Missão Cerrado

20 anos de mãos dadas com parceiros, patrocinadores e voluntários

25 de agosto de 2006

Fotos: Sebastião Pedra Na festividade que comemorou os 20 anos: o jornalista Jaime Sautchuk, Mary Daise Kinzo, Marcus Barros (presidente do Ibama), o 1º vice-presidente da Funatura, Cleber Rodrigues Alho, Henrique Brandão Cavalcanti, o 2º vice Estanislau Oliveira, Christoph Hrdina, Carlos Alberto Xavier e, agradecendo o Prêmio Funatura 20 anos, Cesar Victor Espírito Santo  Ladeado… Ver artigo


Fotos: Sebastião Pedra


Na festividade que comemorou os 20 anos: o jornalista Jaime Sautchuk, Mary Daise Kinzo, Marcus Barros (presidente do Ibama), o 1º vice-presidente da Funatura, Cleber Rodrigues Alho, Henrique Brandão Cavalcanti, o 2º vice Estanislau Oliveira, Christoph Hrdina, Carlos Alberto Xavier e, agradecendo o Prêmio Funatura 20 anos, Cesar Victor Espírito Santo 


Ladeado pelo presidente do Conselho Curador, Luiz Van Beethoven, os conselheiros Fernando Thomé Andrade (à esquerda) e João Carlos de Souza Carvalho (à direita). Todos os três são fundadores da Funatura e até hoje participam ativamente dos trabalhos da entidade 


Missão Cerrado – esse é o  lema principal que norteia os trabalhos da Funatura, desde o seu nascimento. Na defesa do meio ambiente , principalmente no que diz respeito à conservação da biodiversidade e à melhoria da qualidade de vida da sua população, está embutido o esforço de contribuir para o uso sustentável dos recursos naturais, em especial nos biomas Cerrado e Pantanal.
Dentre os mais importantes projetos desenvolvidos pela Funatura, de caráter participativo e relacionados à conservação da biodiversidade, destacam-se o Projeto de Implementação do Parque Nacional Grande Sertão Veredas (em co-gestão com o Ibama), incluindo o projeto de desenvolvimento sustentável do seu entorno; o Projeto de Implementação de RPPNs no Cerrado; o Projeto Alternativas de Desenvolvimento do Cerrado; e o projeto de ações prioritárias para a conservação da biodiversidade do Cerrado e Pantanal (em parceria com o MMA, CI, Biodiversitas e UnB).


Saiba mais sobre as atividades da Funatura


São 20 anos de trabalho, mais de 120 projetos desenvolvidos nos principais biomas brasileiros. O ano de 2006, para a história da Funatura, significa o resultado de uma trajetória de atuação e resultados em benefício da conservação da biodiversidade. As dificuldades não foram poucas, mas é com orgulho que a equipe de pesquisadores e técnicos que ajudaram nesse trabalho de tantos anos têm muito o que contabilizar.
 Entre os projetos que mais repercutiram e que ainda rendem novos frutos, estão o do Grande Serão Veredas, que desde 1987 – quando a Funatura começou a estudar áreas na região dos Gerais – até hoje se multiplica. Mais de 18 anos depois, o Parque Nacional que a fundação tanto se empenhou em criar foi finalmente ampliado e disso a Funatura também orgulha de ter participado.
 Difícil enumerar todos os trabalhos mais importantes, como o Programa de Santuários da Vida Silvestre, além de pesquisas sobre mogno na Amazônia brasileira, o diagnóstico e avaliação do setor florestal brasileiro, produtos florestais não-madeiráveis, biodiversidade entre cerrado e florestas plantadas, e seminários sobre alternativas de desmatamento da Amazônia e dos Cerrados. Sem contar os trabalhos relacionados a unidades de conservação, mais recentemente a de criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), outro dos mais significativos projetos aos quais atualmente a equipe da Funatura se empenha com profunda dedicação.
 A Funatura, ao longo do tempo, também esteve envolvida em movimentos de ONGs, com significativa atuação em conferências, seminários, grupos de trabalho e conselhos da Reserva da Biosfera, Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional de Meio Ambiente, Conabio, Conacer, Conam-DF, entre outros.


Glossário


O que é uma organização não governamental –  ONG?
Como acontece com muitas outras expressões contemporâneas, essa também nasceu nos Estados Unidos. Os norte-americanos começaram a dar nome a todas associações e entidades não governamentais públicas, sem fins lucrativos, ou seja, desvinculadas da administração pública como NGO – non governamental organization. Assim, ONGs são associações do terceiro setor, da sociedade civil, que administram, mobilizam e desenvolvem ações de apoio à população, à causas especiais e, sobretudo, ao meio ambiente.


