Caro leitor

5 de março de 2004

  Tenho pensado muito em como a educação ambiental se confunde com cidadania. Por quê? Muito simples, porque educação ambiental vai muito além do ato de visitar um parque para fazer piquenique, conhecer uma árvore e coletar lixo. Como, também, cidadania vai muito além de dar esmola e apenas cumprir os deveres para com o… Ver artigo

 

Tenho pensado muito em como a educação ambiental se confunde com cidadania. Por quê? Muito simples, porque educação ambiental vai muito além do ato de visitar um parque para fazer piquenique, conhecer uma árvore e coletar lixo. Como, também, cidadania vai muito além de dar esmola e apenas cumprir os deveres para com o Estado. 

Meio Ambiente e cidadania são, fundamentalmente, uma questão de ética. Ética com o homem, com a natureza e com nós mesmos. Viver de modo sustentável, compartilhar os benefícios do progresso, da tecnologia e dos recursos naturais, respeitando a vida. Daí, a mais eficiente arma para levar a educação ambiental e resgatar a cidadania é aumentar o conhecimento das pessoas, é disseminar informações, ajudar na formação, preparando estas pessoas para um viver melhor. Como? Dando a elas condições de se integrarem à sociedade, de crescerem, de serem úteis e, evidente, de construir seus próprios sonhos. Em outras palavras: diminuindo o assistencialismo da distribuição do peixe, para ensinar a pescar. 

Fácil (e inútil) é dar esmola a uma criança no sinal de trânsito. Difícil (e proveitoso) é ensinar essa criança a se encaminhar na vida. E essa edição da Folha do Meio está cheia de lições de cidadania. Repleta de exemplos de pessoas iluminadas que conseguem emocionar um repórter e um editor pelo trabalho fantástico e simples que desenvolvem criando uma corrente de bem viver. 

Tenho certeza que fará bem à sua alma, caro leitor, conhecer um pouco mais Manoel Fernandes Vieira, ou, simplesmente, o Comandante Fernandes, um suboficial da Marinha que sem grandes projetos e nenhum recurso financeiro já encaminhou na vida mais de 160 meninos carentes do Entorno de Brasília. Saber mais de pessoas bem posicionadas, executivos de grandes multinacionais, autoridades do primeiro escalão que tiram o terno e dão um pouquinho de seu tempo de trabalho ou lazer, para fazer o tempo de vida de outros menos difícil. 

É o trabalho voluntário de cidadãos que ajudam, sem dar esmola; ensinam, sem ser professores; conseguem dar emprego, sem contratar ninguém; e vão para o palco contar histórias, sem ser artistas. Sim, estava esquecendo de falar da Associação Viva e Deixe Viver, criada pelo paulista Valdir Cimino, que tem hoje mais de 250 voluntários só para escrever e contar histórias para as crianças que estão doentes nos hospitais.

Gostaria de falar de todos os movimentos (e são muitos) que fazem trabalhos semelhantes no Brasil. Mas não temos condições de mandar um repórter fazer essa varredura da solidariedade, mesmo porque todos esses movimentos têm uma característica essencial: são simples, sem badalações, não fazem telemarketing para sua casa, não têm coluna no jornal e muito menos programa de rádio e tevê. 

Quero lembrar, ainda, a leitura da matéria sobre outro brasileiro que fez, na selva (pegando 287 malárias) tudo isso que escrevi acima e, agora, doente, escreve seu livro de memórias: Orlando Villas-Boas, meu querido paraninfo na UFMG.

Ao terminar essa carta, gostaria de compartilhar com o amigo leitor, uma trova que o poeta mineiro Soares da Cunha me recitou num bar de Belo Horizonte e que nunca mais esqueci: "Para se dar o milagre / Qualquer um que a gente queira / o santo pode ser falso / basta a fé ser verdadeira".

SUMMARY

I have been thinking a lot about how environmental education is mistaken by citizenship. Why!? It is very simple, it is because environmental education goes well beyond the act of visiting a park for a picnic, than knowing a tree and to collect trash. Just like citizenship, which is more than giving money to the needy and just to fulfill the duties towards the State.

Environment and citizenship are, basically, ethical questions: ethics towards mankind, nature and ourselves. To live in a sustainable manner, to share the benefits of the progress, technology and natural resources, respecting life. So, the most efficient weapon to further develop environmental education and to rescue citizenship is to increase the knowledge of the people, to spread information, to help with the upbringing, preparing these people for a better life. How? By offering conditions for them to integrate society, grow, to be useful and, evidently, to build their own dreams. In other words: to decrease the excess assistance of fish distribution and instead teach them how to fish.

Giving small change to a child at the red traffic lights is easy (and useless). To teach this same child to find his own directions in life would be difficult (and beneficial). In this edition of Folha do Meio is full of citizenship lessons. Full of examples of bright people who touched the hearts of a reporter and an editor for the fantastic and simple work that they develop by creating a chain of quality of living.

I am certain that it will do your soul good, dear reader, getting to know a little of Manoel Fernandes Vieira, or, simply, Commander Fernandes, a Navy sergeant major that, without great projects and no financial resources, has already helped the lives of 160 needy boys of the outskirts of Brasilia. Get to know more about people that have stable and important jobs, such as executives from great foreign companies, high level government authorities that leave their positions and give a few hours of their time of work or leisure, to make the time of other lives less difficult.

It is the voluntary work of citizens who help, without giving money; that teach, without being teachers; who give jobs, without hiring anyone; and go to the stage to tell stories, without being artists. I was almost forgetting to mention the Viva and Deixe Viver Associations, created by São Paulo native, Valdir Cimino, who today has more than 250 volunteers just to write and to tell stories for sick children in hospitals.

It would like to mention all the movements (which are many) that perform similar activities in Brazil. But we cannot send a reporter to make these solidarity sweepings, exactly because all these movements have an essential feature: they are simple, without much ado, they do not make telemarketing ads for your homes; they do not have a column in the newspaper nor radio and TV programs. 

I would like to remind our readers about the article on another Brazilian who, in the jungle (having had 287 malarias), did everything that I wrote and mentioned above, and now, even being very ill, writes his book of memories: Orlando Villas-Boas, who was my dear spokesman in the Federal University of Minas Gerais (UFMG).

hen finishing this letter, I would like to share with our reading friends, part of one popular song that the mining poet Soares da Cunha recited for me in a bar in Belo Horizonte which I never forgot: " For a miracle to take place/ Whichever one that you might desire / You can even have a fake saint / As long as the faith is real it will come true ".