Ponto de Vista

A extinção do bacalhau e outras espécies

20 de julho de 2007

Maurício Andrés Ribeiro é autor de Ecologizar e de Tesouros da Índia para a civilização sustentável     O bacalhau gosta de sua vida e não quer ser extinto e, em sua inteligência para sobrevi-ver, procura adaptar-se às novas condições de seu am-biente. Faz isso, inclusive, por meio de mudanças biológicas: sua maturidade sexual,  que… Ver artigo

Maurício Andrés Ribeiro é autor de Ecologizar e de Tesouros da Índia para a
civilização sustentável


 


 


O bacalhau gosta de sua vida e não quer ser extinto e, em sua inteligência para sobrevi-ver, procura adaptar-se às novas condições de seu am-
biente. Faz isso, inclusive, por meio de mudanças biológicas: sua maturidade sexual,  que antes era alcançada com 10 anos e quando media 1 metro, agora se reduziu para seis anos e 65cm, conforme pesquisa do biólogo  Ulf Dieckmann, do Instituto Internacional de Análises de Sistemas Aplicados (IIASA).
A sobrepesca dizimou os cardumes e fez sobrar mais alimento para menos peixes; os que conseguem se adaptar, crescem mais rapidamente. Essa é uma adaptação evolutiva, para  conseguir perpetuar a espécie, uma vez que os exemplares mais velhos e maiores estão sendo cada vez mais capturados pelas redes de pesca lançada pelos humanos.
A espécie humana, anjo exterminador da biodiversidade, acelerou a velocidade da evolução e está induzindo as demais espécies a se adaptarem a tal ritmo, sob pena de se extinguirem.
A grande extinção que acabou com os dinossauros, há 65 milhões de anos, deveu-se ao choque de um asteróide com a Terra.
Outra grande extinção anterior, ocorrida há 250 milhões de anos  pode ter sido causada pelos baixos níveis de oxigênio na atmosfera, pelo aquecimento global de então ou por um infer nal envenenamento do ar com o enxofre proveniente dos vulcões. Desta vez, a atividade humana está na origem da catástrofe da extinção de espécies e das mudanças climáticas.
Na evolução biogeológica da terra se sucederam várias eras: a paleozóica, a mesozóica, a cenozóica.  
Estamos numa dessas transições de uma era para outra, na qual ocorrem mudanças climáticas e extinções em massa de espécies.
Estamos em transição da época recente (iniciada há 10.000 anos) do período quaternário da era cenozóica – iniciado há 1 milhão e  800 mil anos –   para uma nova etapa: a era ecozóica, sob o signo das ecologias.


Viagem no tempo
Nessa transição, juntamente com as milhões de espécies que se extinguirão nas próximas décadas,  a própria espécie humana está ameaçada.
As tendências demográficas indicam que a população se estabilizará em 10 bilhões  em algumas décadas. Mas as catástrofes e as mudanças climáticas introduzem um redutor.
James Lovelock, formulador da teoria Gaia, prevê que estaremos reduzidos a pouco mais de um bilhão de indivíduos no ano 2100. Este é o mesmo número de pessoas que existiam em 1860.
Os avisos e alertas  sobre mudanças climáticas e extinção da biodiversidade já foram dados pela ciência, permitindo desviar, a tempo, dos perigos à frente e adaptarmo-nos às novas situações perigosas. Este é um período de turbulências na aventurosa viagem da espécie humana na evolução.
Ao entrar nesse trecho turbulento da viagem, recomenda-se apertar os cintos, redobrar a atenção; quem tiver fé, precisa rezar com fervor; quem tiver conhecimentos, deve demonstrar perícia e toda a habilidade na pilotagem da nave Terra. Todos precisam fazer o melhor do que sabem fazer.
Juntamente com o bacalhau e com milhões de outras espécies, o futuro do ser humano também está em jogo. É uma incógnita que tipo de ambiente e que espécies emergirão ao final da época atual de mudança de era.
Nossa espécie de seres em transição, tanto pode ser incapaz de se adaptar às novas condições climáticas e ambientais e  sucumbir, como pode adaptar-se a elas, evoluir para uma nova espécie e sair melhorada e amadurecida ao final dessa época turbulenta.
Pode passar a auxiliar, conscientemente, a produzir o am-
biente e o clima, tornando-se efetivamente co-gestora e co-piloto da evolução.