O que é uma OSCIP?
É uma Organização Social Civil de Interesse Público formada por pessoas jurídicas de direito privado, também sem fins lucrativos. A Oscip, criada em março de 1999 pela Lei 9.790, é uma evolução das ONGs e tem uma atuação mais abrangente abrangendo áreas diversas como cultura, saúde, segurança alimentar e nutricional, promoção do desenvolvimento sustentado, experimentação de novos modelos socioprodutivos, desenvolvimento de tecnologias etc.


O que é Terceiro Setor?
Também é um termo sociológico que vem do inglês: Third Sector. Terceiro Setor, na verdade, é um termo mais abrangente para as ONGs e Oscips e define, justamente, as mais variadas organizações sem vínculo com o Primeiro Setor, que é o Estado, e o Segundo Setor, que é o Mercado.


Viva o cerrado Vivo


Cesar Victor do Espírito Santo, Superintendente da Funatura
Duas décadas de trabalho não é pouco. Ainda mais tratando-se de uma ONG, sem fins lucrativos e que trabalha em prol da natureza, setor em que os recursos disponíveis são sempre limitados. No entanto, a Funatura pode se orgulhar de possuir um capital humano que não mede esforços para alcançar os seus objetivos. Conta com o trabalho voluntário de abnegados conselheiros e outros colaboradores, e mesmo de seu quadro de funcionários cujas atividades, em diversas ocasiões, supera em muito as expectativas inicialmente colocadas.


Há 20 anos, o Cerrado era – como diziam – terra de fazer longe… O bioma era visto apenas como uma grande área de expansão da fronteira agrícola. Suas riquezas em termos biodiversidade, de recursos hídricos e de diversidade sociocultural eram solenemente ignoradas. Neste contexto, a Funatura atuou na vanguarda em prol da conservação do bioma.
No início, a Funatura desenvolveu estudos na região dos gerais no sentido de criar unidades de conservação de proteção integral, tendo em vista o crescente processo de expansão dos monocultivos de soja e de produção de carvão a partir do Cerrado nativo. Após dois anos de estudos, foi proposta a criação do Parque Nacional Grande Sertão Veredas, nos municípios mineiros de Chapada Gaúcha, Formoso e Arinos.
A Funatura propôs, ainda, a criação de vários santuários de vida silvestre em áreas privadas ou públicas do Cerrado. Assim foi criado o Santuário Vagafogo, em Pirenópolis-GO e o Santuário do Riacho Fundo, no DF.  Também, foram desenvolvidos vários projetos de pesquisa, em parceria com pesquisadores da UnB, sempre no intuito de dar maior consistência científica às suas proposições. Outros projetos vieram: entre eles o primeiro e único projeto de conversão da dívida externa brasileira com fins ambientais, que visou o desenvolvimento de ações relacionadas à implementação do Parque Nacional Grande Sertão Veredas. Também, foram criadas várias reservas particulares do patrimônio natural (RPPNs) no Cerrado, por entender que o esforço de conservação da natureza não deve ser uma atividade inerente apenas ao Estado, mas também, à iniciativa privada.
Com a rápida expansão da fronteira agrícola, acarretando uma destruição de quase 2/3 do Cerrado nas últimas quatro décadas,  ficou patente a necessidade de ações integradas entre as entidades que atuam na área. Tudo para interferir de maneira positiva na definição de políticas públicas. Desta forma, a Funatura começou a atuar mais intensivamente em redes, fóruns e colegiados, sempre no intuito promover políticas públicas mais coerentes com o desenvolvimento sustentável do Cerrado. Assim, a Funatura executou com apoio do MMA e em parceria com outras instituições, o projeto “Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade do Cerrado e Pantanal”, que em 2004 foram reconhecidas através de um decreto presidencial. Em conjunto com a Rede Cerrado e o MMA, atuou para que a Proposta de Emenda à Constituição que reconhece o Cerrado e a Caatinga como patrimônio nacional seja aprovado.  Trabalhou na ampliação do Parque Grande Sertão e na  elaboração do programa Cerrado sustentável.
É importante destacar: em campo, o trabalho da Funatura envolve não só a conservação da biodiversidade, mas também o trabalho junto às comunidades locais e tradicionais. A conservação do Cerrado passa pela valorização da cultura do seu povo e pelo aproveitamento sustentável de seus produtos. Há que se valorizar mais o Cerrado em pé. Nesse sentido, a Funatura tem promovido parcerias com prefeituras e outras entidades. Os Encontros dos Povos do Grande Sertão Veredas e da Chapada dos Veadeiros visam valorizar as culturas tradicionais dos povos do Cerrado, bem como, proporcionar um ambiente de debate para boa definição de políticas públicas.
 A Funatura considera de extrema importância que o sistema nacional de UCs seja aplicado em sua totalidade, ou seja, um “mix” de unidades de conservação de proteção integral, principalmente parques nacionais e estaduais,  com unidades de uso sustentável, em especial, com as reservas extrativistas e as reservas de desenvolvimento sustentável. Tudo isso entremeados por zonas de amortecimento e corredores ecológicos, que precisam ser mantidos em pé para que a conservação da biodiversidade e outros elementos da natureza se dêem de forma ampla. É importante considerar o envolvimento das comunidades indígenas e de quilombolas, que possuem forte ralação com o Cerrado em seus territórios, muitos deles ainda em bom estado de conservação e que merecem ser objeto de políticas que visem a preservação de suas tradições culturais e de seus territórios.


