Ecologia & Saúde

Remédios Mortais

29 de abril de 2004

Por ignorância ou fome de lucro fácil – em alguns casos, com as duas juntas -, alguns agricultores abusam no uso de agrotóxicos nas plantações e, o que é pior, colhem e vendem a produção aos consumidores antes de passar o efeito nocivo à saúde humana dos defensivos químicos. Mas não são só os plantadores… Ver artigo

Por ignorância ou fome de lucro fácil – em alguns casos, com as duas juntas -, alguns agricultores abusam no uso de agrotóxicos nas plantações e, o que é pior, colhem e vendem a produção aos consumidores antes de passar o efeito nocivo à saúde humana dos defensivos químicos. Mas não são só os plantadores nada escrupulosos que estão matando a freguesia pela boca.
Também a parcela de pecuaristas a fim de enriquecer da noite para o dia e de qualquer maneira está atentando contra a saúde pública. Esta gente  abusa nas aplicações de carrapaticidas, bernicidas e outros venenos em seus rebanhos. Dirá o leigo que “isso é problema deles, pois torram dinheiro à toa e ainda  intoxicam suas criações”. Esta conclusão até que faria sentido se os donos dos animais deixassem passar a ação dos venenos para, só depois, comercializar a carne, leite, ovos e outros subprodutos.
Mas a realidade é bem outra. O que acontece mesmo são agressões à saúde do povo cometidas por esses bandidos do meio rural, que vendem alimentos com defensivos tóxicos recém-aplicados. E a bandalheira não fica só nisto, porque os venenos usados a esmo também agridem o meio ambiente, contaminando o solo, água e ar, fazendo mal a humanos e animais aquáticos e terrestres, principalmente às aves que comerem os insetos intoxicados.
Os distintos leitores e leitoras que nos perdoem, mas temos mais coisa ruim para denunciar. É o caso dos antibióticos, que passaram a ter amplo emprego na bovinocultura, suinocultura, avicultura etc. Esta sistemática está “viciando” os microrganismos, levando-os a criar resistência a todos os antibióticos e até provocando o surgimento de micróbios desconhecidos, que ficam livres na ação adoecedora só controlada  após a perda de  muitas vidas, tempo e dinheiro, até a descoberta de vacinas e medicação apropriadas.
Portanto, assim como os agrotóxicos afetam os consumidores se a produção for comercializada antes de passar o efeito dos venenos, também os antibióticos aplicados recentemente nos animais chegam ao organismo das pessoas que os usarem como fonte alimentícia. Então, antes que a população fique viciada em antibióticos, aos quais não poderá recorrer quando de uma infecção, é preciso urgentemente cobrar das autoridades sanitárias e dos Procons que sejam analisados para terem a venda proibida os produtos que  contiverem resíduos desses remédios mortais.


Cemitério e micróbios
Todos já devem ter notado como os leites longa-vida invadiram os mercados, com promoções que os tornam de preços atraentes ao ponto de muita gente fazer estoque. Isto está mexendo com os brios (e a contabilidade) dos produtores de leites pasteurizados de curta duração. Estes já começaram a reagir propagandisticamente, divulgando, por exemplo, que, “nos EUA, apenas 1 em cada 200 pessoas toma leite longa-vida”. Garantem, também, que o leite pasteurizado chega aos consumidores com 100% do teor original de vitamina B6, que cai para 65% no longa-vida estocado, ficando com 0% de vitamina C, que é preservada em 75% no leite pasteurizado. É uma guerra comercial que, na década de 80, chegou ao ponto de o leite longa-vida ser acusado de provir de excedentes terminais da indústria de laticínios levados à fervura infernal. Ao comentar este procedimento, o então presidente da CBCL (Confederação Brasileira das Cooperativas de Laticínios), Saulo W. Bittencourt, quase se meteu numa pendenga porque disse em off e jornalista dedo-duro não segurou a confidência,  divulgando que ele considerava o leite longa-vida um “cemitério de micróbios”.


