Protegendo a biodiversidade

Corredores ecológicos

28 de setembro de 2004

foto: São três corredores: o Araucária (no centro-sul), o Iguaçu e o Caiuá-Ilha Grande Cerca de U$32 milhões estão sendo investidos no Programa com apoio financeiro do GEF – Fundo Mundial para o Meio Ambiente, através do Banco Mundial. O trabalho é considerado pelo GEF como uma experiência pioneira no mundo.  “O Paraná é o… Ver artigo


foto: São três corredores: o Araucária (no centro-sul), o Iguaçu e o Caiuá-Ilha Grande


Cerca de U$32 milhões estão sendo investidos no Programa com apoio financeiro do GEF – Fundo Mundial para o Meio Ambiente, através do Banco Mundial. O trabalho é considerado pelo GEF como uma experiência pioneira no mundo. 
“O Paraná é o primeiro estado a construir ferramentas efetivas de monitoramento dos trabalhos de conservação da biodiversidade, o que está orientando toda a política pública nesta área”, declara o secretário do Meio Ambiente do Paraná, Luiz Eduardo Cheida.
O Projeto Paraná Biodiversidade, abrange três regiões distintas de atuação, localizadas ao longo dos rios Iguaçu e Paraná, e foram escolhidos pela importância estratégica de remanescentes de ecossistemas originais.


Três corredores
São três os corredores: corredor Araucária, na região centro-sul; corredor Iguaçu – Paraná, bioma conhecido como “Floresta Atlântica do Interior Brasileiro” e que envolve 26 municípios do entorno do Parque Nacional do Iguaçu e corredor Caiuá-Ilha Grande, complexo ambiental formado por 26 municípios do noroeste do Estado até o Parque Nacional de Ilha Grande.
A área que está sendo trabalhada é de, aproximadamente, 2,2 milhões de hectares envolvendo 63 municípios do estado onde se encontram seis unidades de conservação estaduais e três federais.
Além da conexão de remanescentes florestais o programa trabalha com outras vertentes que prevêem a estruturação de processos de educação ambiental da população que vive no entorno dos corredores, implantação de rigoroso sistema de fiscalização, recomposição florestal, reestruturação das unidades de conservação e Parques e planejamento do uso do espaço agrícola. 
Cerca de 20 mil famílias rurais inseridas nos corredores de biodiversidade estão recebendo recursos e apoio técnico para transformar suas áreas em propriedades ambientalmente corretas. A idéia é converter a agricultura e pecuária tradicional para uma agricultura de menor impacto ao solo e meio ambiente, como por exemplo, o uso de sistemas agroecológicos, agricultura conservacionista e orgânica assim como o uso de tecnologias alternativas.
Além disso, o programa prevê a implantação de 40 módulos agroecológicos como modelo de produção sustentável de menor impacto ao meio ambiente e que vai auxiliar no desenvolvimento de projetos como o turismo rural e ecológico, psicultura, apicultura e artesanato.
Cursos de capacitação estão sendo oferecidos para 600 professores municipais para divulgar a importância da conservação da fauna e flora nativa. A Polícia Florestal vai atuar na fiscalização dos três corredores, evitando atividades ilegais como a caça, pesca, desmate e derrubada de árvores nas áreas de preservação permanente.


