Cachorada... educação ambiental ao ar livre

Bosta, ninguém gosta

18 de julho de 2005

Lara entra em ação! Na sola de sapato tem cocô de cachorro Esta praça não é privada de cachorro A rua peru é linda sem cocô de cachorro Os gatos enterram o cocô. E  o seu cachorro? Grosso, fino, grande, pequeno, duro, pastoso, marrom, preto, redondo, cilíndrico, em bastão. Cocô de cachorro de vários calibres,… Ver artigo

Lara entra em ação! Na sola de sapato tem cocô de cachorro


Esta praça não é privada
de cachorro


A rua peru é linda sem cocô
de cachorro


Os gatos enterram o cocô.
E  o seu cachorro?


Grosso, fino, grande, pequeno, duro, pastoso, marrom, preto, redondo, cilíndrico, em bastão. Cocô de cachorro de vários calibres, consistências, cores e forma no meio das calçadas, gramados e canteiros. As fezes caninas denunciam o desrespeito dos donos com o cidadão. Para todo lado tem cocô de cachorro! A sujeira se acumula. Incomoda e fede. Basta de reclamações. Mãos-à-obra!
A iniciativa nasceu de um grupo formado por umas poucas famílias e envolveu adultos e crianças. A estratégia era realizar algumas tarefas. A primeira, produzir vários bilhetes escatológicos humorados. O grupo escreveu frases, fez desenhos e colou decalques de gente, bicho e planta em folhas de papel. A ideía era espetar uma pequena mensagem num cocô de cachorro. Um palito de dente, colado atrás de cada papel, cumpriu a função desejada. Cada mensagem transformou-se em miniestandarte.


Cocô à vista! Que fedor!
Cocô só traz azar.


Nossa, que bonitinho este cachorro, mas só que tem um problema: Faz cocô na rua!


Passear de bicicleta sem cocô é tão bom! Esta rua é pública e não privada. Que tal catar o cocô do cachorro?


Que cachorro fez cocô na porta de sua casa?


Estou feliz! Não pisei em nenhum cocô de cachorro!


A agitação antifezes canina na rua cresceu. Amigos de bairro e incomodados aderiram à causa. A atenção redobrou. Nos logradouros do Bairro Sion a conversação se repetia: neste fim de semana, você acredita que nem pude sentar na grama, tamanha quantidade de cocô? Ih, acabei de pisar num cocô. Que porcaria!; Oi, você aí, cadê o saquinho pra recolher o cocô?  As pessoas reclamam com razão.  Afinal de contas a quantidade de cocô de cachorro chegou ao limite.
A segunda tarefa  foi em campo: fincar um miniestandarte nos cocôs abandonados. Os quarteirões próximos à residência do grupo serviram de laboratório. Além das mensagens escritas, figurinhas de animais (porco, cachorro, borboleta), frutas (maçã, manga, uva) e flores foram espetadas nas fezes. A linguagem visual é um como recurso significativo. A meninada decidiu também espetar nas fezes palavras sugestivas (poluição, sujeira, violência, bombas, pânico, carinho, respeito, solidariedadade, cooperação, amor). A intenção era atingir de maneiras diferenciadas o pedestre. O que a palavra carinho sugere quando cravada no cocô de cachorro?
A meninada atuou animadamente.  Impressionou, como já era esperado, a quantidade de cocô depositada nos canteiros. Alí permaneciam velhas fezes, duras e ressequidas, há mais de uma semana, merecedoras de um miniestandarte  “Cocô de cachorro não é adubo de planta.” Mais de uma dezena de mensagens passou a “decorar” a rua. Após uma hora, os bilhetes permaneciam no lugar. Até porque ninguém se anima a mexer em titica a não ser por uma boa causa.
O comportamento das pessoas passou a ser observado. Algumas viam, outras não. Algumas liam e riam. Um pedestre guardou um bilhete na bolsa. No final do dia, as mensagens continuavam fincadas e por vários dias lá ficaram.
O trabalho continuou pelo bairro, em outras ruas. Mensagens novas iam sendo escritas e afixadas próximas ao cocô.  Manter a peridiocidade e o bom humor era a lição. Infelizmente, alguns donos de animais mantiveram a atitude. Outros, passaram a recolher as fezes dos cães. O bom resultado dessa ação de saúde pública urbana é observar os donos de cães transitarem com seus cachorros levando saquinhos plásticos na mão.


Cachorrinho vai fazer cocô? Leve um saco plástico para recolher as fezes


Imagine se nós humanos resolvessemos fazer cocô na rua?
Ai que fedor! Ai que horror!


Ninguém gosta de cocô de cachorro na porta de casa.
Recolha as fezes do seu cachorro


Pior coisa é sapato sujo de cocô de cachorro. Ninguém gosta. Recolha as fezes do seu cão


Menina feliz tem cachorro educado e recolhe o cocô


A força de um miniestandarte espetado no cocô de cachorro.
De um cocô abandonado
no canteiro, o alerta para os pedestres.


 


 


 


Cachorrada dá filhotinhos…


O projeto  Cachorrada teve  uma surpresa, quando o jornal Pampulha, de distribuição gratuita em BH, trouxe  na edição de 30 de outubro uma matéria sobre as campanhas improvisadas que tentam chamar a atenção dos donos de animais. Educando com humor, da jornalista Juliana Gouthier, reproduziu um dos miniestandartes. Dias depois,  num site de animação outro miniestandarte  é divulgado. Neste ano, a Escola Cia Infantil, localizada no bairro Sion, realizou uma campanha espontânea no passeio público.  As crianças do  maternal desenharam e ditaram os dizeres dos cartazes.


Pessoal da rua: não deixe seu cachorro fazer cocô no chão, porque a nossa rua tá cheirando mal


Cada cartaz foi amarrado num pau de vassoura e fincado numa  garrafa PET cheia de pedrinhas para servir de apoio. Desta forma, a criançada deixou seu recado, chamando a atenção dos pedestres e moradores da região. Sem dúvida, um aprendizado educativo. E assim, de porta em porta, Cachorrada vai dando “filhotinhos”…
A estimativa de cães só em Belo Horizonte é da ordem de 300 mil. Imagine  a população brasileira deixando as fezes dos cães abandonadas nos logradouros públicos. Para saber a quantidade de cocô de cachorro nos 365 dias do ano, basta um cálculo aritmético.  É muita merda!
* Mônica Meyer é bióloga, professora  da UFMG.



Este trabalho contou com a colaboração de Mabe Bethônico (Artista Plástica, Professora da Escola de Belas Artes da UFMG), Cristina Filgueiras Almeida Cunha (Socióloga da PUC-Minas) e com a participação das crianças Luísa, Vitor, Lara, Thomás e Clarice.


 


Para conhecimento:
Lei 8616, artigo 33, regulamenta a obrigatoriedade do dono do animal recolher os dejetos deixados nos espaços públicos. Para quem infringir, o valor da multa é de R$100. Independentemente da lei e da dificuldade de sua aplicação, é necessário que os donos dos cães adotem uma postura de respeito com a cidade e o cidadão.