Um exemplo
Se todos – particulares e governantes – fizessem como os proprietários de sítios com atrativos turísticos de Bonito, no Mato Grosso do Sul, o ecoturismo começaria a dar certo no Brasil. Lá, o acesso de visitantes só é permitido em grupos reduzidos, que não podem sair das trilhas por andarem sempre acompanhados de guias que inclusive os impedem de agredirem a fauna e flora e de jogar lixo pelo caminho. Os donos de terras de Bonito (MS) dão um exemplo para ser copiado em todo o país, principalmente nos parques nacionais, onde o rigor acaba na cobrança de ingressos. Dali para frente, as galeras ficam soltas para promover a maior bagunça contra o meio ambiente.


Fumo e álcool
Demorou, mas o Ministério da Saúde decidiu sair de cima do muro e, finalmente, dizer com todas as letras que o fumo mata mesmo. É uma atitude concreta, bem diferente do chove-não-molha da obrigatoriedade de constar na propaganda de cigarros que “o fumo pode fazer mal à saúde”. Pode, não: faz mal e muito. Que o digam os enfisemáticos, cardíacos e assemelhados. Já que o Ministério da Saúde decidiu serrar as meias palavras em relação ao malefício do tabaco, que tal também dar uma basta nos comerciais de bebidas alcoólicas, já que estas disputam no pênalti com o time dos cigarros a Copa da Matança de Viciados? E que ninguém venha com o argumento de que cigarro e bebidas pagam imposto ao Governo, porque este dinheiro maldito cobre só pequena parcela dos gastos com o tratamento dos fumacentos e pés-inchados. E mais: as terras destinadas ao plantio de fumo e matérias-primas para bebidas alcoólicas terão destino social, econômico e ecológico mais correto se empregadas na produção diversificada de alimentos.

Ecologia & Saúde

Água de Beber…

20 de abril de 2004

Quem mora na capital federal ou a visitou e conheceu seus principais pontos turísticos certamente esteve no Parque Nacional de Brasília (PNB). Ali, sem dúvida, o principal atrativo observado são as duas piscinas, tanto que o povo conhece o local mais pelo nome de “Parque da Água Mineral”. Isto mesmo: é onde, nos domingos e… Ver artigo

Quem mora na capital federal ou a visitou e conheceu seus principais pontos turísticos certamente esteve no Parque Nacional de Brasília (PNB). Ali, sem dúvida, o principal atrativo observado são as duas piscinas, tanto que o povo conhece o local mais pelo nome de “Parque da Água Mineral”. Isto mesmo: é onde, nos domingos e feriados, a galera se refresca e nada em água mineral, que muita gente leva em garrafas e galões para beber em casa.
Mas essa mordomia está com sintomas de que acabará em breve. Calma, minha gente! Não pensem que a punição está para ser publicada no Diário Oficial da União, na forma de mais um decreto punitivo-modernista de FHC. O que está sucedendo é que as águas do PNB estão sumindo. Quem se acostumou a fazer caminhadas pelos seus 30 e tantos mil hectares sabe disto: estão secos muitos locais onde, há poucos anos, brotava água farta até no período da seca costumeira no Planalto Central.
Dentro do PNB está a represa Santa Maria, de onde provém a água que abastece as asas Norte e Sul de Brasília, além dos moradores da Península Norte do Lago Paranoá. Este reservatório hídrico oferecia, inclusive, um espetáculo visual no final das tardes ensolaradas a quem se dirigisse a Brasília pela entrada norte, no começo da descida do Colorado. Era só olhar para o horizonte, no poente, para deslumbrar-se com o sol refletido num imenso espelho d’água. Como o nível da Santa Maria vem baixando ano a ano, agora  só de avião se vê o que antes era franqueado ao povão usuário da estrada.   
Também para quem freqüenta o PNB a fim de dar um trato no físico e na mente, caminhando ou correndo naquele ambiente florestal e depois dando uma nadada numa de suas duas piscinas cristalinas, o sumiço da água é notório. Nos vertedouros, já não há as outroras cachoeiras abundantes e brota cada vez menos água na mina onde o pessoal bebe e enche vasilhames, levando os antigos freqüentadores a visualizar a secura total no máximo em 10 anos. É o efeito dos desmatamentos e da perfuração de poços artesianos.
“E o que eu tenho a ver com isso?” – perguntará o leitor de cabeça feita contra Brasília. Resposta: Tem, e muito, por que se preocupar, porque, se as águas estão sumindo na capital federal, onde ficam os principais responsáveis pelo meio ambiente, deve ser aterrorizante o quanto se agride impunemente a natureza no resto do país, principalmente em termos de água de beber.Solventes
O uso de solventes sem proteção – luvas, máscaras etc. – pode causar danos à pele, olhos, órgãos internos e até câncer. A advertência é do médico alergo-dermatologista Salim Amed Ali, pesquisador da Fundacentro, órgão do Ministério do Trabalho. Já em termos de meio ambiente, alertam outros pesquisadores, o uso indiscriminado de solventes polui as água, terra e ar. Um exemplo disto é a bandidagem praticada no postos de combustíveis, com a adição de solventes baratos principalmente à gasolina, danificando os motores e fazendo sair pelas descargas fumaça ainda mais poluente.