Cronologia dos fatos


1986 – Um grupo de ambientalistas sob a liderança de Maria Tereza Jorge Pádua fundam, em Brasília, a Fundação Pró-Natureza, ou Funatura.


1987 – Elaboração do primeiro plano de manejo de uma reserva particular (Praia do Forte).


1987 – Tem início os estudos do projeto que mais repercute e mais frutos traz à Funatura: a administração do Parque Grande Sertão Veredas.


1988 – Elaboração do ante-projeto de lei do SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação), lei 9.985 de 18/07/2000. Criado, por proposta da Funatura, a ARIE Santuário de Vida Silvestre do Riacho Fundo, no DF.


1989 – Criado o Parque Nacional Grande Sertão Veredas após estudos e proposta feitos pela Funatura. Também a Funatura elabora o Plano de Manejo do Parque Nacional Marinho de Abrolhos. Realização, em Brasília, do I Simpósio ?Alternativas de Desenvolvimento dos Cerrados: manejo e conservação dos recursos naturais renováveis?.


1990 – A Funatura elabora o Plano de Manejo do Parque Nacional Marinho Fernando de Noronha.


1991 – A Funatura promove o I Curso de Condutores de Visitantes Ecoturísticos da Chapada dos Veadeiros, momento em que os treinandos criaram a Associação de Condutores de Visitantes da Chapada dos Veadeiros.


1992 – É reconhecida a RPPN Vagafogo, em Pirinópolis. A Funatura é pioneira na implantação de Santuários de Vida Silvestre e RPPNs. Nesse ano acontece também a visita do Príncipe Philip, da Inglaterra, à Vagafogo.


1993 – Foi feita a primeira captação de recursos provenientes da conversão da dívida externa, com a colaboração da The Nature Conservancy – TNC.


1994 – A Funatura é eleita para representar as ONGs do Centro-Oeste no Conama. Também nesse ano foi desenvolvido estudos sobre o Mogno, Produtos Não Madeireiros e Diagnóstico do Setor Florestal Brasileiro, com apoio da ITTO.


1995 – Implementação do SVS do Riacho Fundo, com apoio do PNMA.
1996 – Teve início o Projeto de Saúde junto às comunidades do Grande Sertão Veredas.


1997 – Início das discussões sobre a regularização fundiária do Parque Nacional Grande Sertão Veredas nos assuntos relativos às comunidades que viviam no Parque.


1998 – Realização do WorkShop  de ações prioritárias para a conservação da biodiversidade do Cerrado e Pantanal, em parceria com o MMA, CI, Biodiversitas e UnB.


1999 – Reconhecimento, pelo Ibama, de quatro RPPNs no Cerrrado propostas pela Funatura.


2000 – Subsídios à elaboração da Agenda 21 Brasileira – Gestão de Recursos Naturais.


2001 – Realização do I Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas e do I Encontro dos Povos da Chapada dos Veadeiros, eventos que já se encontram na sua quinta edição e que estão valorizando o Cerrado e a cultura dos seus povos nestas regiões.
2002 – Começa a implementação da primeira etapa do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Entorno e do Plano de Manejo do Parque Grande Sertão Veredas.


