Folha do Meio Ambiente

     A carne deu bicho. O pão deu bolor. A geração espontânea aparece com freqüência na fala popular como resquício de uma ciência que acreditava em tais poderes da matéria. Apesar de novos tempos com high technology, o discurso permanece intocável. Agora o que dá bicho são os vídeos, computadores, refrigeradores e aparelhos de som. 

Pois não é que as formigas resolveram instalar residência confortável no vídeo de fulana, no pentium multimídia de beltrano, no freezer de sicrana. Em todos os cantos da casa o pequeno inseto se encontra cruzando caminho com seus moradores. Vasculha a vida de todos sem discrição e distinção de cor, sexo, idade e profissão.

De preferência adoram a noite, quando os legítimos donos se embalam nos braços de orfeu. Elas saracoteiam pelas dependências do lar com a maior intimidade e liberdade. Se um dos moradores, incauto, acorda de madrugada, encontra um verdadeiro batalhão, comunicando-se com ordem e progresso, em desfile patriótico pelas cercanias da cozinha a busca de um petisco ali deixado à revelia ou algo que sirva para sua horta.

Os himenópteros estão tão bem adaptados à vida urbana que não há formicida potente no mercado. A seleção dos resistentes jogou para escanteio os mais tradicionais produtos. E observem, cada dia mais e mais formigas aparecem, continuam avançando. Recentemente, as formigas deram para colher adoçante dietético. Com um corpinho tão "violoncelo", não fazem dieta, simplesmente adaptaram aos novos tempos – substituição do tradicional açúcar pelos dietéticos.

Há muito tempo os insetos são fonte substancial de proteínas e gorduras e as formigas consideradas uma iguaria fina e preferida em comunidades indígenas das regiões tropicais. A entofagia indígena data desde 1587, com o consumo da saúva. Após 500 anos e para surpresa geral, as formigas aparecem em nova versão. Versão diet.

* Mônica Meyer – Bióloga e Professora da Faculdade de Educação da UFMG