Alimentos
“A educação em  higiene dos processadores de alimentos no Brasil deve receber atenção urgente”, conclama o engenheiro de alimentos Marcelo Bonnet Alvarenga, pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias). Para o técnico, a manipulação de forma higiênica dos alimentos não é apenas importante para os consumidores brasileiros, porque, sem ela, “será ainda mais difícil exportarmos qualquer tipo de alimento para países mais avançados se não abraçarmos rapidamente a idéia”. Marcelo Bonnet Alvarenga resume assim a questão: “A segurança dos alimentos pode ser avaliada segundo a probabilidade de conterem perigos à saúde dos consumidores de natureza biológica (microrganismos causadores de enfermidades), física (materiais estranhos aos alimentos, freqüentemente ocultos nos mesmos) e química (presença de substâncias em níveis considerados tóxicos, mas que, à exceção de situações extremas, não comunicam sabor estranho ao alimento).”


Biscoitos
Também da Embrapa vem a notícia de que seus pesquisadores desenvolveram processo de fabrico de biscoitos fritos tipo “chips” com 50% de mandioca, economizando-se, assim, na importação de trigo. “A mandioca nasce e cresce com facilidade no Brasil e costuma ser  desperdiçada, pois a oferta é maior do que a demanda”, diz o técnico José Luís Ascheri, um dos responsáveis pela pesquisa em questão, acrescentando: “O que fizemos foi aumentar o valor agregado desta raiz, proporcionando condições para que o agricultor tenha lucro de até 1000%.” Para se ter uma idéia, um quilo de pellets custa R$ l,60 e rende 10 sacos facilmente vendáveis a R$ l,00 cada. Empresários não só do setor de biscoitos, mas de panificação em geral, podem entrar em contato com a Embrapa, que lhes oferecerá consultoria e suporte técnico para diminuírem a despesa com farinha de trigo, complementando-a com a de mandioca. Esta, é uma cultura geralmente de âmbito familiar, que demanda muita mão-de-obra, favorecendo, assim, a fixação do homem ao campo, para livrar as metrópoles do inchaço populacional motivado pelo êxodo rural. E também os consumidores ficarão contentes, mastigando “chips” nutritivos, bons e baratos.

Ecologica & Saúde

Hipocrisia Fiscal

19 de abril de 2004

Sempre que se diz que a lavoura de fumo e a indústria de cigarros devem ser ferradas, surgem seus defensores, invariavelmente, argumentando que ambas as atividades empregam muita gente e carreiam para os cofres governamentais uma fortuna em impostos. Estes advogados do mal têm, em parte, razão: realmente, do plantio à colheita do tabaco é… Ver artigo

