Coluna do Meio

A vida e a morte 1

27 de setembro de 2004

 Conta-se nos dedos de uma mão os jornais que cobrem a área ambiental, no Brasil. Todos vivendo tempos de penúria e com escassos patrocinadores. Mas não é o que acontece com o jornal Caça&Conservação, editado pela Associação Gaúcha de Caçadores. A edição de junho/agosto traz na capa a foto de uma bela revoada de pássaros dizendo, em… Ver artigo

 Conta-se nos dedos de uma mão os jornais que cobrem a área ambiental, no Brasil. Todos vivendo tempos de penúria e com escassos patrocinadores.
 Mas não é o que acontece com o jornal Caça&Conservação, editado pela Associação Gaúcha de Caçadores.
 A edição de junho/agosto traz na capa a foto de uma bela revoada de pássaros dizendo, em manchete, da alegria dos caçadores: “Espetacular temporada – RS tem a maior afluência de marrecões dos últimos anos”.
 Anúncios em todas as páginas: acessórios para tiro, Land-Rover, Jeeps, munições, rifles, cachorros, lanternas, miras telescópicas, equipamento de camping etc.
 No mais, são fotos de caçadores com marrecões pendurados no pescoço, marrecas abatidas, caçadores camuflados para chegar ainda mais perto das presas.
 A vida continua relegada a segundo plano, enquanto a morte faz a festa, a alegria e o prazer de pessoas inescrupulosos.


A vida e a morte 2


 O valor de uma caçada está bem representada também nas Olimpíadas.
 Não é à toa que o futebol – esporte coletivo mais popular do mundo – dá apenas duas medalhas de ouro (uma para o masculino e outra para o feminino), enquanto o tiro pode dar 18 medalhas de ouro, em suas nove modalidades [Skeet, piscola tiro rápido, fossa dublê, carabina de ar etc, etc] masculino e feminino.
 É a força e a truculência do rifle na guerra, no esporte e nas Olimpíadas ditas da paz!


Valha-me São Francisco!


 Parece que o projeto de revitalização do rio São Francisco virou boi de piranha.
 A continuar a lenta agenda da revitalização e o rápido interesse político por trás da agenda (mais brasa para minha sardinha) o decantado rio pode cair naquela do cupuaçu que deixou de ser amazônico para ser marca registrada japonesa.
 Daqui a pouco algum grupo pode até registrar a revitalização como sua, deixando as comunidades ribeirinhas para escanteio. Aí as ações, como a transposição, virão por decreto ou “no peito”, como diz o ministro cearense Ciro Gomes.
 Onde está o pacto federativo, perguntam os técnicos e os ambientalistas?
 Lá no céu, o xará São Francisco deve estar cismado… Aqui na terra, José Carlos Carvalho seu tutor – como presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco – corre o risco de ficar cismando nos barrancos de Pirapora, enquanto fuma seu cigarrinho de palha…
 A revitalização da bacia do São Francisco continua na bacia das almas: até agora só teve para consultores…


Te cuida, Velho Chico! No fechar das urnas desta eleição, será lançada uma campanha publicitária para “vender” ao povo brasileiro o megaprojeto da transposição do São Francisco. Será assinada pelo mago da publicidade, Duda Mendonça.


Hidropirataria 1


 O caso da hidropirataria continua em discusão na ANA, na Marinha e no Ibama. Na ANA, houve uma reunião de diretoria para estudar o assunto.
 Navios petroleiros continuam se abastecendo de água do rio Amazonas (220 milhões de litros cada um) e zarpando para o Oriente Médio.
 Para alguns técnicos, a água dos rios brasileiros é um bem público e tem valor econômico de acordo com a própria lei nacional, portanto não se pode permitir essa pirataria hídrica. Mas tem um detalhe: considerando que ela é necessária a quem está “roubando” e que a disponibilidade de água do Brasil na Amazônia é muito grande, há uma solução.
 Primeiro: que a fiscalização seja rigorosa.
 Segundo: que o governo (ou o Legislativo) aprove a venda dessa água aos países dos petrodólares a preços condizentes com o valor econômico que tem para eles.
 Tal qual o petróleo que não vem de graça, a nossa água também não deve ir de graça.


Hidropirataria 2


 Um petroleiro cheio de água em seu lastro acumula um volume suficiente para abastecer uma cidade de médio porte durante 15 dias.
 Evidente que água doce levada pelos navios em nada afetaria a vazão do rio Amazonas, que joga 220 milhões de litros a cada segundo no Oceano Atlântico.
 Portanto, cada petroleiro dos grande está levando um segundo de água da foz do rio Amazonas.