Editorial

Caro Leitor

20 de março de 2006

Descobridores do BrasilSempre gosto de dizer que o Brasil foi descoberto muitas vezes. Pelos aventureiros das Entradas e Bandeirantes,  por Auguste de Saint-Hilaire, por Peter Lund, por Jean-Baptiste Debret, pelo Marechal Rodon, pelos Irmãos Villas Boas, por Henrique Halfeld, por Arne Sucksdorff, por tantos outros e, até, por Pedro Álvares Cabral e seu escriba Pero… Ver artigo

Descobridores do Brasil
Sempre gosto de dizer que o Brasil foi descoberto muitas vezes. Pelos aventureiros das Entradas e Bandeirantes,  por Auguste de Saint-Hilaire, por Peter Lund, por Jean-Baptiste Debret, pelo Marechal Rodon, pelos Irmãos Villas Boas, por Henrique Halfeld, por Arne Sucksdorff, por tantos outros e, até, por Pedro Álvares Cabral e seu escriba Pero Vaz de Caminha. Mas, ninguém “descobriu” mais o Brasil do que botânico Carl Friedrich von Martius [1794-1868]  e seu companheiro de aventura, o zoólogo Johan Baptist von Spix [1782 – 1826]. Não é à toa que a viagem exploratória e a obra de von Martius – Flora Brasiliensis – tiveram o financiamento de três países: Bavária, pelo Rei Ludovico I; Áustria, pelo Imperador Ferdinando I; e o Brasil, por D. Pedro II. É uma obra magistral. Para concluí-la, houve a necessidade  de se montar uma equipe de 65 cientistas, coordenada por August Wilhelm Gichler e Ignaz Urban. Ainda assim, a obra levou uns 90 anos para ficar pronta. E olha que von Martius esteve no Brasil aos 26 anos e morreu em 1868, aos 74 anos. Essa expedição científica – que no fundo era o sonho de 10 entre 10 botânicos do mundo inteiro – acabou por ocupar o resto da vida dele e de Spix.
No Brasil de hoje existem poucos volumes disponíveis completos. Além da Biblioteca Nacional, há notícias de uma coleção da obra no Museu de História Natural e Jardim Botânico de Belo Horizonte, outra coleção da biblioteca de José Midlin. Daí a importância do trabalho coordenado pela Fapesp em  digitalizar toda obra de von Martius. Agora Flora Brasiliensis está disponível, em alta resolução, na internet. Os desenhos poderão ser consultados pelo nome científico de cada espécie, pelo volume ou pelas páginas da obra impressa. (Página 09)
Spix, ao contrário de Martius, viveu pouco. Mas produziu muito. Nos seus 44 anos de vida realizou várias viagens científicas pela Europa, escreveu muitos trabalhos e, com Martius, realizou o sonho da expedição científica à exótica terra brasileira.
Dia 13 de março agora completaram 180 anos de sua morte. Sua lápide tinha a seguinte inscrição: “Aqui estão os restos mortais do mais sagaz, honrado e respeitável dos homens, Dr. Johann Von Spix – Cavaleiro da Ordem do Mérito Civil, membro da Academia Real das Ciências”. Tinha! Infelizmente os Bombardeios durante a Segunda Guerra destruíram tudo. Mas o que nenhuma bomba destruiu foram seus estudos e, sobretudo, sua última mensagem deixada há 200 anos. “É hora de cessar a destruição das florestas brasileiras decorrente de excessivo desmatamento para a construção de casas, a instalação de fábricas de açúcar e a escavação de minas de ouro”.
E olha que, naquela época, ainda nem se falava em barragens, soja, pecuária, biopirataria e comércio ilegal de mognos. Meus amigos, a destruição da floresta vem de longe. E o fim delas está cada vez mais perto.


SUMMARY


Discoverers of Brazil
Dear reader: I always say that Brazil was discovered many times.  By the adventurers called Entradas and Bandeirantes, by Auguste de Saint-Hilaire, by Peter Lund, by Jean-Baptiste Debret, by Marechal Rondon, by Villas Boas, by Henrique Halfeld, by Arne Sucksdorff, by many others and also by Pedro Álvares Cabral and his scribe Pero Vaz de Caminha. But nobody ‘discovered’ Brazil more than the botanist Carl Friedrich von Martius [1794-1868] and his fellow adventurer, the zoologist Johan Baptist von Spix [1782 – 1826].  The exploratory trip and the work of von Martius – Flora Brasiliensis – were financed by three countries: Bavaria, by King Ludovico I; Austria, by Emperor Ferdinand I; and Brazil, by King Don Pedro II.   It is a masterpiece.
A team of 65 scientists, coordinated by August Wilhelm Gichler and Ignaz Urban was necessary to finish it. Nevertheless, it took 90 years for the work to be completed. Von Martius came to Brazil when he was 26 years old and he died in 1868 at age 74. The scientific expedition – which was the dream of all botanists around the world – kept him busy for the rest of his life and Spix’s life too. Today there are only a few complete volumes of his work in Brazil. Besides the one in the National Library, there is a collection of his work in the Natural History Museum and Botanic Gardens of Belo Horizonte and another in José Midlin’s Library. And that is why the digitalization of the entire work of von Martius, coordinated by Fapesp, is so important.  Now, Flora Braziliensis is available in high resolution format on the Internet. It is possible to search the etchings by the scientific name of each species, by the volume, or by the pages of the printed work.
Spix, unlike Martius, died early, at age 44. Nevertheless, his production was enormous. During his life, after several scientific trips around Europe, he wrote many books and with Martius, accomplished every scientist’s dream: the scientific expedition to the exotic Brazilian land. He died on March 13th, 180 years ago. His tombstone had the following inscription: “Here lies the body of the most intelligent, honest and respectable man, Dr. Johann Von Spix – Knight of the Order of Civil Merit, member of the Royal Academy of Sciences”.  His tombstone had this inscription, but it doesn’t anymore! Unfortunately, bombings in the World War II destroyed it. But no bomb destroyed his studies and above all, his last message, left almost 200 years ago.  “It is time to stop the destruction of the Brazilian forests for the construction of houses and factories to produce sugar, and digging for gold.”
 And at that time, we were not talking yet about dams, soybean, cattle breeding, biopiracy and illegal commerce of mahogany. Dear friends, the destruction of the forest if very old. And their end is closer.                        SG