Sempre que se diz que a lavoura de fumo e a indústria de cigarros devem ser ferradas, surgem seus defensores, invariavelmente, argumentando que ambas as atividades empregam muita gente e carreiam para os cofres governamentais uma fortuna em impostos. Estes advogados do mal têm, em parte, razão: realmente, do plantio à colheita do tabaco é demandado um exército de pessoas e, depois, o cigarro é o campeão de pagamento ao erário.
Mas o outro lado da moeda é também incontestável, porque, por mais gente que a fumicultura empregue e por maior que seja o volume de impostos tomados na venda de pitos, ficam a sociedade e o Governo no prejuízo, devido  aos males provocados pelo tabagismo. Os fumantes, mais cedo, mais tarde, terminam baqueados por doenças e distúrbios orgânicos causados pelos componentes do cigarro e charuto. A nicotina é a vilã mais notória, mas o alcatrão é um bandido não menos perigoso atentando contra a saúde do viciado. E, o pior, é que também é afetado quem estiver por perto respirando o fumacê, composto de um coquetel de tóxicos.
O fumante é candidato preferencial a extenso prontuário médico. Ali, certamente, logo haverá registros de indícios ou constatação de distúrbios cardiovasculares,  enfisema pulmonar, úlcera gástrica e por aí vai, sem falar num sofrido tumor canceroso decorrente do contato do fumo como os lábios ou no percurso da fumaça até os pulmões. E o tabagista termina sendo um entrave no trabalho, não só poluindo o ambiente como, por sua própria condição sanitária, tendo reduzida a sua produtividade. O prejuízo afeta não só a contabilidade do empregador como igualmente a do sistema público ou privado de saúde, quando o viciado vai a tratamento caríssimo e demorado.
E tem mais: o fumo é prejudicial também em termos ecológicos. É um cultura que esgota os nutrientes do solo e requer muito agrotóxico. Melhor seria plantar alimentos nestas terras, de preferência os que empregam muita gente, como, por exemplo, o feijão. Então, sem esta de defender a lavoura e a indústria fumageira com o argumento de que combate o êxodo rural e rende impostos. Uma coisa e outra não compensam os malefícios do hábito de fumar. E o que dizer do alcoolismo? É, sem dúvida, um provocador de acidentes no trabalho, no trânsito, causador de desassossego familiar, doenças etc. Também as bebidas alcoólicas têm amparo na hipocrisia fiscal.MODERNIDADE
    Outro dia, o “Globo Repórter” mostrou o Parque Yellow Stone – a exemplar e maior reserva florestal norte-americana, onde os cuidados com a preservação da vida nativa nada têm a ver com os procedimentos feitos por aqui pelas autoridades brasileiras do setor. Lá (porque os EUA são um país “pobre”), vêem-se guardas florestais a cavalo, que os leva quase que em silêncio aos lugares mais agrestes, favorecendo a prisão de caçadores, pescadores e lenhadores. Aqui (como o governo tupiniquim “nada” em dinheiro), os guardas dos parques nacionais aposentaram os cavalos, passando a deslocar-se em pipocantes motocicletas ou mastodônticos jipes a diesel, ouvidos a quilômetros pelos predadores da natureza. É a tal modernidade adaptada a país de economia e mentalidade subdesenvolvidas.


ILHA DA FANTASIA
    Tanto falaram mal de Brasília que o mau-olhado parece estar pegando. Na capital federal, o índice de desemprego é o maior do país; o custo de vida, também, e a criminalidade está rivalizando com a do Rio e S. Paulo. Pior do que todas estas calamidades é o quadro de racionamento de água pintado em cores cada vez mais alarmantes. Acontece que Brasília está numa região sem rios de porte, com abastecimento d’água dependente de nascentes e, estas, estão secando. Quem mora, por exemplo, em Sobradinho, que já foi a cidade-satélite mais aprazível de Brasília, vive o desconforto de ter água encanada dia sim e dois não, rotina em vias de ser adotada até no Lago Sul, bairro  charmoso da capital. Azararam Brasília com tanta insistência que ela está virando aberração geográfica: uma ilha da fantasia sem água… Superstição e ironia à parte, a nordestinação do Distrito Federal decorre das agressões ao meio ambiente (queimadas, desmatamentos, poços artesianos etc.).

ecologia & saúde

Pegando no Tranco

14 de abril de 2004

Há leis que pegam; outras, não. O Brasil, desde que éramos meninos, é apresentado com vocação para “celeiro do mundo”. Se for como produtor rural, está longe da meta visualizada. Mas, certamente, há muito tempo é o maior celeiro de leis. Acontece que os legisladores tropicalistas votam matérias em quantidade e sem maior preocupação com… Ver artigo

