando, inclusive sem alimentos os animais da região, e, quando a madeira vai para a indústria do ramo, ali é manipulada inclusive com ácido sulfúrico e os rejeitos deste procedimento, fedendo a ovo podre, tornam o ar irrespirável aos moradores das redondezas e imprestável a água onde forem despejados. Quando a madeira vem de área reflorestada, também se ofende o meio ambiente, porque num plantio homogêneo poucos animais sobrevivem. Então, a reciclagem de papel e outros descartes reaproveitáveis é o que há de mais ecologicamente correto, por reduzir a agressão à natureza para a obtenção de matérias-primas.

Sem água

Quem mora no Distrito Federal tem o local como ponto de lazer, para nadar, correr ou caminhar por suas trilhas. Quem visita a Capital Federal fica com o álbum de recordações incompleto se lá não for fotografado. Estamos nos referindo ao Parque Nacional de Brasília (PNB), mais conhecido como Parque da Água Mineral, por causa das duas piscinas de água cristalina que encantam o visitante e deleitam os brasilienses. O PNB, com seus 33 mil hectares, é a maior reserva florestal urbana do mundo, e é de uma represa ali construída que provém o abastecimento de grande parte de Brasília. Mas o Parque da Água Mineral está secando, devido aos desmatamento fora de sua área e também dos poços artesianos que estão abrindo a torto e a direito em seu entorno, tudo nas barbas da fiscalização. Muitas minas d'água já eram ou estão em vias de sê-lo, como a Peito de Moça, que, mesmo nas maiores secas, vertia água abundante na ponta de uma elevação cônica do terreno. 

Privatização

Por falar no Parque Nacional de Brasília, técnicos do governo federal, literalmente na moita, estão apurando quanto ele vale no todo e por partes. Quando perguntados, os avaliadores saem pela tangente, não explicando nem justificando. Só deixam transparecer que outros parques nacionais também serão apreçados. Mas o esperto leitor e a arguta leitora certamente estão deduzindo que o levantamento é para privatizar o PNB e congêneres.

* Sérgio Ângeli é jornalista; Amália Ângeli, nutricionista.