2003 – Implementação, pelo Incra e com apoio da Funatura, do Projeto de Assentamento São Francisco, formado por membros das comunidades do Grande Sertão Veredas.


2004 – Decretada a ampliação do Parque Nacional Grande Sertão Veredas, processo coordenado pela Funatura e que teve amplo apoio da sociedade civil.


2005 – Reconhecimento de mais cinco RPPNs no Cerrado, entornos dos Parques Nacionais da Chapada dos Veadeiros e do Grande Sertão Veredas.


2006 – Início do Projeto Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu. Aprovação, na Comissão Especial do Cerrado, da Câmara dos Deputados, da Proposta de Emenda Constitucional que reconhece os biomas Cerrado e Caatinga como patrimônios nacionais. A medida teve forte apoio da Rede Cerrado e da Funatura.


Maria Tereza Jorge Pádua – ENTREVISTA


Maria, teu nome é Natureza
A Funatura nasceu com uma missão urgente, urgentíssima: defender o bioma Cerrado


Maria Tereza Jorge de Pádua, ou melhor: Maria Natureza


Silvestre Gorgulho, de Brasília
Maria Natureza. Ela é, verdadeiramente, a primeira mulher brasileira a atuar em quase todas as frentes, estudar, pesquisar, lutar, gerenciar projetos complexos e a entrar de cabeça nas questões ambientais. Maria Tereza Jorge de Pádua é parte da história do meio ambiente no Brasil. Por onde passou, deixou marca. Desde os bancos escolares, quando se formou em Agronomia e depois no Mestrado de Ecologia e de Manejo da Vida Silvestre, essa paulista de São José do Rio Pardo vive a questão ambiental com toda intensidade. Profissionalmente, começou no departamento de meio ambiente da Companhia de Energia de São Paulo. A partir de 1968 ocupou cargos no antigo IBDF, como chefe da seção de parques nacionais e diretora do departamento de áreas protegidas. Em 1981, deixou o IBDF como protesto, porque o governo do presidente João Figueiredo autorizou a construção de uma estrada cortando o Parque Nacional do Araguaia. Voltou a trabalhar em São Paulo, mas em 1985, com a eleição de Tancredo Neves, voltou ao IBDF, onde foi Secretária-Geral. Antes de assumir o Ibama, em 1992, órgão que incorporou em 1989 o IBDF, a Sudhevea (Superintendêcia da Borracha) a Sudepe (Superintendência da Pesca) e a Sema (Secretaria do Meio Ambiente), Maria Tereza resolveu mais uma vez inovar: com vários companheiros ambientalistas criou uma ONG. Sim uma entidade que podia comprar brigas políticas, mas ao mesmo tempo podia também somar com o governo na missão de proteger o patrimônio natural brasileiro. Assim nasceu a Funatura, por ordem cronológica, a segunda ONG conservacionista de peso do País. A primeira foi a  FBCN, criada por Luiz Simões Lopes na Era Vargas, no Rio de Janeiro. A Funatura veio com uma missão específica: defender o bioma mais agredido e dilapidado da Terra Brasilis: o Cerrado. É sobre os 20 anos da Funatura e os 40 de luta pela causa ambiental que vamos conversar com a Maria Natureza Jorge de Pádua.


Folha do Meio – Desde a CESP, onde a senhora dirigia o departamento de Meio Ambiente, passando pelo IBDF e alguns órgãos internacionais, lá se vão mais de 40 anos. Nesse tempo, houve uma profunda mudança na gestão e na conscientização ambiental. A seu ver, quais foram as principais mudanças no mundo e no Brasil?
Maria Tereza –  Pois é, 40 anos é tempo… Quando comecei podia contar nos dedos quem trabalhava com o tema no Brasil. É verdade que mudou muito, principalmente em relação à conscientização ambiental. O assunto está na mídia diariamente. Isto porque a população começou a sentir os efeitos da poluição do ar e da água nas suas vidas, devido a desastres ecológicos, lixo e emissão de poluentes e porque os recursos naturais começaram a minguar. Mudou a tal ponto que ninguém mais duvida das mudanças climáticas e de suas sérias repercussões no ambiente. As ONGs cresceram significativamente, tanto em número como em qualidade de trabalho e se iniciou a educação ambiental. O tema tornou-se político e muitos partidos verdes foram criados. A maioria dos países possui Ministério de Meio Ambiente ou órgãos correlatos. Melhoraram as pesquisas e o setor acadêmico, melhoraram os equipamentos  e a tecnologia ambiental.
No entanto a destruição é muito mais célere, justamente por causa do crescimento demográfico e da conseqüente e abusiva demanda de recursos naturais.