Há leis que pegam; outras, não. O Brasil, desde que éramos meninos, é apresentado com vocação para “celeiro do mundo”. Se for como produtor rural, está longe da meta visualizada. Mas, certamente, há muito tempo é o maior celeiro de leis. Acontece que os legisladores tropicalistas votam matérias em quantidade e sem maior preocupação com a qualidade. Também não estão nem aí se o Executivo e o Judiciário têm condições, o primeiro, de  obrigar a coletividade a respeitar a legislação e, o segundo, de punir os transgressores. Muitos deputados, senadores e vereadores aprovam leis apenas jogando para a torcida eleitoral.
O nariz-de-cera acima vem a propósito da lei de punição dos crimes ambientais votada há anos por suas excelências, mas deixando as autoridades do Executivo e Judiciário sem os instrumentos indispensáveis para sua aplicabilidade. Mas, finalmente,  o diploma legal foi regulamentado, aprovado e publicado no Diário Oficial da União. Portanto, agora as autoridades têm de começar  para  valer o jogo contra os agressores da natureza. Antes, os contraventores do setor escapavam facilmente da responsabilidade. A partir do mês passado, não: a nova lei é rigorosíssima, impondo multas até milionárias e muitos anos para o condenado ver o sol nascer quadrado.
No entanto, não pense o distinto leitor e a gentil leitora que essa lei dos crimes ambientais finalmente nasceu devido a um passe de mágica. Negativo: ela veio a luz no contexto de um parto demorado e sofrido. Muito foi destruído do meio ambiente brasileiro devido à demora em dotar a fiscalização deste instrumento punitivo rigoroso. Florestas foram derrubadas; rios, poluídos e assoreados; lavouras, pastagens e a atmosfera que respiramos, tomadas por tóxicos. A catástrofe ambiental brasileira chegou a um ponto que as pessoas mais conscientes  perguntavam se os governantes tinham ficado cegos, surdos e mudos para esta tragédia.
E o estopim que detonou o desengavetamento da lei de crimes ambientais foram as queimadas inimagináveis deste ano. A fumaceira foi tamanha que as autoridades, impedidas de ir de avião aos currais eleitorais, resolveram dar um basta, mandando aplicar a lei mantida em banho-maria. Agora, é preciso que os ambientalistas fiquem atentos para evitar que mais esta lei não pegue e caia no esquecimento. No Brasil é assim: tem de ir pegando no tranco.

Tudo errado


A totalidade das reportagens sobre o Parque Nacional do Pantanal enfocam a rotina de vida do guarda florestal Benjamim. Também, pudera!: ele é o único funcionário do IBAMA a vigiar a preservação da fauna e flora naquele mundão alagadiço. E o “seu” Benjamim  já não é nenhum garotão malhado e sarado para se impor na marra diante dos pescadores e coureiros predadores.  É um senhor dobrando o cabo-da-boa-esperança da idade física. Mesmo assim, lá vai “seu” Benja na canoinha peitando quem estiver atentando contra aquele ecossistema. Enquanto isso, há parques nacionais do IBAMA com funcionários a pentear macaco. É mais um exemplo de que, no serviço público brasileiro, tá tudo errado, compadre!


Parabéns!


É claro que, mesmo com a generalização acima, sempre há exceções. E uma delas foi gerada justamente em outra unidade de conservação ambiental do IBAMA – o Parque Nacional de Brasília (PNB). Acontece que, ali, qualquer obra de engenharia costumava interditar suas dependências para o público por muito mais tempo do que o prometido. Querem um exemplo? Ei-lo: a placa da reforma da Piscina Nova dizia que o trabalho demoraria, no máximo, 120 dias. Arrastou-se por mais de dois anos… Mas, no mês passado, foi  reparada a  Piscina Velha em apenas seis dias, ou seja: um dia antes do prazo no qual ninguém acreditava, por força dos episódios anteriores. Então, o mínimo que se deve dizer à atual administração do PNB é parabéns!                                                                                 
    
