Águas minerais: água ou minério

26 de abril de 2007

Gabriel Junqueira: “Infelizmente não existe mais água potável de mesa, são todas artificiais, mas classificadas como águas minerais.”     Com relação às águas minerais, sempre há divergências entre a indústria das águas minerais e ONGs do sul de Minas. A Copasa – Companhia de Saneamento do Estado SA se comprometeu com a proteção ambiental… Ver artigo

Gabriel Junqueira: “Infelizmente não existe mais água potável de mesa, são todas artificiais, mas classificadas como águas minerais.”


 


 


Com relação às águas minerais, sempre há divergências entre a indústria das águas minerais e ONGs do sul de Minas. A Copasa – Companhia de Saneamento do Estado SA se comprometeu com a proteção ambiental do recurso ao explorar os parques das águas da região.
Segundo Marília Noronha, da ONG Nova Cambuquira, a compa-nhia caminha para a privatização, com a venda de 30% das ações para o capital estrangeiro. Sendo assim, como ficarão nossas águas minerais? – pergunta Marília Noronha.
A questão é grave: no caso das águas de São Lourenço, a multinacional Nestlé superexplora, visando somente o lucro. Para Gabriel Junqueira, geólogo e inspetor da Câmara Técnica de Geologia do CREA, as águas minerais são águas especiais. Tem ação medicamentosa. Segundo o geólogo, hoje não existe mais água potável de mesa, são todas artificiais, porém classificadas como águas minerais. E as águas minerais, por incrível que pareça, não são consideradas águas – ou recursos hídricos –  e sim minérios, portanto estão diretamente subjugadas ao Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM. “Cabe aí, urgente, uma revisão”, lembra Gabriel Junqueira.
A água, quando em profundidade adequada, está praticamente em equilíbrio total. Ao emergir, ela perde um pouco deste equilíbrio, passa a receber os raios do sol e ganha energia para tentar se equilibrar novamente. Esta água energizada entra no organismo humano, e aí está sua função medicamentosa, com os minerais que adquiriu durante o percurso pelo solo até a superfície.
Baseado neste princípio, surgiu o turismo-saúde nas estâncias hidrominerais, como São Lourenço, Caxambu, Lambari e Cambuquira, dentre outras. Daí a preocupação dessas estâncias com a superexploração de suas águas.
As comunidades locais reclamam que as empresas, como a Nestlé, vão lá superexploram suas águas e deixam migalhas, verdadeiras esmolas para que as autoridades se calem e não faça nenhum movimento para atrapalhar sua “sêde capitalista”.
Para o médico pesquisador e escritor,  Rui Nogueira, a água é um bem essencial à vida e só pode ter gestão comunitária. Ele cita algumas razões para a água não ser privatizada:


Razões para não privatizar as águas



  •    A privatização impede a universalização do atendimento. Em vez de água para todos com preços baixos, seria somente para quem tem dinheiro;

  •  A privatização não traz investimento, traz dívidas. As multinacionais usam o crédito nacional e geram dívidas pelos financiamentos em dólar;

  • No mundo nem 10 % da água é privatizada. Na Europa, somente na França e na Inglaterra;

  • Em todos os locais a população está reagindo à absurda exploração das multinacionais que estão procurando concentrar a comercialização das águas em suas mãos;

  • Na Inglaterra, tentaram impor a mercantilização da água, o hidrômetro com cartão pré-pago;

  • Na África do Sul instalaram torneiras públicas que só funcionavam com hidrômetro pré-pago, ou seja, apenas quem tinha dinheiro conseguia água. A dificuldade de acesso provocou uma epidemia de cólera;

  • Na Bolívia, as Águas Llimani (Suez/Banco Mundial) cobram nove salários mínimos bolivianos para instalar água numa residência (equivale a R$ 3 mil no Brasil);

  • No Brasil, muitas empresas de refrigerantes usam água do serviço público, dizem que purifica, adicionam sais e vendem como se fosse água mineral. Na Inglaterra bombeiam água do rio Tâmisa, engarrafam e vendem como água mineral (Dasani);

  • A reversabilidade é difícil. As multinacionais, com as concessões suspensas, exigem absurdas indenizações para se retirarem, mesmo com enormes evidências de superfaturamento, exclusão dos mais pobres e, até mesmo, comprovada corrupção.