Dilema da agricultura na Amazônia

26 de agosto de 2008

O cultivo da nova área se seguia por alguns anos até que o nível de fertilidade tornasse a produtividade antieconômica. A área esgotada poderia ter, então, um de dois destinos: transformada e pastagem ou deixada em pousio para o desenvolvimento da capoeira. Alguns anos depois na área em pousio, o ciclo desmatamento – lavoura –… Ver artigo

O cultivo da nova área se seguia por alguns anos até que o nível de fertilidade tornasse a produtividade antieconômica. A área esgotada poderia ter, então, um de dois destinos: transformada e pastagem ou deixada em pousio para o desenvolvimento da capoeira. Alguns anos depois na área em pousio, o ciclo desmatamento – lavoura – se reiniciaria, mas a terra em nível de fertilidade bem abaixo do primeiro desmatamento. Em seguida ao primeiro desmatamento, as pastagens costumavam também ser uma opção. Esgotadas as terras de uma região, a agricultura migrava para outras regiões de matas, em busca da fertilidade das terras virgens. Assim é e foi a agricultura itinerante que desprezou os cerrados em vista de ser o nível de fertilidade natural incompatível com as lavouras e pastagens plantadas.A agricultura itinerante foi o padrão de agricultura no mundo todo até o começo do século vinte e no Brasil, no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, até a década de 60. Ou seja, a agricultura é toda ela baseada na derrubada-fogo-lavouras-pastagens, deixando para traz terras esgotadas. Em resumo, a tecnologia da agricultura é descrita pelo machado, foice e fogo. Fogo para remover o entulho deixado pela derrubada e fogo para queimar as coivaras, quando do preparo do terreno em terras já usadas. Quando a terra é muito fértil, as culturas podem permanecer por um período muito longo. Em terras pouco férteis, caso da Amazônia – mas lá a exceções importantes, logo a terra é esgotada Este tem sido o padrão da agricultura da região da Amazônia. Nas condições atuais, na grande maioria de suas regiões, a tecnologia do fogo-machado-foice- é imbatível, quanto ao custo de produção. Continuará assim ser até que se ofereça uma tecnologia alternativa, como ocorre no momento no Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Qual é a tecnologia alternativa à do machado-foice-fogo? A das máquinas, equipamentos, fertilizantes defensivos e sementes melhoradas. Com ela, se recuperam as áreas empobrecidas, e se reduz substancialmente a pressão sob novas áreas. Esta tem sido a história da agricultura moderna, fundamentada em economizar terra e trabalho. Porque ela não é adotada na região amazônica? Porque os preços dos insumos modernos são lá muito elevados, e em vista disto a tecnologia alternativa, a itinerante, é mais barata. Se não for removido este obstáculo, a tecnologia itinerante continuará reinando, sem competição. Discutir alternativas para a região Amazônica, que reduzam o desmatamento e recupere as terras empobrecidas, sem discutir como remover os obstáculos que impedem o acesso dos agricultores a calcário, fertilizantes, defensivos, máquinas e equipamentos é perda de tempo.
 É possível importar estes insumos da Ásia e África. Surge o problema da dimensão da importação. No caso de fertilizantes, custos menores são obtidos pelo uso de navios de grande porte. Alega-se que não existe tamanha demanda. Resolvido o problema da importação, segue-se o problema da distribuição e do financiamento dos agricultores. Todos eles complicadíssimos, mas não insolúveis.
Quer-se na região amazônica uma agricultura que economize terra com a finalidade de reduzir a pressão de desmatamento e recuperar as terras degradadas. A recuperação das terras empobrecidas pode ser feita com o pousio, mas a solução é inviável, pois equivale à retirada da população do meio rural. Sem a recuperação das terras empobrecidas o avanço da agricultura sobre a floresta é impossível de ser contido, pois assim é e sempre foi a agricultura itinerante. O dilema é claro: ou agricultura itinerante ou agricultura moderna. Em outros termos, fogo ou agricultura moderna?
 Deste modo, todo plano sério para preservar a floresta e recuperar áreas empobrecidas terá um capítulo totalmente dedicado a calcário, fertilizantes, máquinas e equipamentos, considerando-se preços competitivos, logística de distribuição, financiamento e treinamento dos agricultores.