Amazônia: invasão preocupa militares e Congresso

20 de abril de 2004

“A invasão da Amazônia é assunto sério, sempre motivada pela necessidade de proteção ao meio ambiente”Gen. Luiz Gonzaga Lessa A senha foi dada pelo general Luiz Gonzaga Lessa, Comandante Militar da Amazônia, que em depoimento à CPI da FUNAI, na Câmara dos Deputados, renovou a velha ameaça de invasão da Amazônia, desta vez com argumentos… Ver artigo

“A invasão da Amazônia é assunto sério, sempre motivada pela necessidade de proteção ao meio ambiente”
Gen. Luiz Gonzaga Lessa


A senha foi dada pelo general Luiz Gonzaga Lessa, Comandante Militar da Amazônia, que em depoimento à CPI da FUNAI, na Câmara dos Deputados, renovou a velha ameaça de invasão da Amazônia, desta vez com argumentos mais atualizados.
Foi o bastante para que governadores e parlamentares da região, na Câmara e no Senado, amplificassem a advertência do general, introduzindo um novo ingrediente: os guerrilheiros do grupo maoísta Sendero Luminoso, que há anos atuam em território peruano, estariam atravessando a fronteira para desenvolver suas atividades de treinamento na Amazônia brasileira, a salvo da repressão das autoridades do Peru.
O general Lessa garantiu aos espantados parlamentares que não se trata de uma paranóia, nem de intenção de aparecer na mídia. A invasão da Amazônia por tropas estrangeiras é assunto sério, e tem uma motivação importante: a necessidade de proteção ao meio ambiente.


Teoria
De acordo com a teoria do general Lessa, as intervenções militares atuais, como a da OTAN na Iugoslávia, têm caráter humanitário, cuja necessidade fica ao sabor de quem as interpreta. Mas na próxima década, século e milênio, é a defesa dos recursos naturais contra a ação predatória que vai justificar a invasão.
Lembrou o general que vários líderes internacionais têm manifestado, por inúmeras vezes, a intenção de considerar a Amazônia não um patrimônio brasileiro, mas um patrimônio da Humanidade.
A partir daí, questionar a soberania brasileira sobre a região será apenas um passo. “Queira Deus que, no futuro, – disse o general em tom dramático – não tenhamos de lutar para reincorporar a Amazônia ao território brasileiro”.
Para sustentar sua preocupação, o general Lessa deu notícia de um cartão postal britânico com a seguinte citação: Fight for the Amazon. Burn a Brazilian (Lute pela Amazônia. Queime um Brasileiro).
Um dos mais preocupados com as revelações do general é o senador Sebastião Rocha, do PDT do Amapá. Ele concordou com Lessa: o Governo precisa convencer a opinião pública internacional de que está defendendo o meio ambiente na Amazônia, para prevenir eventuais investidas em nome da preservação da floresta.


Intervenção militar
O que mais alvoroçou os parlamentares foi a proposta norte-americana, feita durante a última Assembléia Geral da OEA realizada recentemente na Guatemala, da criação de uma força de intervenção no Hemisfério Ocidental, com o objetivo de defender a democracia na região.
Um dos mais preocupados com essa possibilidade é o senador Roberto Saturnino, do PSB do Rio de Janeiro, para quem, “defender a democracia, defender o meio ambiente são razões que começam a ser invocadas, sem nenhum constrangimento, para justificar possíveis intervenções armadas”.
A proposta enfrentou resistências de vários países, inclusive do Brasil, mas não foi de todo abandonada: figurará na pauta da próxima Assembléia Geral da OEA, daqui a um ano.
A sugestão para a criação da força de intervenção foi antecedida por outra, de igual periculosidade, e que passou despercebida: dias antes da reunião da Guatemala, o embaixador dos Estados Unidos no Conselho Permanente da OEA, Victor Marrero, propôs a criação de um serviço de inteligência regional.
Tal serviço, segundo Roberto Saturnino, abriria espaço para intervenções abertas nos problemas internos de outros países, afetando a soberania dos estados nacionais. E o embaixador Marrero não usou meias palavras: disse, claramente, que o mundo caminha para a superação dos estados nacionais e a imposição de governos internacionais.
Naturalmente – completa o senador Saturnino – toda essa atividade seria comandada pela grande potência mundial (os Estados Unidos) ou pelas potências que a ela se unem nesse papel de policiamento internacional.
Organizações do governo norte-americano, como a Agência Central de Inteligência (CIA) e a Agência de Combate às Drogas (DEA) atuam abertamente no Brasil, através de suas representações, com o conhecimento do governo brasileiro.
No caso da DEA, há acordos operacionais com o ministério da Justiça e a Polícia Federal, que recebem recursos do governo norte-americano para aplicar no combate ao narcotráfico.
Para o senador carioca, são claros indícios de uma crescente influência estrangeira, que, sobretudo no caso da DEA, não se limita apenas ao Brasil, mas a outros países no continente que produzem cocaína, como o Peru e a Colômbia.
Mas apesar das preocupações do general Lessa e dos parlamentares, o núcleo de segurança do governo, instalado no Palácio do Planalto, não parece muito preocupado.
Congressistas ouviram de autoridades daquele setor que a situação não é assim tão dramática, e que as forças de segurança acompanham tudo e garantem que “há muito mais fumaça do que fogo.”