Coluna do Meio

Thiago de Mello e a seca no Amazonas

25 de novembro de 2005

— Antes, fora da época de chuvas, a água do rio descia e eu tinha mil metros de praia. Agora eu tenho mil metros de praia e 500 de lama.— Isso eu vi pela primeira vez: nas beiradas dos rios, o boi desceu para beber água e morreu atolado na lama.— Nos últimos tempos, eu… Ver artigo

— Antes, fora da época de chuvas, a água do rio descia e eu tinha mil metros de praia. Agora eu tenho mil metros de praia e 500 de lama.
— Isso eu vi pela primeira vez: nas beiradas dos rios, o boi desceu para beber água e morreu atolado na lama.
— Nos últimos tempos, eu tenho notado: diminuiu a friagem e o vento da mata…
 E aí o poeta Thiago de Mello, 79 anos, que desde 1976 voltou a morar na sua cidade natal, Barreirinhas, no Amazonas, deixa uma pergunta no ar:
— A grande seca no Amazonas foi culpa do homem ou castigo do Jurupari?
 Que Jurupari, o grande deus da floresta, ilumine a cabeça dos homens e proteja a floresta e os rios da Amazônia. Amém!


Risco na água


 O sucesso das Barraginhas, a credibilidade da Embrapa e o desempenho técnico do pesquisador Luciano Cordoval têm incomodado muita gente do setor público federal que até hoje só soube fazer discurso.
 A frase foi ouvida numa reunião de empresários do setor do agronegócio, em Belo Horizonte. Para muitos deles, os discursos vazios do pessoal da Secretaria de Recursos Hídricos do MMA são verdadeiros riscos n?água.
 Enquanto João Bosco Senra vive nas nuvens discutindo água, Cordoval e Cia. vivem na terra tirando água das nuvens para suas barraginhas ecológicas construídas no pobre Vale do rio Jequitinhonha e outros por esse Brasil a fora.


“A sustentabilidade não pode ser privilégio de países ricos, mas sim uma conquista daqueles que consolidarem regimes democráticos, nos quais a sociedade tem maior poder de cobrança”.
Gro H. Brundtland a primeira a falar sobre desenvolvimento sustentado.


Cerrado num outro ritmo


 A cientista Heloisa Miranda, da UnB, falou durante a 2a. Conferência Regional sobre Mudanças Globais, em São Paulo, e garantiu que o Cerrado é uma esponja natural de carbono. Para isso basta que o homem não mude o ritmo do bioma.
 Segundo Heloisa Miranda, o Cerrado está acostumado às queimadas naturais e se recompõe rapidamente, emitindo pouco carbono na atmosfera durante a queima e absorvendo bastante em sua recomposição.
 Mas, com a ação humana e o uso constante do fogo, ele precisaria de quatro a cinco anos para recuperar o que foi perdido.
 Resumindo: o Cerrado perde o ritmo e corre cada vez mais perigo. E o clima também!


Repiquete


 SEM REPIQUETE, era a manchete dos jornais de Manaus durante o período mais crítico da seca nos rios e igarapés da Amazônia.
 Os jornais e rádios queriam acalmar os ribeirinhos de que o fenômeno repiquete não ia acontecer este ano.
 Mas o que é repiquete? É justamente um alarme falso da natureza descrito pelos ribeirinhos: no fim da vazante, os rios sobem, tornam a descer e só então continuam a subir até atingir a cheia.
 Ainda bem que, sem repiquete, os rios foram subindo… subindo… sem alarme falso.
 Rios e igarapés cheios, com água transbordando, ribeirinhos felizes.


Sem consenso sobre APP


 E o Conama, pela terceira vez, não concluiu a votação sobre os casos em que deverá ser permitida a supressão de vegetação em APP – Área de Preservação Permanente.
 Na reunião do dia 8 e 9 de novembro, o Conama apenas iniciou a votação de emendas. Foram aprovadas apenas sete emendas e não se chegou ao consenso com as outras 74.
 APP é a faixa mínima de vegetação necessária à proteção dos recursos hídricos, da biodiversidade e do solo. Ela é delimitada às margens dos cursos d?água, onde ocorre a mata ciliar, ou no topo de morros, em dunas, encostas, manguezais, restingas e veredas.
 O secretário de Biodiversidade e Florestas do MMA, João Paulo Capobianco, foi curto e grosso: “Não vamos aceitar, em hipótese alguma, que sejam realizadas outros tipos de atividades econômicas, industriais ou agrícolas em mangues, restingas ou dunas”.
 Ainda bem!