FMA – Em 1986 nasceu a Funatura, uma das primeiras ONGs no Brasil. Como e onde nasceu a Funatura?
Maria Tereza – Nasceu porque algo precisava ser feito pelo Cerrado, que começava a ser usado para a produção de grãos, sobretudo soja, em larga escala, destruindo tudo que era encontrado de natural pela frente. A destruição do Cerrado demandava uma entidade que demonstrasse sua riqueza de biodiversidade e de recursos hídricos, para evitar que tratassem o bioma como o lixo do país. A missão era lutar para que parte dele pudesse ser conservada para o futuro. Uma ONG podia comprar brigas políticas e somar com o governo na missão de proteger-se o básico. Principalmente as Áreas de Preservação Permanente, que ninguém protegia. A legislação sobre o tema era letra morta.
A Funatura foi a segunda ONG conservacionista por ordem cronológica do país, secundando a FBCN, que estava no Rio e trabalhava mais com Mata Atlântica. Assim a Funatura foi estabelecida para trabalhar no e com o Cerrado. Fomos 69 sócios fundadores e você, Silvestre, foi um deles.


FMA – E como começou?
Maria Tereza – Começamos a bolar a Funatura, no escritório da CESP em Brasília, empresa que naquela época nos emprestou uma sala para a preparação da criação da entidade. Logo depois Christopher Hurdina nos deu para uso uma sala de 80 metros quadrados na sua empresa, com telefone e tudo. Muitos doaram recursos para o fundo necessário, entre eles Paulo Nogueira Neto, José Goldemberg, Thomas Lovejoy, Russel Mittermeier, Roberto Klabin, Roberto Marinho, Rodrigo Mesquita, João Carlos Carvalho, Luiz van Beethoven, Benício de Abreu, algumas empresas e nós mesmos, os sócios fundadores.
Começamos com dois grandes projetos: estabelecimento de RPPNs, que na época chamávamos de Santuários de Vida Silvestre e com o estudo das Gerais, que culminou com a criação do Parque Nacional do Grande Sertão Veredas. Os recursos iniciais destes projetos foram doados pelo IBDF, SEMA e WWF.
Com o desenvolvimento destes projetos, outros foram sendo executados com outras doações. Hoje, a Funatura tem sua história de feitos para contar sobre a  proteção do Cerrado…


Henrique Brandão Cavalcanti – ENTREVISTA


Meio ambiente: a gestão governamental começou com ele
Se o assunto é ambiente, Brandão Cavalcanti esteve no início, no meio e agora


Henrique Brandão Cavalcanti: pioneiro na gestão ambiental


 


 


Folha do Meio – O senhor já ocupou várias posições de governo, inclusive a de Ministro do Meio Ambiente. Gostaria de ter uma avaliação: o que é trabalhar no governo e o que é trabalhar numa ONG?
Henrique Brandão Cavalcanti – Ambas as situações podem ensejar oportunidades interessantes de trabalho e de realização pessoal, especialmente se o objetivo último é servir ao país e à sua população. O ideal é que governo e sociedade encontrem formas de atuar em parceria, respeitando-se reciprocamente, e buscando cumprir objetivos comuns. Nesse sentido, todas as experiências que tive e tenho são válidas e se complementam.
FMA – O que é conversão da dívida externa em projetos ambientais?
HBC – Trata-se de uma operação que depende de três fatores: a eventual conveniência do governo brasileiro no ingresso de divisas vinculado a uma destinação específica, o  interesse de doadores de países que oferecem benefícios fiscais para determinadas aplicações, em adquirir títulos da dívida brasileira por um valor atraente, e colocá-lo à disposição de uma entidade civil do país beneficiado, e  a existência de um projeto ambiental ou socioambiental relevante nesse país a cargo da referida entidade.


FMA – Por que esse é um processo tão difícil para se realizar?
HBC – As três condições mencionadas, além de outros aspectos, certamente precisam existir para que a operação se efetive. Na época em que os títulos da dívida eram negociados com apreciável deságio, havia uma vantagem significativa para o doador. Essa situação se modificou na medida em que se conseguiu reduzir o chamado risco Brasil. 


