Remédios Mortais
29 de abril de 2004Por ignorância ou fome de lucro fácil – em alguns casos, com as duas juntas -, alguns agricultores abusam no uso de agrotóxicos nas plantações e, o que é pior, colhem e vendem a produção aos consumidores antes de passar o efeito nocivo à saúde humana dos defensivos químicos. Mas não são só os plantadores… Ver artigo
Por ignorância ou fome de lucro fácil – em alguns casos, com as duas juntas -, alguns agricultores abusam no uso de agrotóxicos nas plantações e, o que é pior, colhem e vendem a produção aos consumidores antes de passar o efeito nocivo à saúde humana dos defensivos químicos. Mas não são só os plantadores nada escrupulosos que estão matando a freguesia pela boca.
Também a parcela de pecuaristas a fim de enriquecer da noite para o dia e de qualquer maneira está atentando contra a saúde pública. Esta gente abusa nas aplicações de carrapaticidas, bernicidas e outros venenos em seus rebanhos. Dirá o leigo que “isso é problema deles, pois torram dinheiro à toa e ainda intoxicam suas criações”. Esta conclusão até que faria sentido se os donos dos animais deixassem passar a ação dos venenos para, só depois, comercializar a carne, leite, ovos e outros subprodutos.
Mas a realidade é bem outra. O que acontece mesmo são agressões à saúde do povo cometidas por esses bandidos do meio rural, que vendem alimentos com defensivos tóxicos recém-aplicados. E a bandalheira não fica só nisto, porque os venenos usados a esmo também agridem o meio ambiente, contaminando o solo, água e ar, fazendo mal a humanos e animais aquáticos e terrestres, principalmente às aves que comerem os insetos intoxicados.
Os distintos leitores e leitoras que nos perdoem, mas temos mais coisa ruim para denunciar. É o caso dos antibióticos, que passaram a ter amplo emprego na bovinocultura, suinocultura, avicultura etc. Esta sistemática está “viciando” os microrganismos, levando-os a criar resistência a todos os antibióticos e até provocando o surgimento de micróbios desconhecidos, que ficam livres na ação adoecedora só controlada após a perda de muitas vidas, tempo e dinheiro, até a descoberta de vacinas e medicação apropriadas.
Portanto, assim como os agrotóxicos afetam os consumidores se a produção for comercializada antes de passar o efeito dos venenos, também os antibióticos aplicados recentemente nos animais chegam ao organismo das pessoas que os usarem como fonte alimentícia. Então, antes que a população fique viciada em antibióticos, aos quais não poderá recorrer quando de uma infecção, é preciso urgentemente cobrar das autoridades sanitárias e dos Procons que sejam analisados para terem a venda proibida os produtos que contiverem resíduos desses remédios mortais.
Cemitério e micróbios
Todos já devem ter notado como os leites longa-vida invadiram os mercados, com promoções que os tornam de preços atraentes ao ponto de muita gente fazer estoque. Isto está mexendo com os brios (e a contabilidade) dos produtores de leites pasteurizados de curta duração. Estes já começaram a reagir propagandisticamente, divulgando, por exemplo, que, “nos EUA, apenas 1 em cada 200 pessoas toma leite longa-vida”. Garantem, também, que o leite pasteurizado chega aos consumidores com 100% do teor original de vitamina B6, que cai para 65% no longa-vida estocado, ficando com 0% de vitamina C, que é preservada em 75% no leite pasteurizado. É uma guerra comercial que, na década de 80, chegou ao ponto de o leite longa-vida ser acusado de provir de excedentes terminais da indústria de laticínios levados à fervura infernal. Ao comentar este procedimento, o então presidente da CBCL (Confederação Brasileira das Cooperativas de Laticínios), Saulo W. Bittencourt, quase se meteu numa pendenga porque disse em off e jornalista dedo-duro não segurou a confidência, divulgando que ele considerava o leite longa-vida um “cemitério de micróbios”.
Um exemplo
Se todos – particulares e governantes – fizessem como os proprietários de sítios com atrativos turísticos de Bonito, no Mato Grosso do Sul, o ecoturismo começaria a dar certo no Brasil. Lá, o acesso de visitantes só é permitido em grupos reduzidos, que não podem sair das trilhas por andarem sempre acompanhados de guias que inclusive os impedem de agredirem a fauna e flora e de jogar lixo pelo caminho. Os donos de terras de Bonito (MS) dão um exemplo para ser copiado em todo o país, principalmente nos parques nacionais, onde o rigor acaba na cobrança de ingressos. Dali para frente, as galeras ficam soltas para promover a maior bagunça contra o meio ambiente.
Fumo e álcool
Demorou, mas o Ministério da Saúde decidiu sair de cima do muro e, finalmente, dizer com todas as letras que o fumo mata mesmo. É uma atitude concreta, bem diferente do chove-não-molha da obrigatoriedade de constar na propaganda de cigarros que “o fumo pode fazer mal à saúde”. Pode, não: faz mal e muito. Que o digam os enfisemáticos, cardíacos e assemelhados. Já que o Ministério da Saúde decidiu serrar as meias palavras em relação ao malefício do tabaco, que tal também dar uma basta nos comerciais de bebidas alcoólicas, já que estas disputam no pênalti com o time dos cigarros a Copa da Matança de Viciados? E que ninguém venha com o argumento de que cigarro e bebidas pagam imposto ao Governo, porque este dinheiro maldito cobre só pequena parcela dos gastos com o tratamento dos fumacentos e pés-inchados. E mais: as terras destinadas ao plantio de fumo e matérias-primas para bebidas alcoólicas terão destino social, econômico e ecológico mais correto se empregadas na produção diversificada de alimentos.