Editorial

Eleição, política e meio ambiente

31 de agosto de 2006

          01. A cada eleição, uma verdade: o grande público está muito longe da política e dos políticos. Como comprovar? Fácil: uns quatro, cinco meses antes de cada eleição, 70% dos eleitores ainda não têm preferência eleitoral. Um mês antes, o índice permanece alto. Os cientistas chamam isso de indiferença. Indiferença?… Ver artigo

 

 

 

 

 

01. A cada eleição, uma verdade: o grande público está muito longe da política e dos políticos. Como comprovar? Fácil: uns quatro, cinco meses antes de cada eleição, 70% dos eleitores ainda não têm preferência eleitoral. Um mês antes, o índice permanece alto. Os cientistas chamam isso de indiferença. Indiferença? Muito mais grave: é  indecisão por puro desinteresse. O voto é obrigatório, mas a maioria dos eleitores vê as eleições como uma árvore de natal: candidato bom é o que tem um presentinho para dar.

 

02. A cada eleição, uma constatação: as massas evoluem lentamente da posição de indiferente… para indecisos… para simpatizantes… e, por fim, para a adesão. Na última semana de campanha, por pressão de amigos, de vizinhos, de parentes, de colegas de trabalho, as decisões se precipitam. As pesquisas mostram decisões  tomadas só nas últimas 24 horas. Tem indecisos até na boca de urna.

 

03. A cada eleição, uma advertência: a prova cabal da indiferença acontece depois das eleições. Antes mesmo da posse dos eleitos, se se fizer uma pesquisa e perguntar o nome de todos os candidatos (majoritários e minoritários) em que se votou, decepção total: poucos haverão de se lembrar. Se a mesma pergunta for feita, então, num final de legislatura, a surpresa será muito maior.

 

04. A cada eleição, um avanço: o voto eletrônico foi um salto. Um salto em megabites. Candidatos e eleitores agora ficam menos tensos com a possibilidade das fraudes eleitorais na apuração. Era terrível aquela contagem de votos jurássica. Um a um. Cadê a  u-r-n-a? Que número é esse? Que letra é essa? Contabiliza ou anula? Informatizar também significou racionalizar, organizar e democratizar.

 

05. A cada eleição, uma decepção: virou político, a confiança se vai… e as desilusões chegam… O agressivo marketing eleitoral, que faz do candidato um produto, é um dos motivos. Vota-se por causa da propaganda, da autopromoção e da manipulação. O voto consciente e cristalizado é mínimo. O voto sujeito a manobras é imenso.  Daí que a força, a coragem e a cara de pau dos maus candidatos – que prometem de tudo – inibe os candidatos sensatos e responsáveis que prometem pouco.

 

06. A cada eleição, um mistério: grande parte dos políticos gasta muito mais numa campanha eleitoral do que vai receber durante todo o seu tempo de mandato. Aliás, ficou claro nas últimas CPIs: prestação de contas de político é ficção contábil.

 

07. A cada eleição, muitos interesses: ninguém elege um deputado, governador ou presidente para grêmio recreativo. O eleito vai fazer leis, vai elaborar orçamentos, vai tomar decisões, vai administrar conflitos, vai nomear, demitir, gastar, construir… enfim, entrar num forte jogo de interesse. E a grande massa de eleitores não tem a mínima condição de identificar o fantástico jogo de interesses por trás de cada candidato ou de cada grupo político. Político costuma fazer discursos diferentes para agradar a todos: banqueiros, igrejas, ricos, pobres, camelôs, industriais…  Por quê? Simplesmente porque o Estado brasileiro continua sendo um excepcional provedor de privilégios.

 

08. A cada eleição, um novo governo e um aprendizado: como equacionar o problema de transporte de massas, como resolver o desafio da energia, como ampliar a oferta de emprego, como solucionar a grave questão do saneamento, do tratamento do lixo, da educação, da violência, da saúde, e do bem estar social sem levar em conta o meio ambiente? Como administrar sem construir uma relação de equilíbrio entre o ser humano e a natureza? Como governar sem promover uma gestão sustentada dos recursos naturais?

 

09. Amigo eleitor: meio ambiente é o que vale. Depois de prosperarem por 180 milhões de anos, os dinossauros foram extintos. O ser humano não pode mais projetar, com ações irresponsáveis, os meios de sua própria destruição. Não há nenhuma causa mais urgente, nenhuma tarefa mais essencial e nenhuma hipótese econômica mais razoável do que a construção do futuro e a preservação do ambiente e da espécie.

 

10. Por fim, a cada eleição uma lição: todo eleitor deve e pode confiar nas promessas dos candidatos. Mas, como se diz por aí, nunca deixe de marcar a "carta do baralho", para poder acompanhar o trabalho dos eleitos e cobrar ações eficientes e oportunas. Denunciando, se for o caso. A cobrança e a vigilância em cima dos eleitos têm que ser implacável e permanente! Eles foram eleitos para cuidar do bem público e não da vida deles.