Diretrizes
Durante o planejamento do Projeto Paraná Biodiversidade foram elaborados diagnósticos identificando as principais causas da perda da biodiversidade no estado, como por exemplo, a agricultura impactante, caça e pesca ilegal, desmatamento e a ausência da mata ciliar.
No Paraná, a política de Meio Ambiente foi totalmente reestruturada de forma onde todos os programas estejam interligados. Um dos maiores desafios na área ambiental é a recomposição da cobertura florestal do Estado, que em 1930 era de 64,12% e no ano de 2000 somava apenas 24,87% de remanescentes florestais. A situação mais crítica ocorre quando são contabilizados apenas os estágios mais desenvolvidos de vegetação (médio e avançado) que somam 14,64%, ou somente em estágio avançado de desenvolvimento, com apenas 3,40%.
Para tentar reverter este quadro o governo do Paraná está desenvolvendo ações eficazes como o Programa Estadual de Mata Ciliar, Programa de Proteção a Fauna entre outros que estão diretamente associadas ao programa Paraná Biodiversidade.
O Programa de Mata Ciliar prevê o plantio de 90 milhões de árvores nas margens dos principais rios do estado, unidades de conservação, bacias hidrográficas e mananciais de abastecimento público. Os produtores ainda estão recebendo recursos para isolar as áreas próximas as margens dos rios deixando que a vegetação se recomponha naturalmente.
O Programa Paraná Biodiversidade também está incentivando a recuperação da mata ciliar e trabalhando em dois ecossistemas paranaenses que são a floresta ombrófila mista (araucária) e a floresta estacional semidecidual  onde se encontram espécies como a  peroba, pau- marfim jaracatiá e guapeva.
Estes ecossistemas são considerados refúgios, sítios reprodutivos e hábitat de milhares de espécies. Nas florestas com Araucária encontram-se populações de quatis, papagaio-charão, papagaio-peito-rocho e o griperinho, além de espécies diversas de peixes, anfíbios e répteis. Já a floresta estacional semidecidual abriga mais de 22 espécies de aves migratórias, peixes, plantas e populações de jacutinga, cervo-do-pantanal, e onça-pintada sendo a única área de ocorrência do gavião real.


Biodiversidade é garantia de vida Biodiversidade – A diversidade e garantia do fluxo de animais e outras espécies são conseqüência da recomposição e preservação das florestas. Para esse fim o Paraná instituiu a Política Estadual de Proteção à Fauna Silvestre, estabelecendo o primeiro Sistema de Proteção à Fauna do país. Segundo o secretário Luiz Eduardo Cheida a necessidade de criação de um sistema de preservação da fauna foi detectada após a realização de um diagnóstico que apontou fatores como diminuição do habitat de algumas espécies, tráfico de animais silvestres, falta de programas de incentivo a pesquisa científica e de reabilitação e destinação da fauna silvestre apreendida. Também foi assinada a resolução que institui o Conselho Estadual de Conservação da Fauna Silvestre. A idéia é que o Conselho seja formado por representantes do governo e da sociedade civil a fim de orientar as ações para a preservação da fauna paranaense. Outra ação que deverá contar com recursos do projeto Paraná Biodiversidade é a instituição da Rede Pró Fauna, que terá como objetivo apoiar as ações do Estado para a Proteção da Fauna. Entidades como Itaipu Binacional, Universidades e outras instituições chaves como Ibama, Polícia Federal, ONGs, Zoológicos Municipais, e toda comunidade científica garantirão o êxito do sistema ao integrar a Rede Pró Fauna. A Secretaria do Meio Ambiente lançou ainda uma campanha de divulgação contendo todos aspectos que envolvem a proteção das espécies da fauna no Paraná, incluindo informações como as principais ameaças à fauna, espécies ameaçadas de extinção no Paraná e combate ao tráfico de animais silvestres. A revisão no Livro Vermelho da Fauna Paranaense também faz parte desta campanha. O projeto é formado por um diagnóstico sobre 344 espécies ameaçadas de extinção. Nesta nova versão foi incluída a análise do status das espécies de todos os grupos de vertebrados, incluindo peixes e anfíbios – que não estavam presentes na versão anterior (1995) . A nova versão inclui o estudo de 177 espécies a mais do que a versão de 1995.


