O LIVRO DO ANO

26 de agosto de 2008

Imenso, belo e profundo. Esta é a impressão definitiva sobre o livro “Águas Emendadas”, lançado dia 12 de agosto, data de aniversário da unidade de conservação. O Governo do Distrito Federal, pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, publicou uma obra à altura do lugar. O livro reúne uma série de artigos científicos, fotos… Ver artigo

Imenso, belo e profundo. Esta é a impressão definitiva sobre o livro “Águas Emendadas”, lançado dia 12 de agosto, data de aniversário da unidade de conservação. O Governo do Distrito Federal, pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, publicou uma obra à altura do lugar.
O livro reúne uma série de artigos científicos, fotos e impressões pessoais sobre a Estação Ecológica. Foi um dos raros momentos em que a ciência e a arte se juntaram para celebrar o meio ambiente. A história do lugar, as pesquisas científicas, a fotografia de animais e plantas, constituem um conjunto literário que agrada aos cartesianos e aos sonhadores. Os articulistas do livro foram mais que cientistas, foram artistas, porque fizeram uso da sensibilidade para reunir os textos herméticos dos pesquisadores com a prosa quase coloquial de historiadores como Paulo Bertran. A obra traduz o complexo nascimento burocrático da área. A diagramação é moderna, leve. A fotografia e os infográficos, mesmo quando tratam de questões complexas, também se constituem arte. São 540 páginas de boa degustação para quem gosta de meio ambiente.
Os maiores méritos da obra vão para o organizador, Fernando Oliveira Fonseca, e os editores, Paulo César Magalhães Fonseca, Marta Maria Gomes de Oliveira e, novamente, Fernando Fonseca.
Ah, sim, “Águas Emendadas” não é a primeira obra desta equipe. Antes eles já haviam feito dois outros livros: um sobre o “Lago Paranoá” e outro sobre a APA do Cafuringa, em Sobradinho.
As três obras sustentam um bom nível de qualidade.
O livro é completo. Ele conta a história política, ecológica e até afetiva da estação ecológica; trata do Cerrado, o bioma onde está inserido; cita as atividades que desenvolve; os estudos feitos sobre fauna, flora, solo, clima e, inclusive, sobre o surgimento do fenômeno das águas emendadas. Tudo isso enriquecido com boas fotografias.
“Aguas Emendadas” é um livro especial que vai cativar ambientalistas, cientistas, poetas e sonhadores. Enfim, todos os amantes da natureza.


Preservar, conhecer e ensinar


A tarefa não é fácil. Águas Emendadas está cercada pelos vizinhos humanos e suas práticas. Boas e más. Do lado Norte, ela tem um aglomerado urbano em formação; pelo Sul, mais gentes e casas; ao Leste, se planta grãos (soja e milho) em grandes extensões; no Oeste, mais propriedades rurais.
A pressão da expansão urbana (loteamentos) implica em problemas humanos e de sociais e ecológicos – moradores da região tinham por hábito invadir a reserva para caçar, queimar, pegar lenha. Até os cachorros gostavam de caçar lá dentro. A agropecuária extensiva gera erosão do solo, contaminações por agrotóxicos e fertilizantes químicos, dispersão de sementes exóticas. Plantas invasoras estão lá dentro da reserva: gramíneas como os capins brachiara (Brachiaria spp), gordura (Melinis minutiflora Beauv) e o andropogon (Andropogon spp); mangueiras; três espécies de bambu, pelo menos; eucaliptos.  As linhas de pesquisa desenvolvidas na estação, por sua vez, tratam de monitoramento de fauna e flora; efeitos do fogo sobre o cerrado, funcionamento de ecossistemas, dinâmica de comunidades e populações, balanço de carbono e mudanças climáticas. A educação ambiental é uma prática que toma como foco os princípios do construtivismo. Na reserva funciona o Centro de Informação Ambiental, inaugurado em 1996. As escolas de ensino médio e fundamental da região – professores e alunos – estão integradas ao projeto. Aqui se trabalha com a concepção moderna de “reeditor social” (a pessoa que tem público próprio), utilizando as artes plásticas, música, dança, teatro, escrita, fotografia e vídeo. Os professores, em especial, participam das “trilhas monitoradas de educação” (ao percorrem as trilhas da reserva, aprendem e ensinam). A educação ambiental inclui as oficinas de artes itinerantes, quando alunos e professores lidam com argila, jornal, pigmentos naturais, grafite e outros materiais. A arte, mais uma vez, educa.


Fotos: Carlos Terrana


Pesquisadores em atividade de campo para proteção e acompanhamento do Lobo-Guará, uma espécie em extinção.


 


 


O equilíbrio entre animais e plantas


Em Águas Emendadas os pesquisadores estão identificando os animais que vivem na estação ou dela fazem moradia ou fonte de alimentação. Já foram registradas 67 espécies de mamíferos, ou 1/3 do total que existe no bioma Cerrado.  Há registros de sete espécies ameaçadas de extinção: tatu-canastra, tamanduá-bandeira, lobo-guará, morceguinho-do-cerrado, suçuarana, jaguatirica e rato-do-mato (Kunsia fronto) – espécie de roedor raríssimo no País. 
Os bichos são muitos na estação. Morcegos, foram identificadas 17 espécies; roedores (ratos silvestres, cutias, capivaras…); marsupiais (que levam os filhotes na bolsa como os cangurus), caso do saruê ou gambá, são abundantes; lá também tem a onça parda, gato-do-mato-pintado, raposa-do-campo; quatis, gauxinins e lontras. Nas matas de galeria foram vistas as três espécies de primatas mais comuns do Cerrado: sagüi-do-cerrado, macaco-prego e bugio.  Mas, cuidado onde pisa, répteis também são abundantes.  A lista é muito grande: calango, teiú-vermelho, cobra falsa-coral e jararaca; ainda raridades como a sucuri, cobra-dágua, jacaré-coroa.  As aves também se constituem numa grande coleção, morando ou de passagem por lá. São os psitacídeos (maracanã, periquito, papagaio, arara), beija-flores, gaviões, garças, sanhaços, corujas e a bela seriema, entre tantas.  Quanto às plantas, só de gramíneas foram identificadas 171 espécies, 15 delas são invasoras. Frutos e flores do cerrado: pequi, cagaita, peroba, jatobá, araticum, lobeira, cajuzinho do cerrado, guarantã, sucupira, catuaba, mamacadela…
Plantas medicinais, decorativas  e comestíveis existem aos montes. Ainda bem!