Lago Paranoá: pode ser a gota d’água

4 de março de 2004

    Lago Paranoá, em Brasília: piers e muito assoreamento Desde a inauguração de Brasília que o Lago Paranoá tem sido a grande atração da cidade. Todos sabem que existe, todos o vêem quando chegam de avião e todos gostariam de utilizá-lo sempre. Mas poucos têm contato com ele. Com uma lâmina superior à Baía… Ver artigo

 

 


Lago Paranoá, em Brasília: piers e muito assoreamento

Desde a inauguração de Brasília que o Lago Paranoá tem sido a grande atração da cidade. Todos sabem que existe, todos o vêem quando chegam de avião e todos gostariam de utilizá-lo sempre. Mas poucos têm contato com ele. Com uma lâmina superior à Baía da Guanabara, o nosso lago deveria ser uma das áreas mais usadas pela população, no entanto, ao longo dos anos, a privatização das margens do lago acabou transformando-o em área de difícil acesso para a maioria dos brasilienses. Apesar de possuir imensa quantidade de barcos e clubes marítimos, somente recentemente, com a limpeza de suas águas, é que o Lago Paranoá foi revitalizado. No entanto, é necessário uma grande movimentação para o controle efetivo das nascentes que abastecem o lago, além, é claro, da fiscalização de aterros que sistematicamente estão sendo construídos em suas margens.

Quem utiliza o lago sabe bem dos riscos que estamos correndo com o assoreamento. Onde, há alguns anos, podíamos ver jacarés e outros animais, hoje já se pode atravessar a pé. 

As construções de "piers", como a do restaurante próximo à ponte Costa e Silva, é somente um exemplo de como é necessário o estudo destas ocupações que são freqüentes e estão sem controle. Os proprietários das residências que margeiam o lago fazem, cada um, seus próprios cais. Quase sempre com a omissão das administrações, tanto do Lago Sul, como do Norte. Esses aterros já comprometem, segundo dados da Secretaria do Meio Ambiente, cerca de 5% da lâmina d'água original.

Como morador do Lago Sul e freqüentador assíduo da ciclovia, fiquei animado um outro dia quando assisti a um cidadão chegar de carro, despir-se e mergulhar no lago. Senti-me no Rio de Janeiro à beira mar. 

Foi bom ver Brasília participar do movimento pelo Dia Mundial do Cleanup e promover uma manhã de faxina no lago Paranoá. Mas acho que a Caesb e a Ceb poderiam motivar a população para um mutirão de limpeza mais permanente. Seria um ato ao mesmo tempo de limpeza, de educação e cidadania.

O que as pessoas têm de entender é tão grave, quanto muito simples: lagos e rios não se deterioram apenas com o lixo que é jogado diretamente neles, mas também com o lixo que é jogado na rua. Um inocente toco de cigarro ou um plástico jogado na rua, com a chuva, vai para o bueiro e o destino final acaba sendo rios e lagos. Ou o terrível óleo queimado despejado no esgoto pelas oficinas, também vai acabar na estação de tratamento (quando esse existe) comprometendo todo o sistema. 

O que falo em relação a Brasília e ao Lago Paranoá vale para as lagoas da Barra da Tijuca, a Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio, a Baía de Guanabara, o rio Guaíba, em Porto Alegre, o rio Guamá, em Belém, e para todas as cidades brasileiras que têm sempre um rio que chega aos centros urbanos mais ou menos limpos e saem incrivelmente sujos. Culpa, exclusiva das autoridades e da população. Das autoridades porque gostam mais de fazer obras que aparecem para os eleitores e esquecem das obras fundamentais para a boa qualidade de vida, quase sempre escondidas no chão: o tratamento de água e esgoto. E culpa da população porque ela não cobra esse tipo de obra dos governantes. Mais: ainda teimam em sujar, poluir o chão e os ares. O chão, jogando lixo na rua e os ares pendurando todo tipo de propaganda, out-door, placas e faixas nas avenidas e casas comerciais. Bem, mas esse é tema para um outro artigo: a poluição visual das cidades brasileiras. 

Voltando a Brasília e ao Lago Paranoá, que bom poder tê-lo limpo, cheio de peixes, tartarugas, jacarés e pássaros de todas as espécies. Não é difícil. Basta a população querer, exigindo e cumprindo seus deveres de cidadão. 

Mãos à obra! Antes que nossos lagos e rios se deteriorem. A poluição pode ser a gota d'água.