 Luiz Eduardo Cheida  – ENTREVISTA



Folha do Meio – Por que essa mudança de conceitos na área ambiental do Paraná?
Cheida – Todas as mudanças visaram solucionar as causas da degradação ambiental e não só as suas conseqüências. Introduzimos conceitos como a prevenção, ao elaborar o Mapa de Risco Ambiental do Paraná; o planejamento ao iniciarmos o Zoneamento Ecológico-Econômico e a transversalidade, ao buscar que todo o governo se responsabilize pela política ambiental. Mas, a principal mudança se refere à incorporação da variável social. A questão ambiental é, antes de tudo, uma questão social. Degradação ambiental e exclusão social costumam caminhar juntas. O desenvolvimento, com justiça social, talvez seja a resposta para muitas mazelas ambientais.
FMA – De onde surgiu a idéia dos corredores ecológicos?
Cheida – O conceito de interligar fragmentos vegetais, permitindo o fluxo gênico e o fluxo de espécies vivas, já existe. Agora está em construção no Paranál. O que fazemos é a construção dos corredores de biodiversidade adequando propriedades rurais.
Estamos construindo um mega-corredor em 2 milhões de hectares, abrangendo 63 municípios e 19.600 propriedades rurais. Estas prioridades passam a ter práticas ambientalmente adequadas no que diz respeito a mata ciliar, reserva legal, plantio direto, curvas-de-nível, readequação de estradas. Assim, os fragmentos vegetais são interligados. A população das cidades, empresários, trabalhadores, professores, lideranças e ONGs participam da tomada de decisão quanto as ações a serem desenvolvidas nos corredores.
Portanto, não é somente a construção de um espaço físico e sim a construção de um novo conceito. Acredito que, dessa forma, podemos estimular e garantir uma rica biodiversidade.
FMA – Quais as principais estratégias utilizadas para garantir a construção desses corredores?
Cheida – As estratégias devem demonstrar que quanto maior a biodiversidade de um ecossistema, mais equilibrado e produtivo ele será. Assim, estimulamos a criação de módulos agroecológicos, um conjunto de 20 propriedades rurais.
Estes produtores devem trocar sua produção impactante. Exemplo: em vez de fazer carvão de uma mata, promovem um outra atividade econômica como a produção de mel ou piscicultura.
O próprio estado ajuda na substituição do negócio, por auxílio financeiro e orientação técnica permanente. Em um outro exemplo, fornecemos cerca, elevadores de água e mudas de árvores nativas aos produtores para que façam suas matas ciliares.
Com a mata ciliar, o aumento do volume e qualidade da água do rio e das nascentes vai fazê-los aderir a ações semelhantes. É muito importante inserir a comunidade nestas estratégias.


Estamos construindo um mega-corredor em
2 milhões de hectares, abrangendo 63
municípios e 19.600 propriedades rurais.
Luiz Eduardo Cheida


summary


Biodiversity corridors
Brazilian state of Paraná develops pioneer biodiversity recovery project to enable the reproduction and survival of animals, propagation of plant species and to improve water and control erosion


The Paraná State Secretary of the Environment and Water Resources has been working toward the development of the Paraná Biodiversity Program since early 2003, which includes the recovery of biodiversity by means of establishing “ecological or Biodiversity corridors.”
These corridors are being formed by linking the remaining forest, conservation units, Áreas de Preservação Permanente -APP (Areas of Permanent Preservation), Parks, Reservas Particulares do Patrimônio Nacional -RPPN (Natural Heritage Private Reserves), Ecological Stations and other legally established entities.  The purpose, in addition to the integration of the remaining forest is to enable the reproduction and survival of animals, propagation of plant species, improvement of the quality of the water and control erosion in these locations.Roughly U$21 million had been earmarked for investment in the Program and financial support is being provided by the World Bank Global Environmental Fund – GEF.  The work is being looked upon by the GEF as a pioneer experience in the recovery of biodiversity. 
 The Paraná Biodiversity Project includes three different regions of activity, located along the Iguaçu and Paraná rivers which were chosen owed to their strategic importance as remainders of the original ecosystems.  There are three corridors:  Corredor Araucária, in the central southern region; the  Corredor Iguaçu – in Paraná, a biome known as the Floresta Atlântica do Interior Brasileiro (Brazilian Inland Atlantic Rain Forest) that encompasses 26 municipalities surrounding the Parque Nacional do Iguaçu (Iguaçu National Park) and the Corredor Caiuá-Ilha Grande, an environmental complex comprising 26 municipalities from the northwestern section of the State to the Parque Nacional de Ilha Grande (Ilha Grande National Park).
The area of this endeavor covers approximately 2.2 million hectares involving 63 municipalities where six state and three federal conservation units are located.
In addition to the link of the remaining forest, the program works with two other points, which call for the structuring of environmental education of the population which resides in areas neighboring the corridors and a rigorous system of inspection and scrutiny. 
Nearly 20,000 rural families ensconced in the biodiversity corridors will receive resources and technical support to transform their areas into environmentally correct properties.  The idea is to convert traditional agricultural and animal farming activities to agricultural endeavors which impact to a lesser degree the soil and the environment, by using, for example, agro-ecological systems, conservationist and organic farming, planting organic products and the use of technological alternatives.
Courses and training are being offered to 600 municipal teachers and technicians to impart the importance of conserving the indigenous flora and fauna.