Picaretagem ecológica


Como que num passe de mágica, o assunto sumiu do noticiário, parecendo que um ente superior protege os responsáveis pela matança. Não se informou a população se medidas de segurança enérgicas foram tomadas para não se repetirem tragédias como a recente, em Foz do Iguaçu (PR), onde seis turistas e o barqueiro morreram na arriscada aventura de ver as quedas d’água de baixo para cima. Também não se noticiou se o empresário dono dos botes infláveis pagou todos os procedimentos sepultatícios das vítimas e se os familiares foram devidamente  indenizados. A opinião pública precisa saber se foi dada chance ao responsável para que deixasse suas obrigações a ver navios, fugindo para o Paraguai, como fizeram, mandando-se para a Espanha, os malacaras donos do Bateaux Mouche IV, que emborcou na baía da Guanabara, matando 55 turistas, no reveillon de 1988. Sim, porque esta gente costuma não pagar apólice de seguro, para ter lucro líquido e certo, tirando o corpo fora quando ocorre uma fatalidade. O Brasil precisa, e muito, de empresários que dinamizem seu turismo ecológico. É uma atividade econômica que, em muitos países, comprovou ser grande fonte de renda e de empregos. Mas deve ser ferrada a picaretagem ecológica, que enxota turistas, principalmente os estrangeiros movidos a dólar.


 

Ecologia & Saúde

Empurroterapia

7 de abril de 2004

Querem um exemplo pronto e acabado de publicidade enganosa? Ei-lo:  quem assistiu à TV nos últimos dias e conhece alguns rudimentos do processo digestivo e dos males proporcionados pela vida sedentária certamente concordará que vai para a Cucuia mais cedo, mais tarde, quem seguir o exemplo daquela atriz gorducha desempenhando o papel de garota-propaganda de… Ver artigo

Querem um exemplo pronto e acabado de publicidade enganosa? Ei-lo:  quem assistiu à TV nos últimos dias e conhece alguns rudimentos do processo digestivo e dos males proporcionados pela vida sedentária certamente concordará que vai para a Cucuia mais cedo, mais tarde, quem seguir o exemplo daquela atriz gorducha desempenhando o papel de garota-propaganda de mais um destes remédios aos quais apelam os glutões. Para  os pouco chegados a ficar diante da telinha ou não se ligam ao que se passa nos intervalos comerciais, vale explicar de qual publicidade enganosa estamos nos referindo. É aquela em que a ex-doméstica do "Sai debaixo!" e ex-aluna-pornô da "Escolinha do professor Raimundo" comenta com seu suposto marido o tanto que haviam comido. O maridão anuncia que, a fim de evitar ter um troço, vai dar uma caminhada para ajudar na digestão da comilança. Ela diz preferir ficar estatelada no sofá, colocando o estômago nos trinques com uma boa dose de milagroso digestivo cujo frasco é mostrado aos distintos telespectadores.
E essa publicidade não fica por aí: é duplamente enganosa, já que, ato contínuo, a supracitada atriz adverte o maridão dizendo-lhe que, se também quiser tomar uma golada daquela beberragem, deve ir à farmácia comprar outro vidro, porque o  conteúdo do  que ela lhe mostrou antes já era. É outra encenação enganadora do distinto público, pois todo e qualquer remédio não pode ser usado em dosagem ilimitada ou repetitivamente, seja homeopático ou alopático.
O que está precisando haver é uma rigorosa legislação punitiva da propaganda e publicidade enganosas, pois muito raramente os Conselhos de ética da categoria profissional que elabora as mensagens veiculadas pelos meios de comunicação agem com eficácia para evitar esse estelionato sanitário e/ou econômico. A enganação se vale de atores e atrizes consagrados, os quais só pensam no cachê e, certamente, não usam os produtos que anunciam, para evitar puxões de orelha de seus médicos, nutricionistas e preparadores físicos. Isto mesmo, porque, se ficarem bebendo ou comendo o que trombeteiam,  correm o risco de ir cedo comer capim pela raiz. Quem sabe tenha sido essa empurroterapia a co-responsável pela necessidade de implantar-se um elenco de pontes cardíacas no peito da obesa atriz mencionada acima?

