Comitê de Bacia do rio Doce

Rio Doce: a bacia dos contrastes

22 de julho de 2004

A bacia do rio Doce é rica porque abriga a mineração de grande porte, porque tem o maior complexo siderúrgico da América Latina, a produção de celulose, laticínios, a geração de energia, além da agricultura e pecuária, entrando com mais de 2% na formação do PIB do Brasil. Sozinha, a bacia é mais rica do… Ver artigo

A bacia do rio Doce é rica porque abriga a mineração de grande porte, porque tem o maior complexo siderúrgico da América Latina, a produção de celulose, laticínios, a geração de energia, além da agricultura e pecuária, entrando com mais de 2% na formação do PIB do Brasil. Sozinha, a bacia é mais rica do que muitos estados do Brasil. Mas é uma bacia empobrecida com os freqüentes episódios de desmatamento, erosão e assoreamento, descartes de esgotos urbanos in natura e efluentes industriais sem o necessário tratamento, disseminação de aditivos químicos agrícolas de toda a sorte, inundações aqui e escassez de água acolá. Sozinha, ela é também a síntese de quase todos os problemas que podem ser encontrados em uma bacia hidrográfica.
O capital natural é parte da riqueza econômica de uma região e, se ele estiver degradado, é a economia da região que perde. Quando a base de recursos naturais está sadia, os empecilhos ao crescimento são menores. É então acelerado o aumento da riqueza e a melhoria do bem estar social.
Além disso, esse caráter sadio da base de recursos naturais de uma região reflete, sem sombra de dúvidas, uma distribuição menos desigual de riquezas e de oportunidades. Preservar o meio ambiente é tarefa de todos. Somente com cidadania é que todos podem dar a sua contribuição nesse processo. Não há, pois, como esperar-se perenidade na preservação dos recursos naturais se nada se fizer pela inclusão de todos.
Em outro contexto, o antropológico-cultural, a bacia é rica o suficiente para solucionar seus problemas. A maior riqueza do Doce é a sua gente, seus mais de três milhões de habitantes que querem estar – e estão – engajados no processo que condenará ao desaparecimento as perversidades que se lhe vêm impondo todos esses anos. Há que haver uma forma social de vacinação: a cidadania do povo da bacia.
A cidadania, para os que se dedicam à gestão dos recursos hídricos, resulta da decisão participativa, envolvendo governos, sociedade civil e setor privado, em um debate livre, que se trava abertamente sobre os temas que interessam ao bom e racional uso da água.
A cidadania resulta ser, pois, nesse caso, o processo que se desenrola no comitê da bacia, capaz de conduzir a decisões mais bem estruturadas, reduzindo de modo significativo as margens de erro e projetando soluções mais edificantes.
A ANA, atenta a seu papel institucional, já vem atuando na Bacia do rio Doce desde 2001. Da mesma maneira como procedeu em outras bacias como as do Paraíba do Sul, do Verde Grande e do próprio São Francisco. O Plano da bacia do rio Doce partirá de um estágio bastante favorável, uma vez que conta com o documento intitulado Agenda Doce, texto de planejamento estratégico de rara precisão sobre os problemas mais importantes e também sobre as perspectivas da bacia.
O uso racional da água da bacia abrirá espaço para um conjunto maior e mais ordenado de atividades produtivas. Aí surgirão as oportunidades de melhoria da qualidade vida e de erradicação da pobreza.