Editorial

Caro Leitor

19 de abril de 2005

No que diz respeito à violência socioambiental, parece que o Brasil vive de tragédias anunciadas. Ou até, podemos dizer, de manchetes permanentes. Sim, se algum jornal quiser manter a mesma manchete, todos os dias, estampada na primeira página, a publicação pode até variar de tema, mas não precisa trocar o título. Estará sempre atual. Alguns… Ver artigo

No que diz respeito à violência socioambiental, parece que o Brasil vive de tragédias anunciadas. Ou até, podemos dizer, de manchetes permanentes. Sim, se algum jornal quiser manter a mesma manchete, todos os dias, estampada na primeira página, a publicação pode até variar de tema, mas não precisa trocar o título. Estará sempre atual. Alguns exemplos de manchetes que não perdem a atualidade nunca: Rebelião na Febem de São Paulo; Chacina em favela no Rio de Janeiro; Militar envolvido no roubo de carga e de sequestro; Justiça solta bandidos; Briga por terra no Pará faz mais uma vítima; Rebelião em presídio; Morre mais um indiozinho em Dourados.
Sim, quando o assunto é segurança nacional, os problemas são muitos. Na época das campanhas políticas o debate fica mais forte e todos prometem resolver a questão da violência. Terminada a eleição, os problemas permanecem intocados. Não dá para entender o número de militares que ganham da sociedade arma, farda e salário para integrarem o crime e se investirem contra a própria sociedade que os mantêm.  Menos fácil, ainda, é entender como é possível não se encontrar uma solução para os índios Kaiowá/Guarani, no Mato Grosso do Sul. Sabe-se que a persistência da fome entre eles está relacionada com a demarcação de suas terras. Segundo Antônio Brand , coordenador do Programa Kaiowá/Guarani da PUC de Mato Grosso do Sul, hoje as terras que eles têm à disposição, em algumas áreas, não chegam a um hectare por família e estão profundamente degradadas. Segundo Brand, “sua população cresce sem qualquer perspectiva de futuro, dentro ou fora das pequenas reservas de terra que lhes restaram do amplo território que ocupavam recentemente”. A Semana dos Povos Indígenas de 2005 tem como tema a Paz, Solidariedade e Reciprocidade nas Relações entre pessoas, famílias, comunidades e povos. Não há paz, onde não há respeito à diversidade étnica. Não há paz onde há denominação pela força. Não há paz onde predominam a ganância, o dinheiro e o mercado. Enquanto a ética e a tolerância forem apenas palavras bonitas para serem usadas em discursos e não forem incorporadas às ações e comportamentos dos homens públicos, dos empresários e de todo e qualquer cidadão, definitivamente,  as tristes manchetes continuarão frequentando as primeiras páginas dos jornais. E não haverá paz.


SUMMARY


Dear reader


It would seem that Brazil is undergoing a series of tragedies foretold, in respect to social-environmental violence.  Maybe, instead, we should say that these issues are constantly appearing in the headlines.  If any newspaper wanted to keep the same headline indelibly printed on the first page everyday, the publication would only need to change the story, but would not have to change the title; that would always be current.  Some examples of headlines which never seem to get old are:  Riots in the FEBEM reformatory in São Paulo; Massacre in a Rio de Janeiro shantytown; Military policeman involved in theft of cargo and kidnapping; Justice system releases crooks; Fights over land in the state of Pará result in one more victim; Prison riots; One more small Indian dies in Dourados. 


Yes, when it comes to the subject of national security there are a great many problems.  During the political campaigns, rhetoric is strong and all the candidates promise to solve the issue of violence.  Once the elections are over, the problems remain unchanged.  It is unfathomable why so many military police are presented with arms, uniforms and salaries by our society to engage in criminal activities against the very society that supports them.  It is even less easy to understand why we cannot seem to find a solution for the Kaiowá/Guarani Indians in the state of Mato Grosso do Sul. We are aware that continued hunger among them is related to the boundaries of their land.  According to Antônio Brand, coordinator of the  Kaiowá/Guarani Program at PUC, the Mato Grosso do Sul Catholic university, the lands they hold today in some areas do not even add up to one hectare per person and the soil is completely depleted.  In Brand’s opinion, “their population increases without any prospects for the future, either inside or outside the small reservations which still remain available to them, compared to the vast territory that until recently was all theirs.”


The theme of the  2005 Week of the Indigenous Peoples, is Peace, Solidarity and Reciprocity of Relationships among people, families, communities and peoples.  There can be no peace where there is no respect for ethnic diversity. There is no peace where there is domination by force.  There can be  no peace where greed, money and the market reign supreme.   As long as ethics and tolerance continue to be merely pretty words used in speeches and are not transformed into actions and behaviors of our public leaders, businessmen and each and every citizen, then the gloomy headlines will definitely continue to frequent the front pages of newspapers and there will be no peace.  
 SG