 

Poluição mental
    Mesmo antes de análises laboratoriais conclusivas, plantaram nos veículos de comunicação que está poluída a água mineral que os freqüentadores do Parque Nacional de Brasília ali bebiam e levavam para consumir em casa. Isto bastou para reduzir drasticamente o movimento das bilheterias do local, embora sem aparecer um caso sequer de pessoa que tenha passado mal após beber água daquela unidade de conservação da natureza. E é justamente este fato que coloca em dúvida a seriedade da notícia geradora do pânico, pois é sabido que o organismo reage quando as pessoas ingerem ou se banham em água contaminada. As respostas vêm na forma de doenças na pele, nos olhos e, certamente, constrangedores distúrbios gastrintestinais.
    Como era muita gente que ali bebia e levava água para casa, deixando de fazê-lo, surgiram comentários de que, se a tal notícia da poluição foi plantada pelos engarrafadores de águas minerais, acertaram no objetivo comercial. Mas há freqüentadores do Parque  Nacional de Brasília que vão mais longe, dizendo que tudo faz parte de um plano de privatizar a atual área do local aberta ao público. Argumentam que nada melhor do que uma campanha de desmoralização para abrir caminho à privatização. Ou seja: espalha-se a notícia de estar poluída a água dali, fazendo com que o público deixe de lá ir. Como a arrecadação com ingressos não paga os gastos que o Ibama tem,  aciona-se a toque de caixa mais uma alienação de patrimônio público. Feito isto, a água dali, como que num passe de mágica, deixará de ser poluída e o local virará um luxuoso parque temático ou estância hidromineral com hotel-cassino planejado para a legalização em marcha da jogatina. Tudo, é claro, inacessível ao dinheiro disponível pela maioria dos que lá iam para andar, correr, nadar ou simplesmente respirar ar puro.
    Então, é preciso que os ambientalistas acionem mecanismos para provar que a água do Parque Nacional de Brasília não está poluída. Também devem exigir do Governo que fiscalize melhor as construções nos arredores do parque, para que estas, em breve, não se transformem em fatores poluentes, principalmente com a abertura de poços artesianos perto de esgotos, o que fatalmente contaminará o lençol freático que origina as minas da água mineral do parque, hoje desmoralizada por uma interesseira campanha de poluição mental afugentadora dos que lá gostavam de ir.

Vingança
    Não é de agora que ecologistas denunciam e veículos de comunicação mostram o estrago que as superbarcaças graneleiras causam nos barrancos do Rio Paraguai. Estes monstrengos flutuantes trafegam pelo principal  curso  d'água pantaneiro transportando cereais e minérios e vão atropelando a vegetação ribeirinha. Resultado: muitos barrancos desmoronaram e o rio foi sendo assoreado. Na época da seca na região, até  embarcações de porte médio encalham nos bancos de areia, levando à previsão de que aquelas superbarcaças tornarão o Rio Paraguai navegável só de canoa. É a vingança da natureza agredida.

Ecologia & Saúde

Século perdido

6 de abril de 2004

O Século XX está chegando ao fim e deixa para trás um rastro de acontecimentos positivos e negativos. Isto mesmo, pois durante os últimos 100 anos do segundo milênio da era cristã a vida no planeta Terra foi mais facilitada e, paralelamente, também mais agredida. Nesse período, duas guerras mundiais e conflitos regionais resultaram em … Ver artigo

