Urge recuperar a lagoa da Pampulha

O problema da Pampulha é igual ao da Baía da Guanabara: lagoa e baía agonizam em meio a um emaranhado de projetos e promessas

14 de abril de 2004

Um dos mais belos e conhecidos cartões postais do país, o complexo da lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, completamente abandonado nas últimas décadas, vítima do descaso e incompetência das autoridades, vem recebendo nos últimos anos uma série de estudos e projetos, buscando sua recuparação. A lagoa da Pampulha, com seus 18 quilômetros de orla,… Ver artigo



Um dos mais belos e conhecidos cartões postais do país, o complexo da lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, completamente abandonado nas últimas décadas, vítima do descaso e incompetência das autoridades, vem recebendo nos últimos anos uma série de estudos e projetos, buscando sua recuparação.


A lagoa da Pampulha, com seus 18 quilômetros de orla, foi construída em 1936 por Juscelino Kubitscheck para ampliar o abastecimento de água da região Norte da capital. Aos poucos, no entato, foi sofrendo os efeitos do assoreamento causado pela veloz expansão imobiliária daquela que é hoje uma das regiões mais nobres da cidade e também por obras de grande porte, como a construção do estádio do Mineirão no final da década de 60 e do Ginásio do Mineirinho no início de 70.


Junto destes fatores contribuíram também para o assoreamento e a poluição da lagoa, o despejo de rejeitos líquidos e sólidos, residenciais e industriais carreados através do ribeirão Sarandi desde Contagem, local de maior concentração industrial da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) e também dos córregos da Água Funda, Ressaca e Mergulhão, estes dentro de Belo Horizonte. Até recentemente eram jogados na lagoa da Pampulha algo em torno de 380 mil m3 de sedimentos sólidos.



Valor histórico
O complexo da Pampulha possui elevado valor histórico, arquitetônico e paisagístico. Na década de 40, recebeu obras de Oscar Niemeyer como a Casa do Baile, o Museu de Arte e a Igreja de São Francisco de Assis, que possui quadros, afrescos e detalhes externos de Cândido Portinari e jardins de Burle Marx. O pintor Alfredo Ceschiatti também possui obras no complexo.


Há mais de 30 anos, a infeliz idéia de um funcionário da Secretaria Municipal dos Transportes, resultou no despejo na lagoa de uma quantidade de aguapés, tidos então como capazes de eliminar a poluição das águas, já que se alimentam de elementos químicos poluidores. Foi um tiro certeiro que saiu pela culatra e o resultado foi fulminante: a proliferação rápida e devastadora da planta aquática, deixando oculto praticamente todo o espelho d’água da lagoa e resultando também em mal cheiro e proliferação de insetos.


Os programas
O primeiro deles foi o Programa de Saneamento Ambiental das Bacias Arrudas e Onça da RMBH (Prosam), praticamente concluído a um custo global de US$ 307 milhões, dos quais US$ 144 milhões do Banco Mundial, US$ 64 milhões do governo do estado, US$ 1,6 milhão da PBH e US$ 225 mil da prefeitura de Contagem. Outros US$ 97,5 milhões serão ainda empregados pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) para construção de duas estações de tratamento de água.


O Prosam consegui impedir que 85% de todo o despejo de resíduos líquidos residenciais e industriais à montante da Pampulha continuassem caindo diretamente dentro da lagoa.


O objetivo final do Prosam é despoluir o rio das Velhas, responsável pelo abastecimento de água de grande parte de Belo Horizonte, mas que, entre outros fatores, e por receber a maioria dos cursos d’água poluídos da RMBH, é bastante assoreado, sendo que em certos trechos possui nível zero de oxigenação.


A Copasa, de acordo com o superintendente de projetos, Mário Roizenbruch, já conseguiu através de ações do Prosam interceptar a quase totalidade dos esgotos residenciais e industriais de Contagem que desembocavam no córrego Sarandi e desaguavam na lagoa da Pampulha. Hoje, estes resíduos são direcionados para uma canalização de interceptores de 66,69 quilômetros de Contagem até o bairro Ribeiro de Abreu. Até o final de 2003, o rio das Velhas receberá uma Estação de Tratamento neste bairro visando eliminar o despejo de água poluída originária de Contagem e Belo Horizonte. Os investimentos serão de R$ 95 milhões com a participação da iniciativa privada – outra ET será construída em Sabará junto ao ribeirão Arrudas a um custo de US$ 105 milhões, o que completará o projeto de despoluição do rio das Velhas, já que este curso d’água também carreia detritos industriais e residenciais de Belo Horizonte e Contagem desemboca no mesmo rio.


“Todo este trabalho iniciado a partir de Contagem e que inclui também um outro braço que é o ribeirão Arrudas, mas que passa ao largo da Pampulha, implicou na canalização do Córrego Sarandi e na implantação de uma avenida de duas pistas d’água com extensão de 8 quilômetros em pista dupla, num total de 16 quilômetros, que se estende até o bairro Ribeiro de Abreu”, diz o superintendente de Recursos Hídricos da Copasa, Walter Vilela Cunha. Nos dois lados da Avenida Sarandi foi instalada a rede interceptora de resíduos que antes eram despejados na lagoa da Pampulha.


A matéria na íntegra você encontra na edição de outubro da Folha do Meio