FMA – Qual a importância do projeto de conversão da dívida externa para a Funatura?
HBC – Esses recursos oriundos da conversão são depositados no Banco Central por um determinado período, em nosso caso até 2013. Eles geram para a Funatura uma remuneração relativamente modesta, e sujeita a variações cambiais, porém  recebida mensalmente com regularidade..


FMA – E para o Parque Nacional Grande Sertão Veredas?
HBC – Os recursos da conversão destinam-se basicamente à implantação do Parque e ensejaram uma parceria histórica da Funatura com o Ibama.
Até hoje, nesses 20 anos de existência da entidade, e dos 120 projetos realizados nesse período, o Parque é  o seu principal projeto de proteção ambiental, localizado no Cerrado do Noroeste de Minas e do Sudoeste da Bahia. Cobre uma área equivalente à metade da superfície do Distrito Federal.


FMA  – Por que outras ONGs também não conseguiram promover a conversão da dívida em projetos socioambientais?
HBC – Acho que apenas por uma questão de oportunidade.
FMA – O Ministério Público tem feito acompanhamento sério e permanente junto às fundações e ONGs?
HBC – Pelo Código Civil, cabe ao Ministério Público velar pelas Fundações. No caso da Funatura, ele exerce de forma cuidadosa essa atribuição, analisando os programas de trabalhos e as contas da instituição, e sua conformidade com os procedimentos por ele estabelecidos, contribuindo com sugestões e comentários sempre que necessário. 


FMA – Qual a importância deste acompanhamento?
HBC – Simples, eu penso que uma entidade sem fins lucrativos, especialmente aquelas declaradas de utilidade pública, amparadas de alguma forma por isenções ou exonerações, precisa ser transparente. E transparente em todos os seus aspectos e atividades.


Prêmios para comemorar os 20 anos da Funatura
No dia 14 de agosto, a Funatura reuniu fundadores, conselheiros, funcionários e representantes de ONGs e autoridades do governo para comemorar os seus 20 anos. Além da mensagem do diretor-presidente, Henrique Brandão Cavalcanti, houve a entrega de cinco prêmios.


Agraciados com o Título de Membro Honorário da Funatura


CHRISTOPH HRDINA
Christoph Hrdina é um empresário pioneiro na área de ecoturismo e também um dos fundadores da
Funatura. Alemão de nascimento e brasileiro de coração, Christoph foi o anjo da guarda que acolheu,
durante os primeiros dois anos, em seus imóveis, a ONG recém criada.
Ao lado de Henrique B. Cavalcanti e do 2o vice-presidente da entidade, Estanislau M. de Oliveira, Christoph Hrdina recebeu seu Título de
Membro Honorário da Funatura.



Carlos Alberto Xavier, à esquerda, um dos premiados, aplaudindo Cesar Victor que ao de receber sua premiação.


CARLOS ALBERTO RIBEIRO DE XAVIER
Presidente do Conselho Fiscal da Funatura, Xavier é um ambientalista histórico. Economista, ecólogo, pioneiro da Educação Ambiental no Brasil ao introduzi-la no Jardim Botânico do Rio de Janeiro.  É profundamente ligado à História e ao patrimônio histórico, à natureza e ao meio antrópico. Seu currículo sempre o situa em altos cargos nos ministérios do Meio Ambiente, da Cultura e da Educação.


CESAR VICTOR DO ESPÍRITO SANTO
Atual Superintendente da Funatura, Cesar Victor é engenheiro florestal formado pela UnB e uma referência na entidade onde, há 15 anos, empresta seu conhecimento e energia nas áreas técnica e administrativa. Cesar Victor faz, também, um trabalho de representação da Funatura nos altos conselhos que participa. Foi atuante na Câmara dos Deputados para fazer do Cerrado e da Caatinga biomas de patrimônio nacional.


Agraciados com o Prêmio Funatura 20 anos


GUALDINO RODRIGUES
DOS SANTOS
Gualdino nasceu em Formoso-MG e desde 1990 está na Funatura, dedicando sua vida à preservação da biodiversidade da região. É o primeiro guarda-parque da unidade e símbolo maior da defesa do Parque Grande Sertão Veredas.


LÚCELENA
JESUS DA SILVA
Auxiliar de enfermagem, Lucelena coordenou o projeto de saúde, nutrição e meio ambiente implantado o Parque Sertão Veredas. Esse projeto durou quatro anos e atuou nos setores de saneamento e qualidade de vida das comunidades, atendendo 90 famílias. Foi fundamental para conseguir a cura de um grupo de portadores de hanseníase.