O Século XX está chegando ao fim e deixa para trás um rastro de acontecimentos positivos e negativos. Isto mesmo, pois durante os últimos 100 anos do segundo milênio da era cristã a vida no planeta Terra foi mais facilitada e, paralelamente, também mais agredida.
Nesse período, duas guerras mundiais e conflitos regionais resultaram em  matanças entre a população civil maior do que o somatório das ocorridas em outros tempos. Acontece que, antes, os soldados lutavam peito a peito, com, no máximo, tiros e canhonaços de alcance visual. Mas, no Século XX, a tecnologia bélica inventou armas e munições para matar em massa e à distância. As bombas atômicas jogadas no Japão e os foguetes lançados contra o Iraque e Iugoslávia são exemplos da evolução perversa da ciência.
Mas não há como negar que foi durante o século que chega ao fim que mais se inventou também para beneficiar a vida. Na Medicina, cientistas descobriram vacinas contra muitas doenças antes mortais ou mutilantes, como a tuberculose e a paralisia infantil. Também remédios miraculosos foram inventados. A comunicação entre as pessoas foi tremendamente facilitada pela moderna telefonia e outros equipamentos. Para ir-se de um lugar para outro foram aposentadas as montarias, carroças e outros veículos jurássicos. Temos, hoje, confortáveis e velozes automóveis, ônibus, trens, navios e aviões supersônicos.
Mas um grande crime contra a ecologia cometido durante o Século XX mostra-se, agora, uma desgraça para a humanidade. Referimo-nos à exploração agropecuária com máquinas agressivas ao solo  no desmatar, plantar e colher, mais a adubação química e defensivos altamente tóxicos. Com estes recursos perversos, os proprietários das terras julgaram dispensável a quase totalidade da mão-de-obra e levas de desempregados do campo foram favelizar as cidades, que viraram caldeirões da miséria e violência.
A nova sistemática de produção agropecuária está resultando na desertificação de áreas antes férteis, assoreamento e poluição dos rios, devido à terra contaminada que vai para seus leitos. E, para complicar ainda mais a questão, estes rios recebem a sujeira das cidades favelizadas e rodeadas de indústrias poluente da terras, água e ar. Assim, o palco do Século XX tem sua cortina baixada revelando-se ecologicamente um século perdido.

Morrer de sede

O quadro pintado acima mostra um segmento muito trágico para a humanidade. É o caso da poluição da água. A do mar deixará de ser fonte de produção de alimentos para o homem, que nela logo nem poderá banhar-se. Já a água doce dos rios e lagos caminha para ser como a sua companheira do mar. Mas, aqui, a coisa se complica, porque, com a água doce totalmente poluída, as pessoas não estarão apenas privadas de peixes comestíveis, mas ficarão sem água até para beber. Nos Estados Unidos, o litro de água mineral já custa mais do que o de gasolina. Aqui, no Brasil, o produto caminha para este preço, devido à agressão desenfreada a nossos recursos hídricos. Não é nenhuma alucinação prever-se que logo haverá guerras entre países pela disputa de fontes de água potável. Então, que as autoridades pensem logo no que fazer para despoluir a água do planeta Terra antes que, já no século que se inicia, as pessoas comecem a guerrear para não morrer de sede.
 
Guerrinha candanga

A previsão genérica que acabamos de expor à meditação do leitor parece ser uma realidade em andamento no que se relaciona às minas d'água que brotam no Parque Nacional de Brasília. Ali,  foi feita a Represa Santa Maria, do onde provém a água que abastece a Asa Norte e a Península Norte da Capital Federal. Mas a Companhia de Águas e Esgotos de Brasília (Caesb) quer mais, principalmente agora que está sendo privatizada.
Acontece que, para localizar-se o novo Distrito Federal, no idos de 1950, foi escolhida uma área central do Brasil ideal para construir-ser uma capital administrativa sonhada para ter, no máximo, uns 500 mil habitantes. Mas a coisa explodiu e, hoje, Brasília e cidades-satélites somam mais de dois milhões de moradores. E, agora, vê-se que o empreendimento foi feito em local só com nascentes e alguns riachos já no limite abastecedor de uma população em crescimento.
Há um projeto de buscar-se água para Brasília no vizinho estado de Goiás, a uns 100 Km de distância. É uma providência caríssima e demorada. Como o dinheiro está curto e perto a crise no abastecimento d'água, a Caesb tenta conseguir autorização do Ibama para fazer mais uma barragem no Parque Nacional de Brasília. Projeto já foi apresentado há uns cinco anos, mas engavetado porque inundaria quase a metade daquela reserva de preservação ambiental.
Mas, agora, parece que se tenta outro caminho para atingir o mesmo  objetivo. Plantou-se nos veículos de comunicação que a água das piscinas do parque estão contaminadas. Os banhistas e quem lá bebia e levava água para casa reduziram a freqüência, dando munição aos defensores da privatização ou terceirização do local. Feito isto, a água dali, como que num passe de mágica, voltará à pureza, para ser engarrafada e canalizada para a população. Quem viver verá que começou uma guerrinha candanga.